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Agonia e êxtase

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Ponto de vista

Agonia e êxtase

Existem vários diretores de comerciais que quase levaram à falência as produtoras nas quais trabalhavam. São famosos pela lentidão.


28 de agosto de 2014 - 9h39

Aprendi, quando jovem diretor, com meu amigo (também jovem) e grande diretor Olivier Perroy que durante sua estadia no Japão descobriu com seu velho mestre em fotografia: “A diferença entre o amador e o profissional é que o amador só consegue trabalhar em condições ideais, já o profissional consegue imprimir qualidade ao seu trabalho, mesmo pressionado por limitações de prazo e dinheiro”.

Isso me fez lembrar do clássico filme com o ator Charlton Heston fazendo Michelangelo. Preocupado com o legado que deixaria para as gerações futuras, o Papa Júlio II (Rex Harrison) resolve contratar Michelangelo (Charlton Heston) para pintar o teto da Capela Sistina. O artista se nega, mas logo é forçado pelo pontífice a fazê-lo. A partir daí, começam as disputas entre Michelangelo e o Papa a respeito do atraso do projeto.

E me remete também a Clint Eastwood, que rodou em uma noite uma cena que Don Siegel, seu mestre e diretor (que ficou gripado), levaria uma semana para filmar. Era uma cena crítica envolvendo um pulo suicida no filme Perseguidor Implacável (1971).

Nos dias de hoje, à medida que a profissão nos obriga a sermos ágeis e baratos, não se ‘faz a mesma coisa com os departamentos de marketing e planejamento. Eles continuam cada vez mais lentos e burocratizados, desperdiçando meses e dinheiro e deixando apenas 15 dias para todo o processo de produção do comercial, incluindo as longas reuniões e pesquisas. Já sabemos que a pressa passa e a merda fica, mas o nível de exigência continua a ser americano ou europeu.

Ok, há anos que venho treinando e me condicionando a ser um profissional cada vez mais rápido e econômico. Creio que com até mais facilidade, pela experiência, que a garotada. Existem vários diretores de comerciais que quase levaram à falência as produtoras nas quais trabalhavam. São famosos pela lentidão.

Isso tem um limite, claro. Embora a propaganda não seja arte pura, é arte aplicada, artesanato. E isso requer mais tempo e dinheiro.

Como disse Don Draper em um dos episódios de Mad Man (série coproduzida pelo lendário Bob Levenson – DDB) que se passa na década de 60: “Todo comercial deve parecer cinema em seus primeiros segundos para prender a atenção do espectador”. Para não ter cara de “reclame” ele queria dizer, com certeza.

 

Vejam, por exemplo, o comercial do L’Odyssée de Cartier (assista mais abaixo o filme e o making off), dirigido por Bruno Aveillan. Demorou dois anos para ser produzido e foi rodado em 4 países diferentes. Imaginem quanto custou. Claro que não é um comercial para TV aberta, pelo seu tempo de duração. Mas aí eu pergunto: será que o telespectador que grava seus programas prediletos para assistir mais tarde, vai zapear ao ver as primeiras cenas desse filme?

Resumindo: planejamento + ideia + prazo + dinheiro = obra prima!

Aqui, na publicidade do terceiro mundo, a agonia continua e aumenta a cada dia que passa. E cada vez mais com menos êxtases.

Julio Xavier é diretor da BossaNovaFilms

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