As 5 verdadeiras razões pelas quais os brasileiros vão à Cannes
O grande trunfo é que essa pequena viagem de negócios separa os escravos comuns dos eleitos da camada executiva de uma agência
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Meio & Mensagem
5 de junho de 2014 - 12h04
(*) Por André Matarazzo
1) Status e comprinhas
Pois é, dizer que temos uma viagem importante de negócios logo ali, no sul da França em “Kânis”, traz status. Muito status. Podem dizer o que quiserem: que nesse bolo tem gente que já foi 20 vezes, que entre nós há milionários que têm até casas na Côte D’Azur, não importa.
O grande trunfo de ir a Cannes é o status que essa pequena viagem de negócios representa. Ele separa os escravos comuns dos eleitos da camada executiva de uma agência.
E com os preços exorbitantes dos bens de consumo no Brasil, não é nenhum espanto encontrar hordas de brasileiros entupindo a Rue D’Antibes e saindo carregados de sacolas da H&M, Sefora e daquelas camisas pólo todas bordadas com a famosa faixa de miss atravessada no peito indo para o hotel, numa procissão ida-e-volta bem Paraguai 1985.
Não acho nada mal dar uma passadinha nas lojas, mas os brasileiros fazem programações. São capazes de perder os melhores palestrantes do mundo para comprar calcinhas ou, ainda pior, perder um rosé free no stand do Google, fofocando dos outros publicitários ao redor.
2) Festança
Nós vivemos dentro de um mundo extremamente estressante. Clientes que nos telefonam como se seus filhos estivessem numa mesa de operações, com o cérebro exposto, esperando por um neurocirurgião que ainda não chegou. Fornecedores que se chocam com as frustrações mais comuns do dia-a-dia.
Estar em Cannes é celebrar (provavelmente durante o estupor de bebedeira constante) o mundo da publicidade. A cidade fica em polvorosa, com mais de 12 mil pessoas falando dos mesmos assuntos, com as mesmas ansiedades, fingindo que entenderam tudo o que está acontecendo sem entender nada, exatamente igual a você! É uma festa.
“Você já tem o convite da festa X? Não? Pena, porque acabou. Mas eu consigo te por pra dentro porque conheço Y”. Nós todos voltamos a ser adolescentes em busca de aprovação, de pertencimento, da chance de resvalar no brilho das estrelas presentes.
Há quem diga que o Festival de Criatividade de Cannes equivalente às Olimpíadas. Sinto muito, mas não. O Festival de Cinema (ci-ne-ma) de Cannes, que acontece um mês antes, vá lá. O nosso, de publicidade, é, no melhor dos mundos, a Paraolimpíada: um mês depois, quando a mídia mundial já não está mais presente. Por favor, guardemos as verdadeiras proporções.
É engraçado sair na rua e perguntar para um francês em férias o que está acontecendo na cidade. Ele não tem a menor ideia. Posso garantir que se fosse o festival de cinema, ele saberia.
3) Networking
Ok, agora entramos no que realmente importa. Cannes é a festa do networking. Você finalmente sai do ambiente abrasivo de uma corporação e encontra publicitários e clientes embriagados, tostados de sol e com o bucho cheio de escargot, com propensão à finalmente abrir o coração e falar algumas verdades.
O deprimente é descobrir que aqueles seus amigos publicitários que parecem tem a vida tão organizada e com tanto dinheiro no bolso estão, na verdade, loucos para achar um novo emprego, e aquele cliente que vai aprovar a grande campanha de 2014 está de saco cheio, deprimido, se sentindo achacado pelo seu chefe.
Existe uma fantasia sedutora de que vamos eventualmente nos sentar à mesa com Martin Sorrell, ou trocar algumas palavras com as celebridades que foram convidadas para tornarem as palestras menos monótonas. Só que muito pelo contrário.
O que acaba acontecendo é que você não têm acesso àqueles que realmente interessam. Cannes é extremamente estratificado socialmente. E se tirou a sorte grande de encontrar alguém que pode de fato alavancar seu negócio ou carreira, aconselho raptá-lo imediatamente.
As pessoas que importam de fato são abordadas 10 vezes por minuto. Poder e influência é o motor do mundo da publicidade, portanto vá treinando sua falta de vergonha na cara, lábia e charme. Se tudo falhar, tente algum avanço mais sensual-desavisado com a desculpa que essa é a essência brazuca: às vezes funciona.
4) Inspirar-se com os trabalhos
O ambiente de Cannes é realmente inspirador. Sempre que me perguntam se vale a pena ir, eu respondo que vale, se você quiser levar um chute na bunda e sair se sentindo um completo imbecil incompetente (o que teoricamente o faria voltar pra casa e trabalhar ainda mais – cuidado com a úlcera).
Você pode argumentar que os melhores projetos do mundo estão na web a qualquer momento, e é verdade. O problema é que nunca tiramos tempo para nos banhar completamente em novas ideias, e estar em Cannes é assim: por onde você olha existem insights para se tirar. Os papos são todos a respeito de campanhas e novas direções da publicidade. Também se fala muito sobre sexo, mete-se muito o pau em outros publicitários, mas isso normalmente não é suficiente para tirar o foco.
Pena que o grande vilão dessa imersão fenomenal é o sol. Ok, o sol, a praia, as beldades do calçadão, as festas, os drinks, as comprinhas e o famoso status.
Se afogar nos melhores trabalhos do ano leva tempo e perseverança. Os trabalhos ficam expostos no subsolo do Palais, num monte de computadores ou pôsteres numa salona aberta com cara de firma de contabilidade. Há quem já foi dezenas de vezes e nem sabe onde isso fica.
5) Inspirar-se com as palestras
Francamente, as palestras são óbvias. Para aqueles que pensam por si só, que estão antenados aos grandes movimentos da comunicação e seguem pelo menos um pouquinho os desenvolvimentos de novos produtos e serviços – as palestras são de dormir. Especialmente com muito rosé na cabeça, ar-condicionado a mil, meia-luz e palestrante monotônico.
90% do que se discute é o óbvio – os outros 10% são autocongratulações e mostrança de portfólio próprio. A grande maioria das palestras ou workshops são muito ensaiadas e sem grandes novos insights. Acho que todos se preocupam tanto com a atenção recebida em Cannes que sugerem apenas o óbvio, para não cometer nenhum faux-pas.
O grande valor desses momentos é sentar-se com aquele seu cliente que detêm total poder sobre a direção de uma marca mas não sabe de nada e expô-lo a todo esse mundo de palestras com insights óbvios, mas de suma importância para o negócio dele.
Existe um link mais do que comprovado entre criatividade e eficácia, e não custa segurar na mão do seu cliente nesses momentos no escurinho das salas de exibição e lembrá-lo disso enquanto ele recebe o sermão da montanha.
Não conheci um cliente que não participou desse rega-bofe por uma semana e não voltou aprovando todos aqueles projetos que estavam na gaveta e passou a criar briefs com as palavras “surpreenda-me” e “mudar o mundo” polvilhadas por todos os lados.
Ao final, Cannes é realmente uma imponente festa. Para quem nunca foi, vale ir? Sim. Para quem já foi, vale ir ano após ano? Não, a não ser que você realmente esteja muito interessado nos itens 1 e 2 dessa lista.
(*) André Matarazzo é diretor de criação, atuou na SapientNitro Miami e Side Lee Amsterdã e fundou a Gringo, comprada pelo WPP em 2011
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