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Flying Spaghetti Monster

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Ponto de vista

Flying Spaghetti Monster

Por que estamos aqui falando de um assunto que parece não interessar a quase ninguém? Talvez porque já passou da hora de aprendermos a olhar todos os lugares


13 de julho de 2015 - 9h08

O Monstro de Espaguete Voador é a divindade da Igreja do Monstro de Espaguete Voador ou Pastafarianism, uma reação crítica à proposta dos criacionistas americanos de instituir no currículo das escolas públicas o ensino do Intelligent Design – considerado por muitos uma pseudociência que busca contornar a legislação que proíbe o ensino do criacionismo como ciência.

Nos EUA, a discussão sobre o ensino da teoria evolucionista (considerada uma teoria científica) versus o ensino da teoria criacionista (considerada uma teoria baseada na fé) é um assunto sério, abordado em centenas de artigos, documentários e vídeos usados para promover diferentes pontos de vista. Um assunto sério satirizado por Bobby Henderson, um professor universitário do Kansas, em uma carta aberta escrita em 2005 para protestar contra a decisão do Conselho de Educação do Estado do Kansas de permitir o ensino do Design Inteligente como alternativa ao ensino da Teoria Evolucionista nas escolas públicas.

Assumindo uma posição, Henderson terminou iniciando um movimento com milhares de seguidores no mundo todo: a Igreja do Monstro de Espaguete Voador. Em 2011, Niko Alm, um austríaco que se define ateu, resolveu fazer um ponto político  a respeito de uma legislação que em seu país permite o uso de chapéus ou outros artefatos cobrindo a cabeça, em fotos oficiais, apenas por razões religiosas. Niko se posicionou contra o que considera um privilégio se declarando adepto da Igreja do Monstro do Espaguete Voador e publicando na internet uma versão de sua carteira de motorista onde aparece usando um escorredor de macarrão na cabeça.

Por que estamos aqui falando de um assunto que parece não interessar a quase ninguém? Talvez porque já passou da hora de aprendermos a olhar todos os lugares. As teorias gerais que fundamentam o nosso negócio se baseiam no entendimento apenas da maioria, ou apenas do que consideramos à prova de qualquer polêmica. Verdade, isso sempre foi verdade, mas a todo instante acontece algo que nos ensina que isso não faz sentido o tempo todo.

Há algumas semanas, a aprovação da legislação que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo nos Estados Unidos deixou visível o que muita gente ainda não percebeu: continuamos tomando decisões a partir dos mesmos modelos de investigação e análise que usamos para ignorar que homens e mulheres têm se relacionado com o mesmo sexo há milhares de anos. Estamos fazendo isso em relação ao homossexualismo, ao racismo, à mulher, à pobreza, à periferia, à arte, à música, à mobilidade urbana, à ocupação do minhocão, ao comércio de M’Boi Mirim. Precisamos de novos métodos de investigação e análise, métodos que nos ajudem a mudar de perspectiva, que nos ajudem a contrariar o status quo quando isso estiver alinhado ao que acreditamos.

Milhares de pessoas usam o Monstro de Espaguete Voador para falar de um tema polêmico: a existência de nenhum, um ou vários deuses. Um assunto que nunca vai ser resolvido pela maioria.

Milhões de pessoas no mundo inteiro são homossexuais há anos e ainda estamos esperando esse assunto ser considerado “normal” ou relevante pela maioria para assumirmos uma posição.

Talvez faça sentido.

Assumir uma posição obriga o outro a fazer o mesmo e isso sempre tem uma consequência, da qual podemos não gostar. A Benneton assumiu posições a respeito do racismo, do homossexualismo e da Aids. No trabalho desenvolvido por Oliviero Toscani nos anos 90, em vários momentos, a marca foi duramente criticada no mundo todo.

Em 2000, no Brasil, a Fiat colocou no ar um filme onde duas mães se apresentavam como pai e mãe de uma criança durante uma reunião de pais na escola além de outros que usavam temas polêmicos como o racismo e a discriminação social para falar que as pessoas estavam adotando novos conceitos e também, não agradou todo mundo. Me lembro que durante os grupos de discussão que fizemos para ajudar a desenvolver a campanha, algumas mães se levantaram para dizer que a Fiat não tinha o direito de obrigá-las a falar com seus filhos sobre homossexualismo durante a novela das 8.

Há alguns meses a Natura foi criticada nas redes sociais por seu merchandising na novela das 8 da Globo que tinha um casal gay em seu núcleo principal. Foi ameaçada com um convite para que os consumidores não comprassem seus produtos e manteve sua posição de marca que apoia a diversidade, o mesmo aconteceu em seguida com O Boticário que mostrou casais heterossexuais e homossexuais em seu filme de Dia dos Namorados.

Benetton, Fiat, Natura, Boticário. Decisões que não teriam sido tomadas se apenas a maioria tivesse sido considerada.

Há algumas semanas, 2% dos usuários do Facebook se posicionou positivamente a respeito do casamento gay usando o arco-íris sobre seus avatares. Milhões de pessoas no mundo inteiro, consumidores e usuários de marcas globais que viram algumas de suas marcas favoritas assumirem uma posição com a qual nem todos vão concordar. Isso vai continuar acontecendo todos os dias: cada vez mais pessoas e, consequentemente, marcas, vão escolher assumir posições a respeito de vários temas que até então foram considerados tabus e isso pode acontecer antes que a maioria se defina. Não custa lembrar: posições que não materializem crenças, valores e propósitos claros correm o risco de serem vistas como atitudes oportunistas e oportunismo não gera vinculo.

As poucas 27 marcas que apoiaram o casamento gay nos Estados Unidos assumiram uma posição que já era a posição da maioria da sociedade há 4 anos. Isso não tira, de nenhuma forma, o mérito delas, mas é algo importante de ser observado. Várias dessas marcas não terão nenhum problema em mostrar coerência entre o que essa posição significa e a forma com que elas se comportam no mundo todo em relação ao casamento entre funcionários do mesmo sexo, ou a planos de saúde para casais do mesmo sexo. Outras provavelmente irão rever seus valores. Algumas talvez se descubram incapazes de falar a respeito mais do que já fizeram.

No final do ano passado, 7 mil dos 20 mil alunos de Harvard iniciaram um processo para pressionar a universidade a parar de usar seu fundo de investimento, formado em grande parte pela doação de ex-alunos, para investir em empresas de gás e petróleo, sob a alegação de que isso contribui para piorar a situação do planeta. Harvard tem um fundo de investimento de US$ 36,4 bilhões. Se fosse um país, seria a 90ª economia do mundo.

Assumir posições exige significado e coerência. Precisamos nos perguntar qual o propósito das marcas que ajudamos a construir. Propósitos não devem ser tratados como mensagens publicitárias, eles devem representar o motivo pelo qual as marcas vivem todos os dias, o motivo pelo qual perguntas diferentes das habituais são feitas, decisões diferentes das previsíveis são tomadas e permitem a criação de produtos, serviços e ideias que surpreendem e ajudam a tirar o mundo do lugar comum.

É verdade, precisamos de novos métodos de investigação e análise, mais que isso, precisamos de novas posturas e paradigmas que nos façam parar de repetir ou agradar a maioria. Dificilmente algo novo, surpreendente ou revolucionário sairá do senso comum.

Definitivamente, mais do que em qualquer época, precisamos considerar todas as possibilidades, fazer escolhas e assumir posições. Não deveria ser tão difícil, afinal, isso é estratégia.

Ana Cortat é chief strategy officer da Pereira & O’Dell
 

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