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O que não fazemos por paixão?

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Ponto de vista

O que não fazemos por paixão?


24 de outubro de 2013 - 10h30

No mês passado tive a oportunidade de participar do Zeitgeist Americas, um evento que o Google organiza uma vez por ano nos Estados Unidos. Foi uma experiência inesquecível. Recomendo a quem um dia puder ir não perder a chance por nada.

O universo da tecnologia traz novidades frequentes, e muitas empresas nos surpreendem com sua capacidade constante de inovar, mas o que mais me chamou a atenção no evento foi a capacidade que o Google teve de reunir um número tão grande de pessoas absolutamente geniais, apaixonadas e inspiradoras num lugar só. A cada nova palestra, eu ficava ainda mais admirado com o que algumas pessoas são capazes de fazer e com sua capacidade transformadora quando há talento, paixão e comprometimento.

Eric Schmidt, presidente do Google, abriu o evento dizendo que a tecnologia sempre foi a principal fonte da evolução humana. Tristemente, as principais impulsionadoras da tecnologia têm sido as guerras, mas talvez a conectividade possível graças à internet acabe produzindo a primeira grande revolução pacífica da historia humana. Hoje não precisamos mais aceitar que alguns problemas não têm solução. Trabalhando juntos, com uma visão clara e com dedicação, podemos resolver praticamente qualquer problema.

Daí em diante, uma série de apresentações fizeram com que eu sentisse verdadeiro orgulho do que somos capazes de fazer quando acreditamos nas coisas certas.

O redator Jon Lovett, roteirista de seriados de TV e, no passado, responsável pelos discursos do presidente Barack Obama, falou sobre a falta de confiança que as pessoas comuns têm no governo, nas corporações e nas mais variadas instituições, e sugeriu que precisamos de um renascimento da integridade. Segundo Lovett, hoje, dizer a verdade é a melhor estratégia e, coincidentemente, é também a coisa certa a fazer.

Chris Fischer, que luta contra a extinção dos tubarões, responsáveis por manter o equilíbrio dos oceanos, falou que tudo é possível quando você não se importa com quem vai levar os louros por algo bem feito. O educador Freeman Hrabowski explicou que, para uma criança, é mais importante aprender a ter autoconfiança do que aprender a competir e ganhar dos outros. Bertrand Piccard e André Borschberg, que estão desenhando um avião capaz de voar 24 horas por dia, ininterruptamente, graças à energia solar, falaram da importância de aceitar que não temos controle absoluto sobre as coisas ou sobre os nossos destinos. Às vezes, precisamos simplesmente abraçar o presente e pilotar as situações da melhor forma possível.

Outras apresentações mostraram as realizações de inovadores maravilhosos como o Doutor Carl June, que está encontrando uma cura para o câncer utilizando uma versão geneticamente modificada do vírus HIV que ataca só as células de câncer, sem gerar efeitos negativos no paciente. Ou Ron Finley, habitante de um bairro pobre do sul de Los Angeles, que teve a ideia de começar a plantar hortas em qualquer espaço verde inutilizado da cidade, deixando-a mais bonita, envolvendo outros moradores no cuidado dos espaços, servindo de escola de agricultura para as crianças carentes e, ainda, produzindo comida para as pessoas do bairro. Ou Elif Bilgin, uma menina turca de 16 anos que desenvolveu uma forma de produzir plástico biodegradável reaproveitando o lixo orgânico. Ou Taylor Wilson, que, aos 14 anos, foi a pessoa mais jovem a produzir fusão nuclear e, hoje, aos 16, está dedicado à resolução da séria questão energética mundial.

Enfim, a lista segue e, a cada apresentação, eu percebia com mais clareza a imponência da capacidade humana quando enxergamos um significado verdadeiro no que estamos fazendo. Aí me volto para a realidade diária da nossa querida indústria “criativa”, dos desafiadores de regras, dos magos da inovação. Gente, temos tanto a repensar e reaprender….

Em algum ponto no caminho, pegamos uma curva errada e fomos parar no meio do nada. Perdemos faz tempo o direito de nos autodenominarmos inovadores. E não é por falta de inteligência ou ambição. Temos bastante talento na nossa indústria e ainda, às vezes, atingimos momentos mágicos. Mas acho que nossas motivações, crenças, nossa integridade, humildade, a consideração ao próximo e o nosso sentido de comunidade vêm se desintegrando faz tempo. No fundo, parece que muitos publicitários não acreditam mais no que fazem, não enxergam mais a relevância do seu trabalho.

Precisamos reconstruir uma autoestima verdadeira, não aquela baseada em resultados manipulados ou prêmios falsos. Precisamos sentir de novo o orgulho de prestar serviço, de ajudar um cliente a fazer bons negócios. E, para fazermos bons negócios, não podemos deixar que o lado executivo fale mais alto do que o lado contador de histórias, pois esse é o DNA da nossa indústria. Precisamos acreditar que, com criatividade, se atinge melhores resultados e que cada boa história que contamos deixa o mundo um pouco mais mágico e bonito. A fama, o sucesso e o dinheiro são apenas consequências. Uma visão romântica? Pode ser. Mas, assim como na vida, só por paixão é que tomamos certas atitudes capazes de mudar o curso da história, seja ela pessoal, seja ela profissional. 

Martin Montoya, presidente da WMcCann

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