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Opinião

Sua agência está preparada para a Open Talent Economy?

Novas dinâmicas de trabalho fundadas na flexibilidade desafiam modelos engessados de contratação


5 de agosto de 2021 - 14h00

Até há alguns anos, a contratação de talentos costumava seguir um modelo previsível e com poucas incertezas. Embora tradicionalmente as empresas se concentram em contratar talentos full-time dedicados exclusivamente à elas, diversos fatores estão redefinindo as formas de se trabalhar e de gerenciar talentos.

Estamos adentrando a era da Open Talent Economy. Isso quer dizer que estamos construindo uma diversidade de maneiras de trabalhar, mais livres e autônomas. Isso vai muito além da procura de empresas por freelancers, são mudanças estruturais cujas raízes se encontram tanto na vida pessoal quanto nos anseios profissionais das pessoas.

A pandemia do Covid-19 acelerou processos que já estavam em curso, como o regime de home office e maior resiliência das empresas na redução e expansão de suas equipes conforme a demanda de projetos, mas também fez surgir questionamentos sobre produtividade, satisfação no trabalho e a verdadeira importância do tempo e vivências pessoais.

Indicadores mostram uma onda recorde de pedidos de demissões nos EUA, mesmo frente a um alto percentual de desemprego e ao aquecimento da economia. Ao mesmo tempo, desde 2019 o mercado freelancer cresce 3 vezes mais rápido que a força de trabalho total e, durante a pandemia, estima-se que cresceu 32% só no Brasil. No mercado criativo, profissionais relatam que o modo de trabalho tradicional acabou se tornando insustentável, pois não permitia vivências que agora viraram prioridade – como, por exemplo, novas experiências em projetos distintos; controle flexível e independente de suas agendas; proximidade com a família, etc. Também foram muitos os casos de burn out por causa do excesso de trabalho durante a pandemia, fazendo com que os profissionais repensassem as suas trajetórias profissionais.

O cenário que se apresenta é de talentos com grande formação educacional e muitas habilidades – desde técnicas até pessoais – que desafiam práticas de trabalho engessadas ao mesmo tempo que têm muito a contribuir. Por escolha, tais profissionais não se ligam mais somente a um empregador, mas a quantos quiserem e, mais importante, se conectam a culturas empresariais que façam sentido com seus valores pessoais. Empresas que não se educarem quanto às novas formas de trabalho flexíveis podem não conseguir aproveitar o potencial dos talentos que já adotam essa nova dinâmica de mercado.

Porém, não são somente empresas que precisam se modernizar. O Estado brasileiro também precisa incentivar mudanças em prol de políticas que atendam essa população crescente de talentos. Tradicionalmente, empresas eram responsáveis pela segurança e maior bem-estar social de seus empregados via CLT através de seguro-desemprego, aposentadoria e plano de saúde, por exemplo. Encontrar meios de oferecer maior suporte para esses profissionais é imprescindível para o crescimento desse mercado.

Nos Estados Unidos, mais de um terço da força de trabalho se enquadra como freelancer, economia que já representa 1.2 trilhões de dólares e que está em plena expansão. Segundo pesquisa da Upwork, 75% dos profissionais independentes nos EUA ganham o mesmo ou mais do que ganhavam em seus empregos tradicionais, demonstrando o quão valorizada é a categoria, e 58% dos trabalhadores que estão hoje em trabalho remoto, mas não são freelancers, dizem considerar esse modo de trabalho para o futuro.

Mesmo com políticas trabalhistas mais flexíveis que as brasileiras, a economia americana está sendo beneficiada pelas políticas do governo em reação ao Covid-19. Além de estímulos ao consumo da população, investimentos públicos também foram feitos para reerguer pequenas empresas e setores mais afetados pela pandemia. Em uma economia largamente baseada em profissionais independentes, tais estímulos beneficiam tanto direta quanto indiretamente a categoria.

O governo da Índia oferece oportunidades para freelancers no programa Digitize India Platform – uma plataforma que almeja acelerar o empoderamento digital do governo e de seus cidadãos. Além disso, também foi criada a India Skills Online, uma rede de ensino de habilidades digitais que qualquer cidadão pode usar gratuitamente para aperfeiçoar seus conhecimentos.

No que tange socorro financeiro a autônomos durante a pandemia, nenhum programa público foi tão eficiente quanto o da cidade de Berlim, na Alemanha. Através de um formulário online, profissionais tiveram acesso a quantias entre 5 a 9 mil euros em poucas horas, sem mencionar os benefícios de ajuda econômica que o governo fornece a cidadãos para o pagamento de aluguéis e despesas com supermercado.

Mais recentemente, as Filipinas aprovaram o Ato de Proteção aos Freelancers que reconhece essa população enquanto profissionais independentes e prescreve diversas normas para as suas contratações – tais como contrato obrigatoriamente por escrito, diferencial de pagamento entre turnos e classificações de periculosidade dos trabalhos. Em 2017, a cidade de Nova York também aprovou uma lei similar, a Freelance Isn’t Free Act.

Esses são exemplos de locais onde a força de trabalho freelancer está em plena expansão e cujos governos reconhecem a importância vital desses trabalhadores para as suas indústrias e economias. Na realidade brasileira, avanços foram feitos nos últimos anos através da regulamentação do trabalho intermitente. Porém, o plano de fundo para tais políticas ainda se baseia no modelo antigo de contratação e, durante a pandemia, nenhuma política pública específica foi direcionada para esse setor.

Mais do que nunca, empresas estão testando movimentos de diminuição dos seus times, recorrendo à freelancers para demais demandas. Para ajudar no desenvolvimento da Open Talent Economy nacionalmente, a Creators – startup que fundei em 2017 e que busca integrar talentos independentes à empresas na forma plug and play – desenvolveu alguns pilares essenciais para se atentar durante a contratação desses profissionais.

A pandemia do Covid-19 acelerou processos que já estavam em curso, como o regime de home office (Créditos: Joseph Frank/Unsplash)

Escopo: talentos autônomos trabalham por projetos. Sendo assim, a descrição do projeto deve estar bem definida, a fim de que todas as partes compreendam o que deve ser realizado, já que o profissional não estará à plena disposição da empresa;

Comunicação e agenda: estruturar um calendário de reuniões de acompanhamento com comunicação direta entre o talento e a empresa se torna vital para o sucesso do projeto. Ambas as partes devem concordar sobre o cronograma de entregas.

Flexibilidade: esse é o maior valor dentro da realidade dos trabalhadores autônomos. A independência de como gerir seu dia a dia é de extrema importância para os freelancers e é necessário que as empresas a compreendam. A base da contratação está na confiança de que o profissional entregará o que foi acordado e a flexibilidade é parte essencial do desenvolvimento do projeto.

Remuneração e contrato: autônomos não contam com políticas de seguridade social que o regime CLT garante aos outros trabalhadores. É natural que esses profissionais, então, recebam maior remuneração do que os contratados full-time. Além disso, todos os termos sobre pagamentos devem estar explícitos em contratos escritos.

Onboarding e offboarding: um projeto será melhor desenvolvido se o contratado compreender os valores da empresa que está o contratando. É preciso criar rituais que gerem vínculos positivos entre freelancers e a equipe com a qual trabalhará. Igualmente importante, o feedback pós entrega do projeto pode gerar insights para aperfeiçoar as relações de trabalho.

É fato que os desafios não são poucos, pois se estabelecem como uma remodelação não somente técnica, mas de cultura empresarial e de relação entre profissionais. Contudo, ao mesmo tempo que exigentes, essas mudanças também são inegociáveis. As novas dinâmicas do mercado já estão dadas e as empresas que as abraçarem terão como fruto relevância perante seus colaboradores e clientes.

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