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Marketing

Opinião: Aos jovens de espírito

A Coca-Cola tem mais de 120 anos e é jovem. A Blockbuster se aposentou com 28


16 de março de 2016 - 11h24

(*) Por Eduardo Tracanella

Toda vez que a minha profissão vai ficando desnecessariamente complicada ou chata demais procuro recordar do que me fez escolher por ela.

É o meu jeito de recontratar minha vontade de continuar fazendo o que eu faço e, sobretudo, uma oportunidade de realinhar ambição e me reconectar com meu propósito.

Nos idos da década de 1990, já me fascinava a capacidade que a publicidade tinha de mudar atitude, construir memória afetiva, fazer parte da conversa e influenciar a cultura popular.

E é exatamente isso que ainda me move.

Hoje, no auge de uma transição, onde a tecnologia amplia as possibilidades e as pessoas nascem consumindo comunicação de um jeito totalmente diferente, eu não acredito em ruptura e sim em convergência.

Digo isso porque a essência continua a mesma. O que temos de fazer continua sendo exatamente a mesma coisa: ser relevante e diferente para virar conversa. Seja num comercial invejável no SuperBowl, seja num banner milimetricamente pouco invejável de programática.

Está na mesa a necessidade de se repactuar os indicadores de sucesso e promover, em nossas organizações, a árdua tarefa de compatibilização geracional. Tem gente jovem demais onde se exige experiência e gente muito experiente onde se exige frescor.

Por um lado, tem gente que trabalhou anos num contexto onde o comercial de televisão resolvia tudo, trabalhando com gente que nem assiste à televisão.

Por outro, tem gente que começou a trabalhar num contexto onde a internet é o centro de tudo, num Brasil onde, ainda hoje, de cem casas, 84 assistem à TV todos os dias.

A beleza disso tudo é que nunca tivemos tantas gerações trabalhando juntas ao mesmo tempo. E essa é uma oportunidade espetacular. O desafio é não se render aos estereótipos e, sim, entender o verdadeiro potencial dessa mistura toda.

Os tempos mudaram. Não se mede mais experiência e jovialidade única e exclusivamente a partir da quantidade de aniversários. Não se trata mais somente de idade formal, mas de idade mental, de jovialidade de espírito. A Coca tem mais de 120 anos e é jovem. A Blockbuster se aposentou com 28.

Criar uma nova proposta de valor é o desafio das lideranças em todos os setores de nosso mercado. A casca de banana é apostar todas as fichas na construção a partir de um puxadinho de algo que deu certo no passado.

Um modelo de atuação diferente, colaborativo, beta, se faz necessário para potencializar a criatividade a partir de diferentes olhares e trazer de volta a relevância de outrora. Quando nos apaixonamos por modismos ou por projetos e, não por resultados, corremos o risco de nos perder (inclusive, de nosso propósito).

No final das contas, a gente vai ter cada vez mais argumento, vai fazer cada vez mais conta, mas, num tempo sem tempo, o que continua fazendo a diferença é ideia boa.

Nota do autor:
Confesso, este mês foi mais difícil do que os outros. Tudo o que eu rascunhei me deu um pouco de constrangimento, pela tamanha falta de relevância diante de tudo o que estamos vivenciando no País. Claro, entendo, esse é meu papel. Trata-se de uma coluna sobre marketing e não sobre política. Aliás, se fosse sobre política certamente não seria eu a escrever aqui. Mas é difícil escrever sem imaginar o estado de espírito do País e das pessoas que vão ler.
Desculpe minha respeitosa irrelevância.
Um abraço

Eduardo Tracanella é superintendente de marketing institucional do Itaú-Unibanco

Artigo publicado na edição 1701, de 14 de março, exclusivamente para assinantes do Meio & Mensagem, disponível nas versões impressa e para tablets iOS e Android.

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