Camarotização no mundo dos eventos?
Não estamos falando de nenhuma novidade, desde a Roma Antiga já tínhamos camarotes no Circo Máximo
Não estamos falando de nenhuma novidade, desde a Roma Antiga já tínhamos camarotes no Circo Máximo
Meio & Mensagem
8 de janeiro de 2015 - 12h00
Muito tem se falado sobre uma possível “camarotização” (alô, alô Aurélio, existe esta palavra?) no mundo dos eventos. Tema da redação da última edição da FUVEST e de vários comentários na mídia após este fato. Traduzindo o termo: oferta de serviços diferenciados durante um evento gerando maior valor agregado para ambos (visitante e organizador).
Pelo que sei, desde a Roma Antiga já tínhamos camarotes no Circo Máximo, ou seja, não estamos falando de nenhuma novidade! É função primordial de todos organizadores de qualquer evento assegurar que o seu target esteja com as necessidades básicas atendidas, já dizia Maslow! Mais de um público envolvido, diversas necessidades a serem atendidas. Seria juvenil e não profissional pensar que um fã de Fórmula 1 deve ter as mesmas necessidades atendidas que um investidor da Fórmula 1. São públicos que pedem a tal da camarotização. Já imaginou servir Dom Perignon para toda a arquibancada de Interlagos? Não dá, né? Então porque a polêmica? Olha o viés aí gente!
Na realidade, creio que quando falamos de espaços públicos (como a Praia de Trancoso ou o Parque do Ibirapuera) e eventos sem cobrança de ingressos, existe, sim, a possibilidade de gerarmos polêmica com esta tal da camarotização. Porque ele tem mais direitos? Não posso entrar? Estas seriam perguntas difíceis de serem respondidas nesta situação. Porque deveria dar um tratamento VIP para uma pessoa na praia ou no parque se todos os cidadãos podem participar do referido evento? Mas em outras situações vejo como inevitável a definição de benefícios por setor ou por horário. Ou como seria organizar um show em um estádio cobrando um preço único de todo mundo? Quem vai ficar no gargarejo? Deve chegar em qual horário? Impossível de fazer a gestão ou a comunicação.
Ou seja, em espaços privados e/ou fechados a camarotização é um fato consumado as pessoas queiram ou não. Não existe plano B neste caso. Ainda mais em centros urbanos com grande concentração de pessoas e atividades culturais e empresariais.
Outro dia lendo o jornal me deparei com a notícia do Cinetério, uma maratona de filmes de terror exibidos DENTRO do cemitério da Consolação em São Paulo. Os organizadores enfrentaram tumultos durante o referido evento, pois um público cinco vezes maior que o previsto apareceu no local. Já imaginou o organizador falando com a administração do cemitério e pedindo “um espaço ao lado daquelas lápides para fazer um camarote com open bar?”. Não vai rolar. Ou seja, o errado aqui não é o conceito da camarotização, e sim o local do evento – apesar de ser cool, pelo menos para os usuários. O mesmo artigo menciona que os familiares das pessoas enterradas no local ameaçaram um protesto, na minha opinião com toda a razão. Falta de respeito, né?
Todo organizador de evento sabe que deverá fazer a gestão das expectativas do público participante de forma ampla e irrestrita, sempre obedecendo às leis e os limites da segurança. Aí sim estamos falando em algo relevante e importante. As eventuais discussões e polêmicas sobre a tal da camarotização me parecem sem o menor propósito além de gerar polêmica para o tema de uma dissertação estudantil. Conflitos de classe? Mundo dos excluídos? Ações para poucos e bons? Se a discussão for por aí está claro que devemos chamar um professor de sociologia ou história para nos ajudar. Talvez um de psicologia também.
Paulo Octavio P. de Almeida é vice-presidente da Reed Exhibitions
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