Meio & Mensagem
7 de janeiro de 2013 - 9h14
Confesso que não li o livro de E. L. James, mas por dedução do muito que ouvi dizer sobre a obra desconfio que o mérito da personagem feminina seja exercer seu poder através do “sim”. O que encanta as mulheres e atordoa os homens. Essa é a fórmula do sucesso do livro Cinquenta Tons de Cinza.
No caso do filme NO (2012), de Pablo Larrain, em cartaz no Brasil, o enredo premia a competência do “não” em uma passagem muito específica: o plebiscito no Chile em 1988 pela continuidade (ou não) dos militares no poder.
Baseado em uma peça de teatro que nunca foi montada, NO é um filme para publicitários e não, como pode parecer, um filme sobre publicitários. Assim como o livro Cinquenta Tons de Cinza é um livro para mulheres e não sobre as mulheres. Uma diferença que, novamente, atordoa os homens.
No filme um grupo de publicitários é arregimentado para fazer a campanha pelo “não” no plebiscito e se depara com uma situação comum na carreira de um profissional de propaganda, o fato de que há milhares de formas de dizer a mesma coisa, mesmo que essa coisa seja o “não”.
O mérito do filme é que ele traça uma linha divisória entre a forma publicitária de contar uma história e as outras formas, portanto a obra não deixa de ser um resgate da essência da alma do propagandista assim como Cinquenta Tons é um resgate da alma feminina. Pelo menos é o que denota o seu sucesso entre as mulheres.
No caso dos publicitários o sucesso é mais tímido, afinal não é fácil competir com argumentos tão realistas e cotidianos como o fato de ficar à deriva com um tigre em alto mar como em As Aventuras de Pi. NO, em seu final de semana de estréia, performou sete mil ingressos. A título de curiosidade entre janeiro e agosto de 2012, 26 mil brasileiros visitaram o Chile, ou seja, o filme indicado ao Oscar não deve fazer muito sucesso por esses trópicos.
Os personagens do filme, além de venderem o conceito para a população chilena, enfrentaram o estranhamento do cliente quanto à recomendação dos tons da campanha, considerados pouco politizados para o momento, portanto, precisam dizer dois “nãos”.
Essa é a lição de NO para os publicitários brasileiros acostumados a se renderem a mediocridade dos anunciantes ávidos pelas soluções caseiras desprovidas de tecnicismos. Em resumo, a antipropaganda imposta por quem paga as contas.
Sempre admirei as corporações que se impõem aos palpites externos. Projeto de casa é tarefa para arquiteto, disputas na justiça é trabalho de advogado, a cura dos males é prerrogativa de médico. Por que temos tanta resistência em admitir que propaganda é coisa de publicitário? Por que não valorizamos os egressos dos mais de 300 cursos propaganda espalhados pelo Brasil? Por que as estrelas da profissão não dedicam parte do seu tempo para ensinarem propaganda?
Enquanto não respondermos a essas perguntas continuaremos uma corporação sem personalidade, sem lideranças, refém de um único modelo de negócio e incapaz de dizer não em qualquer tom.
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