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Django, Xingu e o Vale dos Esquecidos

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Ponto de vista

Django, Xingu e o Vale dos Esquecidos


18 de fevereiro de 2013 - 12h44

Django Livre (2012 – Quentin Tarantino) até o término desse artigo contava com a generosidade de 887.697 almas brasileiras que se deslocaram até os cinemas para assistirem as agruras de um negro escravo americano sem nenhuma pretensão heróica ou consciência política, com o único objetivo de salvar a mulher amada, também escrava. O que irritou o diretor Spike Lee.

Xingu (2012 – Cao Hamburguer) encerrou sua trajetória na tela grande prematuramente com venda total de 395.856 ingressos, o que irritou o produtor Fernando Meireles. O filme conta a história de três irmãos obstinados na preservação da cultura indígena e na criação do Parque Nacional do Xingu que, apesar de ocupar significativa área do território nacional é desconhecido, ou melhor, desprezado pela maioria dos brasileiros.

Vale dos Esquecidos (2012 – Maria Raudan) contou com o “pessoal da Kombi” e fechou sua carreira cinematográfica com exíguos 456 espectadores. O que não irritou ninguém porque índio não vende nada, a não ser revista O Cruzeiro nas décadas de 50 e 60. O documentário, gênero que costuma afugentar a freguesia, é um relato impressionante da luta dos Xavantes (não é nome de pinga) pela recuperação da sua terra roubada por quadrilhas que misturam funcionários públicos, grileiros e governantes.

As três histórias, em diferentes tempos, retratam uma angustia que a turma da Apple e seu finado criador (por sinal tema de um longa em produção) não previram, ignoram e não tem a menor idéia de como enfrentar: a de que não existe nenhuma tecnologia, design ou interface capaz de combater o preconceito.

O cinema é o mais eficiente porta-voz das minorias. Sustentado por uma indústria que se remunera por contar histórias, o cinema está isento das restrições corporativas que orientam onde colocar recursos. Esses são destinados às boas histórias, independente de sua etnia, credo, opção sexual ou qualquer outro critério, inclusive o de público. Os dirigentes da indústria cinematográfica sabem que há gente para todas as histórias, desde que bem contadas, portanto apostam na diversidade dos temas e não no ideário privado.

O que aconteceu com o personagem Django em 1853, com os irmãos Villas Boas na década de 60 e com os Xavantes antes de ontem, é questão distante dos círculos moderninhos de tecnologia e eclipsada pela imensa quantidade de conteúdos divulgados pelas redes sociais.

Ao tratar dessas temáticas o cinema assume um papel que sempre lhe pertenceu, o de grande janela do mundo. O mercado publicitário brasileiro bem que poderia utilizar melhor essa janela e transformá-la em vitrine eficiente de produtos, marcas e serviços, mas, para isso, também terá de se despir da ignorância e do preconceito.  

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