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Ponto de vista

Dólares Analógicos e Centavos Digitais

Para Elton Simoes, tradicionalmente, o modelo de negócios da área de conteúdo esteve baseado em três premissas fundamentais: conteúdo, distribuição e crescimento controlado


7 de abril de 2014 - 11h58

 As mudanças mais importantes normalmente são aquelas cuja chegada não é prevista e, por vezes, demora em ser percebida.

Em toda a cadeia de valor da indústria de conteúdo, empresas e profissionais têm, nos últimos anos, a sensação de sempre perceber as mudanças quando elas aparecem claras no retrovisor. Parece uma sucessão de terremotos em câmera lenta, no qual não se percebe os tremores, mas depois de algum tempo, os estragos denunciam o desastre.

Parte desta sensação vem do fato de que o ambiente de negócios da mídia viveu de maneira relativamente estável por muitas décadas. Foram poucas as mudanças nos fundamentos, e, portanto, não requereu grande adaptação nos modelos de negócio.

Tradicionalmente, o modelo de negócios da área de conteúdo esteve baseado em três premissas fundamentais:

1. A distribuição podia ser controlada e, mais que isso, este controle derivava diretamente do modelo comercial (assinatura, venda avulsa, aluguel etc.), combinado com o suporte físico ou tecnológico da distribuição (ex. papel, aparelho de TV, rádio etc.). Em termos práticos, a oferta de conteúdo era menor e somente acessível em meios específicos;

2. Consequentemente, o conteúdo era classificado em diversas áreas que não competiam diretamente entre si, de acordo com a tecnologia ou suporte físico utilizado. Por isso, aprendemos a dividir a indústria em mídia impressa; mídia eletrônica; rádio etc.

3. O resultado é que o mercado de mídia crescia em condições mais controláveis, em ritmo menor, com oferta menor e com maior grau de concentração desta oferta.
Este mundo já vai longe. Desapareceu, ou está rapidamente mudando, com a internet. Distribuir é mais simples e mais barato. A oferta de conteúdo pode se originar e ser distribuída em diferentes regiões, tornando a geografia potencialmente irrelevante.

Pelo menos dois são os efeitos desta mudança no ambiente. O primeiro e mais óbvio é o aumento da oferta de conteúdo e informação disponível a cada consumidor. Ao mesmo tempo, nunca se consumiu tanto conteúdo e informação. O mercado, portanto, se expande com velocidade sem precedentes.

A segunda consequência é que mídias diferentes colidem e interagem no mesmo suporte físico ou tecnologia. As fronteiras claramente demarcadas no passado estão menos definidas, pálidas ou, no limite, inexistentes.

Diante desta realidade, adaptação é condição fundamental da sobrevivência. A questão para os players é como se adaptar. Em outras palavras, descobrir quais mudanças no modelo de negócio e no produto levarão à sobrevivência e ao sucesso no longo prazo.

Surpreende que, em vários setores de mídia, a resposta, nas últimas duas décadas, tenha dado prioridade ao corte de custos na produção de conteúdo ao invés de mudanças no modelo comercial.

Empresas que adotaram ou adotam este caminho, tendem a criar um circulo vicioso no qual os cortes nos custos de produção de conteúdo impactam a qualidade do produto ofertado. A diminuição da qualidade de conteúdo reduz a relevância do produto, o que, por sua vez, encolhe seu consumo. A receita, inevitavelmente, cai.

Tudo se torna profecia autocumprida. Como se a morte ou obsolescência fosse inevitável. Coisa que pode ser atribuída ao destino quando, em verdade, a causa principal para a queda da receita está na combinação da queda de qualidade do produto com a falta de adaptação dos modelos comerciais vigentes.

Não existe adaptação pela metade. Portanto, a solução deve estar sempre na melhoria do produto e na sua adaptação ao ambiente digital. O modelo comercial deve sempre seguir as necessidades e possibilidades deste novo produto digital.

Empresas que permitem a degradação da qualidade de seu conteúdo e/ou se recusam a adaptar seus modelos comerciais ao ambiente digital estão fadadas a ter sua relevância e faturamento reduzidos.

Estão condenadas a trocar dólares analógicos por centavos digitais.

 

Elton Simoes (ca.linkedin.com/in/eltonsimoes/) é profissional com larga experiência nas áreas telecomunicações, mídia e entretenimento no Brasil, na Europa, nos EUA, no Canadá e na América Latina. Atualmente atua como consultor, árbitro e mediador, baseado em Vancouver, Canadá

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