Em tempos de selfies, belfies, helfies e afins
Expomo-nos tanto midiaticamente que compomos uma multidão de pessoas que parecem não mais serem vistas
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Meio & Mensagem
8 de janeiro de 2015 - 11h26
Assistimos hoje nas mídias um tempo de hiper-consumo e hiper-exposiçao. A explosão das selfies (autorretratos) e suas derivações que não nos deixe exagerar. Uma multidão se expõe e uma multidão observa. Até aqui, como preconizava o sábio Salomão, “nada parece novo debaixo do sol”. Já no início desta década Baudrillard (2002), refletindo sobre a emergência da exposição humana nos reality shows – que invadiam as telas da tevê-, veio denominar de “vivissecção” o que estávamos assistindo, uma espécie de estágio que faz o imaginário submergir, restando apenas uma constatação sem fim do funcionamento dos seres.
Para ficar mais claro o que o teórico argumentou, a sua visão é de que estamos diante de uma exposição demasiada e excessiva, que acaba por provocar um sentido de “platitude”, fazendo com que atitudes e circunstâncias, antes cheias de significados, se esgotem, transformando os seus protagonistas “em meros ratos de laboratório”. Ou seja, esse tempo de selfies, helfies (autorretratos dos cabelos), belfies (autorretratos das nádegas) e suas derivações (autorretratos pós-sexo, por exemplo), funcionariam como uma metáfora na qual a realidade se esvai nas plataformas midiáticas – onde todos se expõem tanto que terminam não sendo vistos. Diz Baudrillard (2002, p. 8): "Há duas maneiras de desaparecer: ou exigimos não sermos vistos (é a problemática atual do direito à imagem) ou caímos no exibicionismo delirante da própria mediocridade".
Com efeito, esse “desaparecimento” é fortalecido na conjuntura que ninguém mais pode ignorar: hoje o exibicionismo ganha vida e amplitude através das imagens dos celulares que todos carregam consigo. Expomo-nos tanto midiaticamente que compomos uma multidão de pessoas que parecem não mais serem vistas. A grande questão talvez seja que, como o polo de emissão foi liberado e hoje todos podem produzir e divulgar conteúdo, queremos prolongar os nossos míseros 15 minutos de fama.
A explosão das web-celebridades movimenta uma nova indústria, antes restrita aos grandes conglomerados de comunicação. Hoje qualquer um pode “bombar” na internet. Não se tem mais o controle da produção da fama. Ela pode surpreender os caça-talentos mais experientes do mercado. O poder para decidir o que vai fazer sucesso e conquistar fãs, definitivamente, mudou de mãos.
Talvez por isso vejamos, de forma tão acentuada, o crescimento das práticas cotidianas de exposição da intimidade nas mídias digitais. Soma-se a este cenário o “contrassenso” de que quem não “se expõe” também parece “não existir” nos dias atuais, nos quais é prática comum “stalkear” pessoas. Além disso, a emergência de uma cultura narcísica entrelaçada às atitudes exibicionistas das selfies e suas derivações, quando compartilhadas nas redes digitais, corroboram com essa visão.
Contudo, mesmo diante de tudo isso, da “vivissecção” apontada por Baudrillard, do tempo de hiper-exposição da vida e evasão da privacidade alheia, do hiper-consumo de imagens e do excesso de exibicionismo que a internet possibilita, quem nunca tirou e postou uma selfie? Que atire a primeira pedra…
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