Meio & Mensagem
2 de abril de 2012 - 2h56
Alheio às recomendações de chute no traseiro, lei geral da Copa, cronograma dos estádios ou precariedade de infra-estrutura, o Tatu-Bola (ele mesmo) tornou-se o mascote da Copa do Mundo do Brasil em 2014.
A conquista foi ao estilo “onça pintada”, na calada da noite, porque nenhum brasileiro vivo poderia imaginar que o país, com uma das maiores diversidades de fauna do mundo, pudesse considerar a possibilidade do Tolypeutes tricinctus, nome de batismo do Tatu-Bola, sagrar-se símbolo do mais importante evento de futebol do planeta.
Passado o susto, que periga acelerar a extinção do Tatu-Bola, começa a campanha pelo mascote das Olimpíadas Rio 2016. Pelo andar da carruagem, nada surpreenderá se a escolha recair sobre algum animal tão distante do imaginário nacional como o convocado para a Copa do Mundo de Futebol.
Mas como as coisas ainda podem ser piores no universo olímpico, saiba que existe uma forte campanha, apoiada por empresários do porte de Eike Batista para que o escolhido seja o Muriqui, o maior primata das Américas, que consegue ser mais desconhecido e dizer menos à população brasileira que o Tatu-Bola.
A idéia do Muriqui como mascote olímpico tem o apoio do governo carioca e foi alvo de uma campanha de mídia que já consumiu R$ 400 mil. Consta que o interesse repentino do Grupo EBX de Eike Batista pelo primata está no corredor ecológico do Muriqui, uma extensa área de Mata Atlântica no norte fluminense onde vive o macaco. Caso esse seja mesmo o mascote das Olimpíadas, o investimento de R$ 2,3 milhões na recuperação da área estará amparado por um grande apelo popular.
Não estranha o fato de ter um macaco como símbolo dos jogos olímpicos. Confesso que é mais natural para nós brasileiros adotarmos um primata como mascote do que algo sem graça como o Tatu-Bola. Porém creio que antes do Muriqui há outras espécies que habitam o inconsciente dos brasileiros, por exemplo, o Mico Leão Dourado.
Tão macaco e tão brasileiro quanto o Muriqui, mas sem prestigio no mundo empresarial, o Mico Leão Dourado é a resposta natural para a pergunta sobre qual primata melhor representa o espírito de preservação das nossas florestas.
Os bem mais modestos defensores do Mico Leão Dourado amargam as conseqüências do nome do bichinho. Por mais que todos os brasileiros vislumbrem a possibilidade de “pagar o mico” com a estrutura do Rio de Janeiro para as Olimpíadas, é bom lembrar que a expressão não tem nada a ver com o primata da Mata Atlântica e sim com o jogo do Mico onde o macaco é a única carta sem par, ou seja, quem fica com ela “paga o mico”.
O Mico Leão Dourado está nas notas de R$ 20,00 e junto com o Beija-Flor, a Tartaruga de Pente, a Garça, a Arara, a Onça Pintada e a Garoupa frequenta o dia a dia da população brasileira.
As Olimpíadas Rio 2016, assim como a Copa do Mundo 2014, são motivos de orgulho para o Brasil. Os mascotes desses eventos são mais do que capricho de empresários ambientalistas e ambientalistas empresários, são um reflexo do espírito de um povo, o que, definitivamente, não se coaduna com o já escalado Tatu-Bola. Tomara prospere o bom senso ao invés do lobby. Esse seria um bom começo para os Jogos Olímpicos.
* André Porto Alegre, jornalista e publicitário, membro do Conselho de Administração e da Diretoria Executiva da APP – Associação dos Profissionais de Propaganda, Conselheiro do CONAR – Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, Conselheiro do FAC – Fórum do Audiovisual e Cinema. Foi Diretor Comercial da Mobz S.A., Circuito Digital S.A. e Promocine, empresas operadoras de mídia cinema. Vencedor do Prêmio MaxiMidia em 2004 e 2007 pelo Melhor Uso da Mídia Cinema. Trabalhou no jornal Folha de São Paulo, na Mauricio de Sousa Produções, no Grupo Young & Rubicam e na Ammiratti Puris Lintas. É professor dos cursos de MBA da Faculdade Rio Branco e FACCAMP.
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