Seu futuro emprego nem existe ainda
Cerca de 40% das empresas tradicionais não resistirão por não conseguirem remodelar seus modelos de maneira rápida suficiente para acompanhar as transformações de mercado
Cerca de 40% das empresas tradicionais não resistirão por não conseguirem remodelar seus modelos de maneira rápida suficiente para acompanhar as transformações de mercado
Mauro Segura
18 de novembro de 2015 - 11h43
Num sábado passado, numa corrida matinal na praia, eu perdi a chave de casa. Imediatamente fui num chaveiro próximo para fazer uma cópia da chave da minha esposa. Entrei no pequeno espaço e fui prontamente atendido. Havia três pessoas esperando por algum serviço. Em apenas cinco minutos o chaveiro me entregou a cópia da chave.
Daí em diante seguiu o diálogo abaixo:
– Você foi rápido, hein? Eu acho que antigamente demorava mais tempo – comentei.
– É, agora está mais rápido – respondeu o chaveiro.
– Daqui a pouco nós não vamos mais precisar vir aqui. Vamos imprimir nossas chaves numa impressora 3D que todos vão ter em casa – interferiu um senhor perto de nós.
O chaveiro sorriu, e respondeu:
– Eu já li sobre isso. Acho que vou precisar comprar uma. Será que vai substituir a máquina que uso hoje?
– Pra que? Daqui a pouco a gente nem vai precisar mais de chave para abrir as portas – exclamou um adolescente encostado na porta do local.
O chaveiro virou o rosto interrogativo, mostrando surpresa. A esposa do chaveiro, que estava na parte de trás da parede, surgiu de repente para acompanhar a conversa.
O adolescente levou o indicador e falou:
– Sabe o dedo que nós colocamos na máquina do banco para tirar dinheiro? Estou falando da impressão digital. Vai ser assim daqui a pouco.
O chaveiro respondeu:
– Mas precisa de energia para funcionar, né? E quando faltar luz?
Todos riram. Aí eu comentei:
– Eu acho que vai ser mais do que impressão digital. A gente vai chegar em frente da casa e vai dizer assim: Casa, cheguei! E aí a porta vai abrir automaticamente porque vai reconhecer a minha voz.
O chaveiro sorriu e respondeu:
– Ainda vai precisar de energia.
Aproveitei para falar que ao longo dos próximos anos surgirão os assistentes virtuais nos nossos smartphones e em outros aparelhos, que nos ouvirão, conversarão conosco e até nos darão conselhos. Como todos me olhavam intrigados e curiosos, gastei mais dois minutos para falar sobre o conceito do IBM Watson, de inteligência artificial. Minha percepção é que todos encaravam aquilo como algo distante ou como ficção científica.
Para demonstrar algo simples, peguei meu smartphone e entrei no Google. Ativei a pesquisa por voz e coloquei as pessoas para falarem. Todos ficaram maravilhados com as respostas perfeitas do Google a partir do que falavam. Ninguém sabia que aquilo já existia.
Neste momento, o chaveiro ouve um sinal em seu smartphone. Ele pega o aparelho no balcão e o vejo digitando algumas coisas. Dois minutos depois ele me mostra a tela. Ele estava trocando mensagens no WhatsApp com alguém que perguntava se ele tinha determinado modelo de chave para fazer cópia. Tratava-se de uma chave de um carro importado. No WhatsApp do aparelho aparecia a imagem da chave que o cliente havia enviado. Isso colocou pimenta na conversa sobre tecnologia.
Com todos encantados, vi que era hora de partir e fui!
Isso tudo aconteceu de fato. Uma pequena situação cotidiana que traduz as transformações que passamos diariamente. Todas as profissões existentes no mundo estão passando por mudanças profundas. Existem previsões de todos os tipos, algumas apocalípticas e outras menos radicais, mas o fato é que o mundo ao redor exige novas competências e conhecimento para todos os profissionais.
A tecnologia assume papel protagonista em quase todas as situações. É evidente que as pessoas têm que adotar um papel diferente em relação às novidades tecnológicas. Em vez de reagir e olhar o lado vazio do copo, elas devem procurar entender, aprender e adotar tais tecnologias em seu cotidiano. Porém, infelizmente, a prática mostra que a maior barreira na adoção das novas tecnologias são as próprias pessoas. Algumas alegam falta de conhecimento, dificuldade em lidar com mudanças e até falta de tempo, que me parecem desculpas exageradas. Aliás, a falta de tempo não é uma desculpa aceitável em qualquer situação.
Existem muitas análises e estudos a respeito da inteligência artificial e da computação cognitiva. Todos falam sobre isso atualmente. O que antes era pura ficção científica, agora parece bem real. O futuro está cada vez mais próximo. Mas será que a inteligência artificial poderá realmente superar a capacidade de raciocínio do ser humano? Será que as máquinas vão mesmo roubar nossos empregos?
A discussão de máquinas roubando empregos dos seres humanos não é nova. Desde a revolução industrial que esse tema é discutido. A verdade dos fatos é que a tecnologia criou mais do que ceifou empregos nos últimos dois séculos. A chegada da eletricidade, da água encanada, das comunicações, da computação, da medicina avançada, dos transportes e muitas outras tecnologias transformadoras fizeram o mundo mudar completamente. Nossos trabalhos e empregos são muito mais divertidos e nobres do que aqueles de nossos antepassados.
O que vem por aí ninguém sabe, mas dá para especular. Máquinas com algoritmos complexos já conseguem escrever histórias melhores do que jornalistas experientes. Carros conectados e autônomos nos conduzirão com mais segurança que os motoristas atuais. A comunicação instantânea e multicanal praticamente nos isenta da comunicação escrita em papel, impactando todo o setor de correios. Sistemas cognitivos já são capazes de diagnosticar pacientes com câncer com mais precisão do que os próprios médicos, por conta do big data e análise avançada de dados. Cada vez mais decidimos nossas viagens através de recomendações colhidas na internet, de amigos ou não, diminuindo as nossas idas aos agentes de viagens. A lista de mudanças nas profissões é enorme e muda a todo momento. Muitas delas têm futuro incerto e previsões ameaçadoras.
Robôs deixaram de ser ficção científica. Cada vez mais surgem pesquisas sobre as profissões ameaçadas pelo surgimento dos robôs. Esqueça a imagem dos robôs como seres de lata, aqui estamos falando de máquinas que pensam e agem como seres humanos, alguns podem até ter a forma parecida com a forma humana, mas não necessariamente. No livro "The Second Machine Age" (A segunda era das máquinas, em tradução livre), bestseller lançado no ano passado, os autores Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee, ambos do MIT, afirmam que vivemos uma revolução mais intensa que a revolução industrial do início do século passado. Eles dizem que vivemos um ponto de inflexão: uma virada na curva onde muitas tecnologias que só eram encontradas na ficção científica estão virando uma realidade cotidiana.
O jornalista David Baker, notório palestrante sobre o futuro do trabalho, costuma dizer que os robôs substituirão grande parte das carreiras que conhecemos hoje. E isso vai acontecer mais breve do que imaginamos. Uma pesquisa realizada em 2014 pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, chamada "O Futuro do Emprego", analisou as perspectivas de 702 profissões. Segundo o estudo, o operador de telemarketing é o profissional mais ameaçado, com 99% de chances de perder seu emprego. Ao olharmos a pesquisa, basicamente ninguém escapa da onda transformacional. No entanto, da mesma maneira que robôs destroem empregos, eles fazem aparecer outros. David Baker acredita que os robôs permitirão que os seres humanos tenham uma vida mais confortável, gerando mais bem estar para humanidade.
Olhar as mudanças pelo viés dos empregos é somente um lado do cubo. Existe outro lado tão impactante quanto ameaçador: as empresas. Um estudo recente da Cisco afirma que a disrupção digital provocará um tsunami no mundo dos negócios nos próximos cinco anos. O relatório estima que 40% das empresas tradicionais não resistirão por não conseguirem remodelar seus modelos de maneira rápida suficiente para acompanhar as transformações de mercado. Os números e as conclusões do estudo são perturbadores.
Em resumo, se você está preocupado com o futuro do seu emprego, tenha consciência de que a onda que vem por aí é muito maior do que você imagina. Algumas pesquisas indicam que mais da metade dos universitários de hoje terão no futuro empregos que ainda são desconhecidos ou nem existem. Trate de preparar a sua prancha. Estude, evolua, se sacuda, trate de desenvolver novas competências e conhecimento, não se acomode no seu emprego e analise se a empresa onde trabalha está realmente se transformando para o futuro. O tsunami vem por aí. A onda vai pegar você. Você pode ser atropelado por ela ou surfar a maior onda da sua vida.
Mauro Segura é líder de marketing e comunicação na IBM Brasil
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