Meio & Mensagem
18 de janeiro de 2012 - 10h00
Enquanto nos deliciamos com as gostosas risadas do bebê do anúncio do Banco Itaú, entidades como o Instituto Alana devem estar planejando suas artimanhas para exercer o papel de polícia sobre tudo que diz respeito à criança na comunicação de produtos e serviços. Será?
Sob o pretexto de "despertar a consciência crítica da sociedade brasileira a respeito das práticas de consumo de produtos e serviços por crianças e adolescentes. Debater e apontar meios que minimizam os impactos negativos causados pelos investimentos maciços na mercantilização da infância e da juventude, tais como o consumismo, a erotização precoce, a incidência alarmante da obesidade infantil, a violência na juventude, o materialismo excessivo, o resgate das relações sociais entre outros, faz parte do conjunto de ações pioneiras do Projeto que busca, como uma de suas metas, a proibição legal e expressa de toda e qualquer comunicação mercadológica dirigida à criança no Brasil".
A aspas acima foi extraída do texto Origem e Missão do site do Instituto Alana (www.alana.org.br) e sugere o quanto devem estar incomodados os dirigentes da entidade, que no anúncio do Banco Itaú, se deparam com uma criança se divertindo diante de extratos bancários. Será?
Ao estabelecer como meta a "proibição legal e expressa de qualquer comunicação" os idealizadores do Projeto Criança e Consumo do Instituto Alana, reeditam o DIP, Departamento de Imprensa e Propaganda (1939 à 1945), órgão do Estado Novo, que durante a ditadura de Getúlio Vargas decidia o que os brasileiros podiam ou não ter acesso nos meios de comunicação, sob o mesmo pretexto de "minimizar os impactos negativos".
Tudo indica que instituições financeiras são alvo das ações de organizações como o Alana (Será?) quando essa Ong afirma que "A propaganda na TV é a principal ferramenta do mercado para a persuasão do público infantil, que cada vez mais cedo é chamado a participar do universo adulto quando é diretamente exposto às complexidades das relações de consumo sem que esteja efetivamente pronto para isso." (Consumo Infantil, um problema de todos – www.alana.org.br).
Rir gostoso diante do extrato bancário não deixa de representar o despreparo de nosso jovem personagem que, de maneira muito convincente, encanta crianças e adolescentes tão despreparados quanto para o relacionamento com bancos, pelo menos na visão do Alana. Será?
A inconseqüência dos que pregam o controle do Estado sobre a liberdade de expressão comercial e condenam a autorregulamentação não está somente na defesa da censura, mas em uma forma muito mais sofisticada de subjugar o cidadão, a tutela. Uma sociedade tutelada se cala pelo desconhecimento e não pela força.
Entidades como o Instituto Alana defendem a tutela do cidadão pelo Estado sobre questões que se equacionam pela dinâmica da sociedade livre e cada vez mais informada. Os excessos, quando ocorrem, são condenados por essa mesma dinâmica sem a necessidade de intervenção estatal.
A propaganda brasileira possuí um aprimorado modelo de autorregulamentação, com participação ativa da sociedade. Os que não veem dessa forma, defendem um modelo que já foi testado e reprovado. Condenar a capacidade de autorregulamentar equivale ao ridículo de cogitar que o anúncio do Banco Itaú macula nossas relações familiares. Pelo menos assim parece pensar o Instituto Alana. Será?
* André Porto Alegre é sócio-diretor da Mobz.
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