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Opinião: Prefiro com a luz acesa

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Opinião: Prefiro com a luz acesa

Se formos realmente competentes, saberemos explicar o quão cuidadosos somos ao manipular dados e, mais ainda, saberemos mostrar o valor que as mensagens individualizadas terão


20 de maio de 2014 - 10h28

(*) Por Paula Nader

“Todos os seres humanos têm três vidas: pública, privada e secreta.” Gabriel García Márquez.

É, sou fã do Gabo (íntima, não?) e já falamos dele — meu primeiro artigo aqui foi inspirado no cigano Melquíades, personagem do Cem Anos de Solidão.

Ao ler a frase com a qual inicio nossa conversa desta edição, no meio da avalanche de coisas publicadas logo após sua morte, percebi que a época que estamos vivendo é tão maluca que conseguimos o que parecia impossível: datar um autor cuja obra me encanta, entre outros atributos, por sua atemporalidade.

Porque não é preciso pensar muito para concluir que essa frase praticamente perdeu o sentido hoje em dia. E digo que “conseguimos” porque a culpa também é nossa.

Ok, ok, eu tenho uma verdadeira obsessão por privacidade. Sempre tive. Por isso, minha atuação nas redes sociais é quase nenhuma, por exemplo. Mas, mesmo colocando as obsessões de lado, continua me parecendo muito estranho monitorar hábitos de navegação na internet de um indivíduo sem que ele saiba e, depois usar esses dados para enviar mensagens individualizadas, que ele vai receber como se fosse publicidade, sem que nos autorize.

Posso estar me contradizendo, já que há alguns meses escrevi aqui sobre as maravilhas do Big Data, sobre como muitas pessoas preferem receber mensagens adequadas aos seus interesses e como nós preferimos dispersar cada vez menos nossos investimentos.

Mesmo não tendo problemas com contradição, peço que não me entendam mal, porque não estou defendendo a dispersão: as partes que não me descem nem com gourmet são “sem que ele saiba” e “sem que ele nos autorize”.

Recentemente, tenho visto muitos de nós (eu, inclusive) entrando nesse novo jogo sem saber exatamente o que está envolvido. Mas não é por que não existe uma lei ou uma entidade para me dizer se está certo ou errado que eu não vou questionar. E, mais ainda, o fato de “todo mundo estar fazendo” e “com taxas de retorno incríveis” só aumenta a minha responsabilidade.

Gosto de luz acesa. De deixar as pessoas escolherem se querem estar comigo ou não. De jogar com regras claras.

Assim, o que estou sugerindo é que peçamos permissão. Primeiro para monitorar as pessoas, depois para enviar mensagens individualizadas. Se formos realmente competentes, saberemos explicar o quão cuidadosos somos ao manipular os dados e, mais ainda, saberemos mostrar o valor que essas mensagens individualizadas terão. Nessa hipótese provavelmente todos, excluindo os obsessivos, consentiriam.

A discussão ainda é incipiente, mas está esquentando. A turma da LiveAD trouxe esse tema como um dos destaques da última edição do SXSW, ilustrando com o exemplo o Ghostery, um aplicativo gratuito que permite que você veja, um a um, todos os mecanismos de rastreamento que estão por trás de cada site onde você navega e, melhor ainda, que você escolha algo entre ligar ou desligar todos, passando por manter ligados apenas aqueles que você julga que podem fazer boas coisas com as suas informações.

Justo, não?

Para as mais de 20 milhões de pessoas no mundo (cerca de 180 mil no Brasil) que estão usando o Ghostery — eu, inclusive — parece que sim.

¿Que te parece?

(*) Paula Nader é diretora de marca e marketing do Santander. Uma vez por mês, ela escreve como colaboradora para Meio & Mensagem. Este artigo foi publicado na edição 1610, de 20 de maio de 2014. 

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