Meio & Mensagem
3 de março de 2016 - 9h36
(*) Por Ignacio Alvarez Saez
Barcelona foi fundada pelos fenícios. Diz a lenda que estes grandes inovadores da história, principais promotores do comércio e inventores do alfabeto, não se sentiam confortáveis na cidade porque o clima era frio em comparação a sua terra de origem e finalmente a deixaram nas mãos dos gregos.
A semana passada fez calor em Barcelona. Pessoas do mundo inteiro aterrizaram na cidade e como passageiros de uma grande linha de montagem se distribuíram em trens, metrôs e táxis para se reunirem novamente no que é hoje, uma das feiras mais importantes do mundo. Se você é um executivo ou um empresário de qualquer indústria, o que acontece em Barcelona a cada ano durante o Mobile World Congress terá sempre um impacto sobre o seu negócio. Especialmente se você considerar que todos os seus clientes e fornecedores têm um telefone celular em seus bolsos e eles vão mudar para um aparelho melhor em pouco tempo.
Enfim, coreanos, chineses, africanos, árabes, europeus, americanos, israelenses, indianos. E também muitos argentinos e brasileiros, mexicanos, colombianos e chilenos, entre outros, vieram conferir as novidades. E há muitas. E quase todas vêm de novas aplicações de diversas tecnologias. Principalmente, há várias maneiras de interagir com a realidade virtual.
Hoje a realidade virtual pode ser descrita como um ambiente de cenas de aspecto real gerada por tecnologia 3D, que cria no usuário a sensação de estar imerso na mesma. Para contemplar o ambiente precisamos de um capacete especial ou, algo mais econômico e prático, como óculos de papelão ao qual é adicionado o smartphone que cada um carrega no bolso.
Vou ficar muito entusiasmado durante todo este ano experimentando as novas ferramentas da realidade virtual e inteligência artificial. Não somente porque estamos em 2016 e são essas as novas tecnologias do momento, mas porque a promessa de seu impacto sobre a forma como as pessoas interagem com o mundo em torno delas é emocionante.
A tecnologia está realmente avançada e conta com muitos pesos pesados como Mark Zuckerberg empurrando a seu favor. O limite hoje está nos softwares e nos conteúdos. Há muito a ser desenvolvido e, provavelmente, teremos que esperar ainda alguns anos para que as tecnologias se tornem massivas. E quando chegar a hora, eles terão a capacidade de mudar completamente setores como turismo e entretenimento. Nós publicitários já estamos fazendo a nossa parte, desenvolvendo conteúdos para as marcas que podem ser consumidas através da combinação de smartphone com óculos de papelão.
Outra definição de moda é a Internet of Things, ou internet das coisas. É chocante ver quantas empresas até então desconhecidas neste setor, vieram com seus milhões de dólares levantados em rounds iniciais de investimento, para apresentar sua versão de um mundo automatizado. Eu vi George Orwell chegando, mas eu nunca pensei que poderia ser tão brilhante.
Muito resumidamente, a Internet of Things é um conceito que se baseia na interconexão de qualquer produto com qualquer outro e por sua vez com o mundo exterior através da internet. Desde uma lâmpada até o refrigerador da sua casa. O objetivo é fazer com que todos esses dispositivos se comuniquem uns com os outros e interajam com serviços on-line e, portanto, se tornem mais inteligentes e independentes.
Para as marcas, a IoT pode gerar uma mudança muito grande na forma de comercialização de seus produtos e serviços. Imaginem um refrigerador recomendando a compra de um produto baseado em uma análise dos gostos do dono da casa ou, então, tomando a decisão por si só, sobre a hora de fazer um novo pedido no supermercado.
Meu amigo, sócio e chairman do MMA Argentina, Juan Carlos Göldy, me disse que não temos que confundir realidades com tendências. Esperamos que tanto a realidade virtual como a inteligência artificial e a Internet of Things não caiam em um penhasco como o que acontece hoje com os tablets ou outras tecnologias do momento que veem suas vendas caírem e seu uso reduzido pela batalha contra os smartphones.
No Hall 8.1, o das empresas de publicidade, fizeram sua aparição outras tendências, como a de programática mobile. Sua promessa é limitada pela prática: o alcance, a criatividade e a qualidade do seu tráfego permanecem inacabadas para que em algum dia a programática deixe de ser tendência e se torne realidade. Por outro lado, tem surgido muitas ferramentas novas e promissoras que já estamos testando.
Sendo um evento inicialmente criado pelas grandes operadoras de telefonia, o MWC mudou. E com ele também mudaram as conversas. Enquanto antes as negociações eram sobre as características únicas de um smartphone ou a quantidade de pixels de definição da câmera de um tablet, agora o foco é no impacto das tecnologias móveis em nossas vidas.
Penso que esta maturidade está nos levando por um caminho muito mais interessante e nos faz pensar que temos que continuar transformando o sistema econômico mundial, um smartphone de cada vez. Nesse sentido, Barcelona é também o confessionário de quem trabalha com mobile. Se podemos tirar alguma conclusão é que entre todos os players do mercado mobile, nós marqueteiros e anunciantes somos os que mais demoram para agir e adaptar nossos negócios às novas tecnologias e ferramentas. Temos muito trabalho a fazer para chegar no ritmo das outras indústrias participantes. Em nossa defesa, podemos dizer que a nossa missão é a mais difícil, e que devemos massificar o acesso de empresas e indivíduos às inovações.
Mark Zuckerberg, que é considerado uma estrela em qualquer lugar, chegou “low profile” em seu evento favorito. De sua apresentação no salão principal, podemos destacar seu apoio explícito a Apple no debate que envolveu, nos últimos dias, o FBI, um franco atirador e outros pesos pesados da indústria de tecnologia.
Por outro lado, as declarações mais interessantes foram as de Martin Sorell, que frisou que os grandes anunciantes ainda não estão suficientemente focados em mobile e que os investimentos na área são mais baixos do que deveriam ser. Dizem que o primeiro passo para resolver qualquer problema é reconhecê-lo. É por isso que festejamos o olhar tardio mais preciso do chefe máximo da WPP e nosso indiscutível herói do MWC 2016. De acordo com Sir Sorell, isso ocorre porque não estão sendo utilizados de forma criativa os atributos do meio, além dos problemas de medição e atribuição.
Se me perguntarem, direi que as ferramentas existem. A prova disso é uma indústria muito saudável de performance com centenas de milhares de aplicativos que, ao se promoverem, medem cada centavo de dólar investido. Sorell, sabendo ser uma das referências máximas da indústria publicitária global, promoveu a iniciativa de criar campanhas pensadas especificamente para o mobile e que não sejam simplesmente extensões do que as marcas fazem para outros meios. Inspirado, finalizou com uma frase a ser lembrada: “mobile não é um canal a mais, é provavelmente o canal publicitário mais importante jamais criado”.
Depois de quatro dias, voltou o frio que os Fenícios não gostavam. Ninguém se importou, a indústria mobile está mais quente que nunca. O comercio floresceu, as boas idéias brilharam e o MWC deu um passo a mais para se tornar o evento que define o ritmo da inovação do planeta.
Ignacio Alvarez Saez é fundador da Logan