Como o futebol feminino vem ganhando atenção de veículos e marcas
Modalidade vem conquistando espaço na grade dos veículos ao mesmo tempo em que atrai patrocinadores de diferentes áreas
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Valeria Contado
23 de agosto de 2021 - 6h00
Há dois anos, desde que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), orientada pela Conmebol, chancelou a obrigatoriedade de que os clubes que disputam a Série A do Campeonato Brasileiro e da Libertadores tivessem que manter equipes femininas, a modalidade passou por grandes reformulações, tanto em termos de transmissão quanto de aproximação de marcas.
Apesar de ainda ser carente em relação a investimento e patrocínios na comparação com o futebol masculino, a modalidade feminina vem atraindo mais o público e, por conta disso, ganhando espaço entre os canais. Na semana passada, a equipe do São Paulo venceu o Internacional em uma partida transmitida pelo SporTV, recém-chegado nas transmissões do Campeonato Brasileiro Neoenergia. O jogo, válido pelas quartas de final da competição, rendeu à emissora o topo do ranking de audiência na TV paga do dia.
Além de mais atenção da mídia, o Brasileirão feminino também vem atraindo olhares de grandes players. Recentemente, o Tiktok passou a realizar as transmissões da modalidade no perfil da CBF e do canal Desimpedidos, que antes realizava as exibições no YouTube, além da Band, que foi uma das primeiras a fechar o contrato de transmissão e está com a competição desde o início.
A aproximação de mais veículos refletiu um avanço, inclusive, nos meios de transmissão. A competição que, anteriormente, era exibida apenas pela CBF TV (por meio do agora Eleven Sports) ganhou mais opções e telas. O Desimpedidos, canhão de audiência no meio esportivo – pertencente à NWB, produtora que hoje possui mais de 73 milhões de inscritos em seus canais filiados – montou uma equipe para acompanhar as partidas ao vivo e reprises, com a narração de Chicungunha e comentários de Ale Xavier e Mariana Pereira.
“A oportunidade de transmitir o Campeonato Brasileiro Feminino já era um sonho nosso. Tivemos bastante êxito na questão de audiência”, explica Gilberto Corazza, diretor de negócios da NWB. O canal que é dono de um case de sucesso com a Centauro como patrocinadora máster da competição, exibindo seu nome para mais de 41 mil pessoas simultâneas durante as transmissões dos amistosos da seleção, antes das Olímpiadas.
O canal apresentou, ainda, a Supercopa das Mina, que chegou em sua terceira edição, contando com marcas como Gillette Vênus e Clear, além do apoio da Adidas, que é a patrocinadora oficial do canal. “Além de despertar audiências, chama o apoio das marcas. Elas estão envolvidas e querem participar desse perfil de propriedade e dessa conversa também”, avalia Corazza.
E foi pensando nessa conversa que a NWB lançou o canal Passa a Bola, idealizado pela influenciadora Luana Maluf (do 1×0 Feminino) e Ale Xavier. A iniciativa, que começou com Luana em um projeto que ajuda meninas a entrarem no meio esportivo, se tornou também um lugar para jogar holofotes em jogadoras amadoras e profissionais do cenário brasileiro.
O canal Passa a Bola iniciou sua caminhada com a Adidas como primeira apoiadora. “Queremos ter podcast, eventos que mudem a modalidade, campeonato na várzea, peneira. E hoje somos o match perfeito”, comenta Ale Xavier, a primeira apresentadora mulher do Desimpedidos, e uma das idealizadoras do canal.
Já assistiu o primeiro vídeo do @passaabola_ofc ?
Clica aqui: https://t.co/VIsppXxJDJ pic.twitter.com/RQFjCDMSqQ
— Ale Xavier (@alegxavier) June 19, 2021
As marcas em campo
Mesmo com o maior interesse na modalidade, um dado revelado no estudo realizado pela Unesco apontou que apenas 4% do conteúdo veiculado na mídia esportiva se dirigia ao esporte feminino. Por isso, a Vivo lançou o projeto “4%”, que faz parte do movimento “Jogue com elas”.
A empresa de telefonia criou um bot que responderia publicações com sugestões de matérias produzidas por creators e perfis especializados, com o objetivo de promover mais o conteúdo voltado a esportes femininos. A ação, desenvolvida pela Soko, aconteceu antes das Olímpiadas e movimentou as redes sociais.
Esse tipo de parceria é importante para fomentar o desenvolvimento de modalidades femininas no Brasil. Também na linha de desenvolvimento, em 2020, o Guaraná, também em parceria com a Soko, desenvolveu o case “Elas podem” premiado com bronze no Festival de Cannes e prata no The One Show neste ano, que convidava marcas para apoiarem o futebol feminino.
Durante a ação, a marca prometeu colocar os novos apoiadores em suas latas. E o Guaraná, de fato, trouxe mais marcas para a modalidade. Avon, Banco BMG, Burger King, Consul, ESPN, GOL, Halls, Lay’s, Puma e Vivo foram impressos nas latinhas de Guaraná.
A Puma, uma das marcas que participou da ação junto o Guaraná, tem o futebol feminino como um dos principais projetos. A marca apoia, atualmente, 32 atletas no futebol brasileiro e mundial, além de nomes do skate e running. Em 2020, a empresa iniciou um contrato de patrocínio com todas as jogadoras do time feminino do Palmeiras, time para o qual a empresa fornece material esportivo.
Além disso, existe o projeto de disponibilização de materiais esportivos para times amadores e semi-amadores, como realizado junto com o goleiro Weverton, do Palmeiras, para um time do Acre, cidade natal do jogador. “Acredito que é uma modalidade com muito potencial para crescer no Brasil, com muito para conquistar. Para que isso ocorra, tem que ser de forma sustentável, em médio e longo prazo, quebrando barreiras, aumentando investimento e melhorando as competições”, endossa Fabio Kadow, diretor de marketing da Puma.
Iniciativas como essas trouxeram visibilidade para o campeonato Brasileiro feminino que ganhou o patrocínio da Neoenergia, empresa parte do grupo espanhol Iberdrola, e que atua em solo brasileiro desde 1997. A marca ficará com as competições realizadas pela CBF, assim como com a seleção brasileira, até 2024. A parceria firmada com a Confederação faz parte projeto que impulsiona a participação das mulheres no esporte, e que, atualmente, conta com mais de 330 mil atletas subsidiados pela marca.
Hoje, o Brasileirão Neoenergia conta, também, com o apoio da Riachuelo. do Guaraná Antarctica, Galera.Bet, Assaí e Uniasselvi, com placas nos estádios durante as partidas e de entrevista
Alê Xavier, do Desimpedidos e Passa a Bola, enxerga que hoje o futebol feminino ainda é uma modalidade barata, por carecer de mais apoio e visibilidade, por isso vê oportunidades para que as marcas colham frutos no futuro. “A marca que for esperta, abraça a modalidade e as profissionais que falam disso agora para colher um fruto enorme daqui a alguns anos”, afirma.
Novas vozes
Além da visibilidade do futebol feminino estar aumentando, com ele também surgem outras profissionais que trabalham com a modalidade. Como é o caso de Nathália Lara, agora na Globo, e Elaine Trevisan, recém-chegada na ESPN. As narradoras que conquistaram espaço em campeonatos femininos são fomentadoras da modalidade.
Junto com elas, Renata Silveira, a primeira narradora a entrar no Grupo Globo, representa muitas das vozes femininas que vão caminhando para que outras meninas possam seguir o mesmo caminho. “Nunca vi uma mulher narrando futebol, e, hoje, poder ser uma voz, um exemplo, é lindo demais. Influenciar outras meninas a entrar o meio esportivo é o mais legal de tudo. É um legado que isso pode deixar”, contou a narradora ao Meio & Mensagem, pouco antes de iniciar sua jornada nos Jogos Olímpicos de Tóquio.
Por isso, enxergar a representatividade nos players esportivos é algo muito importante. Durante a cobertura olímpica, tanto o Grupo Globo, quanto a Band, emissoras que realizaram as transmissões dos jogos, tinham um time consolidado de repórteres e comentaristas. “A competência de todas essas mulheres faz com que elas sejam protagonistas dentro da programação da Bandeirantes. Mérito puro e uma conquista que deve ser muito celebrada pela categoria e pelas mulheres”, comentou Denis Gavazzi, diretor esportivo da BandSports.
Para Ale Xavier, ter o Desimpedidos como um veículo que está olhando para o futebol feminino reforça o quanto enxergar essa diversidade é importante para trazer mais meninas, seja para os clubes esportivos, seja para as redações. “A representatividade é a melhor maneira de fidelizar meninas com o futebol, eu realmente fico feliz em fazer parte desse todo”, finaliza.
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