Paramount: no futuro não haverá isolamento de conteúdo
Maria Angela Jesus, diretora e gerente de produção da Paramount, revê aprendizados da pandemia e explica como a produção e distribuição de conteúdo mudou
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Thaís Monteiro
11 de maio de 2022 - 6h00
Diante da pandemia, o mercado de produção de conteúdo viveu uma série de dilemas. O primeiro dele foi como continuar as produções em situação de emergência sanitária. Depois, com o surgimento de novos players de streaming, foi necessário revisitar as estratégias de distribuição e repensar a primeira tela de exibição. As discussões e decisões acerca desses temas desenharam o que hoje vemos como uma estratégia consolidada: buscar diversidade no conteúdo e nos bastidores, rever a exclusividade de distribuição e aproveitar o máximo das produções realizadas.
O segmento vê uma volta rápida e uma estratégia de distribuição de conteúdo mais fragmentada. Ao mesmo tempo que as possibilidades de produções aumentam com o crescente número de canais que propiciam outras linguagens, formatos, duração e tipos de público espectador, o ciclo de vida do conteúdo também aumenta e se renova a cada janela em que é exibido. E dentro dessa lógica, novas oportunidades e experiências se destacam.
ViacomCBS adota nome Paramount
O cenário remoto permitiu a troca com profissionais de demais locais no País e no mundo e uma maior diversidade de narrativas. Nesse quesito, em 2021, a Paramount criou a sala de roteiro Narrativas Negras, grupo formado por roteiristas negros para ampliar a diversidade e representatividade na frente e por trás das telas. “Assim, conseguimos manter a indústria do audiovisual funcionando e criando conteúdo”, diz Maria Angela Jesus, diretora e gerente de produção da Paramount. Também foi um período de mudanças para a empresa, que adotou o nome Paramount e relançou o seu serviço de streaming premium sob demanda, o Paramount+.
É verdade que, ainda em 2020, adaptações foram feitas com o objetivo principal de continuar a entregar conteúdo com a mesma qualidade que anteriormente, porém com o desafio de manter as equipes em segurança. A redução das equipes impactou a rotina e dinâmica das produções. Porém, ao ser questionada sobre sobre a queda na produção, a opinião da executiva é contrária.
“Tivemos um boom logo após a retomada. Em Paramount+, por exemplo, produzimos a primeira edição da franquia Rio Shore no Brasil com tudo muito controlado e uma grande preocupação em deixar os participantes isolados, para evitar que houvesse qualquer contágio no grupo. Também desenvolvemos nesse período a série, As Seguidoras, que estreou em março, estrelada por Maria Bopp, e gravamos durante a pandemia. Foi um grande processo de adaptação, vínhamos de um modelo anterior já muito estabelecido e tivemos que nos transformar”, explica.
Ao Meio & Mensagem, Maria Angela Jesus compartilhou percepções sobre as tendências de retomada da produção e distribuição de conteúdo no período considerado pós-pandemia.
Meio & Mensagem – Como a pandemia afetou a produção de conteúdo audiovisual, do ponto de vista de rotina e planejamento de gravação, preparação e cronograma dos veículos?
Maria Angela Jesus – O início da pandemia foi mais complicado em termos de produção. Nós sabemos que a maioria dos players naquele momento, a partir de março de 2020, congelaram seus projetos. E isso aconteceu em todo o mercado; não só no Brasil, mas como no mundo inteiro. Foi um momento de muitas incertezas, já que ainda não tínhamos vacina, nem protocolos de produção dentro do set de filmagem. Nesse período, o mais interessante é que nós nos voltamos para o desenvolvimento de projetos. E assim, de uma certa forma, nos preparamos para quando houvesse o retorno à produção de fato. Posteriormente, mudamos o modelo de produção para nos adequarmos às necessidades. Então evidentemente, a fluidez que nós tínhamos precisou ser revista. Foram criados protocolos específicos, com testes e controle no set, por exemplo, tivemos uma redução de equipe nas filmagens e gravações, justamente para não haver um volume grande de pessoas em um mesmo ambiente, tudo isso evidentemente impactou a rotina e dinâmica das produções.
M&M – Como os veículos irão adequar a produção para diferentes plataformas? E como vão diferenciar o que irá para cada uma delas?
Maria Angela – Temos nossas marcas, assim como a força dos canais, com diferentes públicos. E nossos conteúdos são pensados atualmente para ter potencial tanto para estar no Paramount+ quanto para atender canais em suas especificidades. Mas temos casos de conteúdos que nasceram nos canais e que hoje têm seu espaço e audiência no Paramount+, como é o caso de A Culpa é do Cabral, um projeto que nasceu no Comedy Central mas hoje está também no nosso streaming. Outro exemplo dessa intersecção: De Férias com o Ex, que está no serviço de streaming, tem janela na MTV e, logo na sequência, o Estúdio Com o Ex, que é a live das redes sociais. Essa otimização de conteúdo casa perfeitamente com o ecossistema que temos – o streaming, a pay TV e as redes socias. Esses conteúdos vão bem no streaming, mas permeiam com muita tranquilidade a grade dos canais. Tem sido um exercício muito interessante identificar e produzir esses conteúdos.
M&M – O diálogo entre os diferentes meios ainda é uma prioridade ou há benefício de produzir coisas independentes para cada um deles?
Maria Angela – Temos muitos conteúdos que nascem de uma produção principal do streaming e que desdobram para nossos outros meios. Esse nosso ecossistema, que inclui tanto o streaming pago, com o Paramount+, quanto o gratuito, com Pluto TV, nos propriciam e nos trazem muitas possibilidades de produção; amplia nossas possibilidades. É interessante dizer que, ao invés de uma redução, estamos ampliando o volume de produção em função disso. Sobre produzir, independentemente ou não, acredito que o mais importante é entendermos qual é a conexão que criamos com as demais plataformas que temos quando estamos produzindo um conteúdo para o Paramount+. Marcelo, Marmelo, Martelo, por exemplo, é uma produção infantil que estamos desenvolvendo e produzindo para Paramount+ e, naturalmente, terá uma segunda janela na Nickelodeon. Esse modelo é muito rico. Como produtora de conteúdo há muitos anos, acredito que esse desafio de produzir pensando em um ecossistema, e não só numa única plataforma, é muito importante e abre um leque imenso de possibilidades. O futuro é isso, não há um isolamento, são conteúdos que podem viajar e estar em outros espaços. E tudo isso vem de encontro ao nosso conceito de entertainment everywhere.
M&M – De forma geral, quais outros legados a pandemia vai deixar para a produção de conteúdo?
Maria Angela – Particularmente, o início da pandemia foi um momento bastante assustador. Entender que poderíamos produzir com a ajuda da tecnologia e virtualmente foi uma grande porta para revermos, inclusive, alguns processos de produção e entender o quanto somos capazes. Planejar uma produção nestes moldes foi um grande desafio, mas nos trouxe muitos aprendizados, vimos como somos adaptáveis e encontramos saídas. No final das contas, nos fortalecemos, criamos uma estrutura forte e rígida em todos os processos. A pandemia nos ensinou a reduzir o ritmo e ampliar o planejamento de produção. Prezo muito pela construção de equipes fortes e colaborativas. E nestes últimos dois anos foi importante ver que as relações entre as equipes, embora estivessem separadas no dia-a-dia, ficaram ainda mais fortes. E isso é um grande legado.
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