A cartilha ESG das marcas, que exclui as produtoras
Prazos indecentes de pagamento crescem no debate público, mas seguem sufocando
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Uma discussão que nasce morta está mais viva do que nunca. Segundo uma prática do mercado brasileiro, é comum que grandes anunciantes paguem as produtoras audiovisuais contratadas para executarem suas campanhas em prazos que chegam até 180 dias.
Todo mundo sabe que as produtoras precisam colocar na rua uma estrutura gigante de profissionais e tecnologias que exigem pagamentos à vista. Algo natural para qualquer atividade. Exceto nas produtoras de publicidade, que vivem uma linha do tempo financeira descolada do presente e ficam com a missão de equilibrar essa equação num cenário onde o acesso a linhas de crédito é reduzido.
Hoje, qualquer produtora que pretende atuar no mercado publicitário precisa operar um banco dentro dela. Um banco que empresta dinheiro para marcas milionárias financiarem campanhas e pagarem o carnê lá na frente com os devidos juros aplicados. Em média, dois ou três meses lá na frente. Além de toda uma vergonha na cara para negociar com os fornecedores os melhores prazos, causando um efeito cascata delicado.
Recentemente, em artigo publicado aqui no Meio&Mensagem, Rejane Bicca, diretora geral da O2 Filmes, provocou o mercado ao trazer um convite à reflexão sobre prazos de pagamento de 60 a 120 dias na publicidade. Se a questão incomoda um dos players mais respeitados do mundo, convido vocês a refletirem sobre a realidade geral.
Os mesmos anunciantes que aqui pedem meses pra fazer o pix, adotam prazos decentes em outros continentes. O debate escala: “então por que vocês continuam aceitando?”. Embora resgate a importância do coletivo nessa discussão, rejeitar trabalho imediato como ato político é conselho restrito. Desnecessário esperar um ecossistema mais diverso enquanto essa política de sufocamento de novos talentos e empreendedores existir.
Pagar fornecedores de maneira decente é, de certa forma, fazer o mínimo, assim como beber dois litros de água por dia. Fazer o mínimo nem sempre é possível, convenhamos. Mas é saudável e gera agenda positiva. Vamos falar mais sobre isso, seja na imprensa, nos próximos painéis de comunicação e marketing ou no dia a dia.
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