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Do estresse ao flow criativo

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Opinião

Do estresse ao flow criativo

Como impulsionar a criatividade em ambiente de pressão


19 de maio de 2022 - 11h39

Crédito: Shutterstock

É comprovado cientificamente que prazo, pressão e até mesmo recompensa para se resolver um problema podem ser fatores limitantes da criatividade – procure por candle problem (desafio da vela) e Sam Glucksberg, nome do psicólogo e pesquisador da Princeton University que demonstrou isso.

Resumidamente, quando foi adicionada uma recompensa para quem resolvesse o tal desafio mais rapidamente (pressão e prazo entraram na equação), os participantes demoraram muito mais para descobrir a solução que, claro, passa pelo uso criativo dos itens que lhe foram entregues.

Mas o que fazer quando atuamos numa indústria em que pressão e prazo são inerentes à rotina, e a criatividade é o produto que oferecemos? Afunilando para nosso mundo, como ser criativo na comunicação tendo de lidar diariamente com deadlines curtos para entregar trabalhos de alta qualidade e diferenciação?

Nessa rotina acelerada, em que é preciso mergulhar em universos distintos de temas completamente diversos, e percorrê-los em alta velocidade, não é raro que o criativo se veja angustiado e tenha dúvidas sobre sua capacidade de cumprir prazos.

Como profissional da criação, também já tive meus momentos de angústia, mas a experiência me mostrou que há, sim, maneiras de contornar essa ansiedade e dar o melhor de si otimizando o próprio tempo. Tempo otimizado significa mais tempo, ou seja, pressão reduzida.

Ser criativo (algo que obviamente não se limita ao mundo da criação) é sentir simultaneamente a felicidade e a angústia de encarar aquele “papel em branco”. Aliás, ouso dizer que essa angústia, que podemos comparar com o frio na barriga do artista antes de entrar em cena, ou do esportista nos minutos que antecedem o tiro de largada, é fundamental para que o aplauso ou a vitória tenha graça e gosto.

Então, quando o briefing chega, mantenha a calma, olhe o problema de cima (buscando um ponto de vista externo e integral), entenda o que de fato precisa ser solucionado e, principalmente, se o que estamos supondo que seja a demanda é realmente o que nos foi pedido.

Muitas vezes, o desafio é bem menor do que nos que parece à primeira vista.

Lembremos que qualidade e profundidade do briefing são fatores diretos no resultado, e colaborar para que esses dois elementos existam também é parte do processo criativo. Para complementá-lo ou enriquecê-lo, tire todas as dúvidas possíveis com o atendimento e/ou o cliente, que, apesar de ‘culpados’ pelo prazo curto, são nossos parceiros, e não antagonistas.

O criativo é uma pessoa curiosa por natureza e tudo chama sua atenção: um filme, um design de mobiliário, uma conversa despretensiosa, um livro interessante. Tudo são referências que ficam arquivadas na nossa memória, e às quais recorremos durante o processo criativo mesmo sem nos darmos conta de onde vieram ou quais gatilhos as resgataram.

Por isso, quanto mais informações você alcançar ao acaso, pelo olhar interessado ou pelo estudo, mais rico será seu repertório. Na mesa de trabalho, na hora da largada, são essas referências e as pesquisas em livros, acervos, na internet que darão o empurrão inicial para você sair da inércia do desespero – e fazer com que a calma comece a se estabelecer.

Depois de entender claramente qual o problema a ser resolvido, foque na solução. E, se você se distrair, foque de novo e de novo. E como focar da melhor maneira, como potencializar o foco?

Aqui, entra a busca pelo Flow, um “um estado mental onde o corpo e a mente fluem em perfeita harmonia, é um estado de excelência caracterizado por alta motivação, alta concentração, alta energia e alto desempenho”, segundo Mihaly Csikszentmihalyi, PhD e professor da Universidade de Chicago, e criador do termo.

E existem maneiras de você buscar esse Flow, algo bastante individual e que pode envolver música, meditação, movimentos, rituais, entre outras técnicas.

Eu gosto de desligar meu celular por pelo menos 20 minutos e não me distrair com absolutamente nada. Não é invenção minha, trata-se de uma técnica criada pelo italiano Francesco Cirillo chamada “Pomodoro”: você foca no trabalho durante um período de 20 a 30 minutos, depois dá uma trégua de 5 minutos, e então retoma com força total.

Canalize a sua energia para atingir alta motivação, alta concentração (foco), alta energia e alto desempenho que caracterizam o Flow.

Com o processo em andamento, cuidado com paixões exacerbadas. Pessoas criativas tendem a se apaixonar pela ideia, mas não é raro que esse insight as leve a fugir da proposta inicial.

Por isso, não importa quantos anos de carreira, nem o nível hierárquico, às vezes é preciso confirmar se o que está sendo feito está certo. Conte sempre com a opinião de um parceiro que esteja por dentro do projeto.
Focando um pouco no aspecto técnico, reserve tempo para dominar ainda mais as ferramentas primordiais ao seu trabalho – como o Photoshop para Diretores de Artes. Esse domínio faz com que deixem de ser um empecilho para se tornarem caminhos livres para impulsionar o flow e acelerar a operação e o desenvolvimento do projeto.

Se no início do texto mencionei que prazo e pressão podem jogar contra a criatividade, o riso é um grande aliado – sim, rir nos motiva e nos incentiva a desenvolver novas ideias, além de ficarmos mais saudáveis e inteligentes, segundo a neurociência.

Então, com frequência, esvazie a mente, relaxe, dê risada (nota pessoal: stand-up comedy, filmes e amigos engraçados por perto ajudam muito). Por mais que trabalhe num ambiente de alta demanda e pressão, curta a vida, pois expandir horizontes é também ampliar o território da criatividade.

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