Gostar do trabalho dá trabalho

9 de agosto de 2016 - 8h00

Caro estudante de publicidade, por que fazer publicidade? Tenho feito essa pergunta há algum tempo e ainda não encontrei uma resposta verdadeiramente inspiradora. Não que a minha seja lá grande coisa. Mas, e você? Com tanta coisa para cuidar, por que cuidar de marcas? Pergunto porque ainda há tempo.

A gente cria na nossa cabeça a pressa em virar especialista em alguma coisa, muito antes de nos tornarmos especialistas em nós mesmos. Faz parte. Mas tente não se subestimar. Qual o trabalho que você não poderia deixar de fazer? Aquele que tem a ver com fazer algo que verdadeiramente importe para você e cause um impacto que só você poderia causar? Se for publicidade, ótimo, bem-vindo.

Se não for, sugiro um cavalo de pau. E, confesso, não estou pensando somente em você. Acredito que o mundo seria um lugar muito melhor se mais pessoas fizessem genuinamente o que gostam. As pessoas se tratariam muito melhor se não houvesse aquele desespero silencioso de não se gostar tanto assim do que se faz. Seriam mais leves e desprendidas sem aquela estranha vontade de no meio da tarde bater a cabeça na tela do computador.

Nenhum de nós pode prever o futuro. Mas sabemos uma coisa: ele não será exatamente de acordo com o plano. Quem poderia prever que bem na sua vez, a crise se encontraria furtivamente com seu sonho. Que no meio de tantas incertezas um mercado menor seria uma certeza? Sentimento antagônico esse, né? Acelerar no gelo.

Acredite, por mais balela que pareça, historicamente, as crises inventaram profissões e uma delas foi a nossa. Em momentos como esse, as empresas precisam ficar mais leves, faz parte. Mas nos bons lugares para se trabalhar, sabe-se que fazer regime de talento é ficar fora do peso.

Então, não perca tempo com devaneios. Não desperdice energia com pré-depressão. As coisas não serão fáceis. Nunca foram. Mas começar uma carreira do jeito certo (para você) é possível. Experimente, por exemplo, começar fazendo o que está ao seu inteiro alcance e não depende de nada e de ninguém: aprenda sobre você e não somente sobre marketing.

Você não pode controlar uma recessão. Não pode controlar ser demitido ou se envolver num acidente de avião. A maioria das coisas está totalmente fora de nosso controle. Mas ninguém pode lhe dizer que você não pode aprender sobre você mesmo. Que não pode se cercar de pessoas inspiradoras. Ou fugir de quem o puxa para baixo: “não tem problema em não gostar do seu emprego atual — você está construindo seu currículo”.

Seja qual for o seu motivo, para fazer o que quer que seja, cuide para que seja verdadeiramente seu e vá além das contas a pagar. Porque contas você vai pagar para o resto da vida e vai custar caro, mas o preço do que você pode fazer com você mesmo pode ser muito maior.

Acredite: “aceitar fazer algo que não se gosta só para construir o currículo é o mesmo que deixar para fazer sexo somente na velhice”. A vida é curta. Gostar do trabalho dá trabalho. Se você ainda não faz o que gosta, ao menos, tente gostar do que faz.