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Jogando com o cérebro

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Opinião

Jogando com o cérebro

Você pode não gostar de videogame, você pode não jogar videogame, você pode não saber o que é videogame, mas seu cérebro sabe e você, e eu, e todo mundo estamos suscetíveis a esse tipo de estímulo


4 de julho de 2017 - 17h04

Eu não jogo videogame desde a infância, parei quando ainda existia o famoso “A-PULA e B-ATIRA”, mas pesquiso bastante sobre comportamento e o que influencia pessoas a prestarem atenção e se envolverem com as coisas e marcas (é a essência do meu trabalho como diretor de criação de live marketing). Como acredito que o que deixa informação residual nas pessoas é o impacto da experiência vivida, tenho lido sobre processos cerebrais e gatilhos hormonais que emocionam, incentivam e motivam pessoas. E o gatilho da vez vem através da chamada gamificação.

Gamificar, sendo simplista, consiste em elaborar uma narrativa ou processo de ganhos de recompensas (cuja dificuldade aumenta a cada passo) ou que permita a comparação de seus resultados com seus pares. E atualmente a gamificação está na nossa vida, não adianta tentar correr.

Ilustração fotolia.com

Decidi escrever esse artigo porque mesmo sabendo que tipo de narrativa gera hormônios que “atacam”, eu caí na mesma armadilha na minha vida pessoal e é realmente impressionante como você muda seu comportamento sem perceber.

Há pouco tempo passei a ir para a empresa pedalando, e instalei um app de cronometragem e geotagging chamado Strava, simplesmente para ver quanto tempo eu levava e qual era a distância percorrida.

O que eu não sabia (e só percebi depois) é que além de cumprir essa função, o app também ranqueia os tempos de partes de seu caminho e compara seus resultados com o de seus amigos e mesmo de desconhecidos, isso no dia, na semana, no mês, na vida, etc… Além disso, você e seus amigos podem trocar “skudos” (uma forma de “likes”, de endosso parabenizando-o pelo feito).

E eu que tinha como plano ir pedalando tranquilo pela Lagoa, vendo a vista e ouvindo os pássaros, me transformei num velocista acelerado, motivado a correr, querendo bater meu próprio recorde, querendo ganhar “badges” e quebrar recordes pessoais. Isso em três dias de uso! Meu cérebro estava ansioso pela dose de dopamina que essas “mini-recompensas” produzem. Era acabar a “corrida” (que antes era passeio) pra abrir o app e correr pra ver o meu resultado.

Somos vulneráveis a nós mesmos, e saber disso é essencial para construirmos um pensamento crítico, evoluirmos e principalmente inovarmos.

A questão é saber qual o limite. Até onde eu estou apenas me divertindo por seguir uma narrativa de game e até onde eu estou sendo influenciado pela minha necessidade (ou vício) em uma dose de hormônios

É isso, não temos controle total sobre nosso cérebro (e por consequência sobre nosso corpo). Eu fui atrás de uma dose diária de exercício (e por consequência de endorfina saudável) e acabei viciado sem querer na dopamina e adrenalina da corrida que o app (gratuito!) me ofereceu. Gamificação não é apenas uma palavra da moda dos marqueteiros como “tangibilizar” não, e um simples app (e esse ainda motiva a fazer exercício) pode mudar seu comportamento e por consequência mexer com sua vida profissional e pessoal.

Nada contra o app, ele é muito útil e extremamente divertido (e continuo usando-o, mas com alguma moderação). A questão é saber qual o limite. Até onde eu estou apenas me divertindo por seguir uma narrativa de game e até onde eu estou sendo influenciado pela minha necessidade (ou vício) em uma dose de hormônios.

Nosso cérebro é ancestral, hormônios ligados ao prazer foram evoluindo para nos obrigar sair em busca de alimento e sexo. O “novo” tem tanto valor para nós porque recebíamos recompensas hormonais quando íamos caçar (ou procurar sexo) em um território inédito. Então esse game hormonal faz parte do nosso cotidiano desde os primórdios, mas isso existia por uma necessidade real de sobrevivência e propagação da espécie. Mas e agora? Estamos jogando com esses hormônios ou eles estão jogando conosco?

Nós, criativos, fazemos uso dessa “motivação extra” de maneira orientada e organizada para causar impacto em narrativas de experiências de marcas, para gerar resultados em empresas através de ações internas ou com clientes ou mesmo para motivar times de vendas. E posso dizer que funciona.

A gamificação já faz parte da sua vida, procure, porque querendo você ou não, somos todos gamers.

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