30 de novembro de 2016 - 9h00
Foto: Reprodução
Você já viu o vídeo do robô Kuka ganhando de lavada do Timo Boll, o melhor jogador de pingue-pongue do mundo? Hod Lipson, autoridade em robótica e professor da Universidade de Columbia, usa essa sequência para ilustrar o impacto disruptivo da Inteligência Artificial em todas as indústrias, incluindo a da comunicação. Durante o último PR Global Summit, #PRovoke16, promovido pelo Holmes Report, em Miami, ele demonstrou como o recente salto na capacidade cognitiva dos robôs fará com que todas as decisões que dependerem de processamento de dados, como as de marketing, por exemplo, sejam progressivamente transferidas, nos próximos anos, para máquinas e algoritmos. E terminou com uma provocação: qual será o papel dos humanos e das disciplinas tradicionais nesta nova era?
Seria arriscado tentar projetar o futuro. Mas os debates durante o #PRovoke sugerem que os profissionais de Relações Públicas podem ganhar nova relevância estratégica na grande reconfiguração em curso. Em parte porque, ao contrário das disciplinas focadas exclusivamente no consumidor, sempre trabalharam com visão de públicos para a construção e gestão de reputação, uma expertise crítica no novo cenário em que o consumidor é, antes de tudo, um cidadão empoderado. Outro diferencial competitivo: como o modelo de negócio das agências de RP nunca dependeu da receita de mídia paga, mas da conquista de mídia espontânea via influenciadores, elas teriam mais facilidade para liderar a criação de estratégias inovadoras em linha com a nova equação owned, earned and paid mídia.
Neste novo paradigma, o know how de interação com múltiplos públicos que está na essência das Relações Públicas é potencializado pelas ferramentas digitais, para criar plataformas de diálogo e relacionamento altamente customizadas para cada segmento, tribo ou micro tribo, visando simultaneamente os objetivos de branding e conversão
É claro que não se trata aqui da disciplina na sua configuração original, ancorada basicamente na relação com a imprensa, intermediação que se tornou anacrônica no mundo hiperconectado, em que qualquer indivíduo com acesso à rede pode competir em influência com o mais bem pago ancora de telejornal – e no qual as recomendações peer-to-peer ganham força nas decisões de compra. Estamos falando de uma nova concepção de Relações Públicas e agências de RP que trabalham focadas nos objetivos do negócio e com a visão do novo marketing, invertendo a mão de direção “da marca para o consumidor”, que foi pilar do marketing brand centric tradicional, para atuar na lógica people centric do User Experience, ou UX, o qual prega o design de soluções sob medida a partir das expectativas e anseios dos usuários.
Neste novo paradigma, o know how de interação com múltiplos públicos que está na essência das Relações Públicas é potencializado pelas ferramentas digitais, para criar plataformas de diálogo e relacionamento altamente customizadas para cada segmento, tribo ou micro tribo, visando simultaneamente os objetivos de branding e conversão. Ancoradas em mídias proprietárias com capilarização nas mídias sociais, estas plataformas não promovem apenas engajamento, mas geram dados e insights para a inteligência estratégica do negócio, sinalizando oportunidades a partir de valores e comportamentos emergentes. Uma ótica em que não se trabalha as redes apenas como mídias para o storytelling da marca, mas como ambientes para o social listening, oportunidade de capturar o zeitgeist.
E como tudo o que acontece no digital tem de repercutir no presencial e vice-versa, os dados obtidos nas interações online são usados para tornar as experiências do live marketing cada vez mais personalizadas e assertivas, ampliando o arco de engajamento num ciclo virtuoso. Nesta abordagem, as Relações Públicas evoluem na direção do marketing de influência, identificando, conhecendo e mobilizando em favor da marca os players com poder de persuasão junto a cada público e contexto. Ao se reinventarem, os profissionais de RP garantem lugar de destaque nos times multidisciplinares de estrategistas e especialistas que desenharão as estratégias de marketing do futuro. Sempre trabalhando com dados e contextos, mas sem fórmulas prontas. O futuro nascerá de uma página em branco.