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Opinião

Um possível 2021

Experiências com o primeiro ano da pandemia e desdobramentos da corrida pelas vacinas permitem projeções mais acuradas para o ambiente de negócios


8 de fevereiro de 2021 - 12h54

(Crédito: Reprodução)

A reportagem de capa da edição semanal tem sido um tema recorrente em Meio & Mensagem — e assunto prioritário não somente do mercado da comunicação, mas da grande maioria dos setores da economia nacional.

Pudera: planejar nunca foi tão preciso e tão impreciso, tanto pelo caráter inédito do desafio que enfrentamos, e a consequente falta de referências para lidarmos com a situação, quanto pela instabilidade do cenário e incertezas quanto ao que virá em seguida. Para saber como as lideranças estão ajustando seus orçamentos para 2021, a jornalista Roseani Rocha entrevistou executivos de agências e de marketing de empresas de algumas das mais importantes indústrias e serviços, como Itaú, P&G e Vivo.

Pela apuração, a tendência é que os investimentos cresçam na comparação com o exercício passado. Mas, atenção: flexibilidade continuará a ser uma palavra-chave na distribuição de verbas. Quanto menor a fatia do montante “carimbada” para um destino fixo, de maneira que não possa ser remanejada, melhor. Essa demanda dos anunciantes é uma tendência há tempos, mas ganhou força durante a pandemia, sem dar sinais de arrefecimento.

Sob uma perspectiva mais macro, ao adentrarmos no segundo mês do segundo ano a ser marcado na história pela pandemia de Covid-19, a evolução de certas variáveis a influenciar o desempenho da economia permite uma projeção para os negócios ao longo do ano sob bases menos instáveis do que em qualquer outro momento, até aqui, da crise sanitária global. Vejamos.

O padrão de comportamento vigente das pessoas — seja por necessidade financeira, fadiga psicológica ou o estrago irremediável da propaganda negacionista — indica uma menor eficiência na imposição de restrições à mobilidade e ao comércio, dificultando, assim, o controle da propagação dessa segunda onda da doença. Faz duas semanas que a média móvel de mortes diárias no País supera as mil pessoas, enquanto os novos casos seguem em torno dos 50 mil. São números estarrecedores, tão altos quanto no auge da pandemia, em meados do ano passado, um patamar fúnebre ao qual nos acostumamos a aceitar resignados.

No campo das boas notícias relacionadas às vacinas, os primeiros estudos apontam que a da Oxford/AstraZeneca pode reduzir em 67% a transmissão do vírus. Foi a primeira fabricante a divulgar oficialmente tais índices, embora dados preliminares colhidos em Israel indique que a vacina da Pfizer também tenha essa capacidade de evitar a propagação — notícias para lá de animadoras no combate à circulação do novo coronavírus e ao surgimento de novas variantes (para as quais as vacinas também, ao que parece, são capazes de manter bons níveis de eficácia, ainda que um pouco mais baixos).

Já o desenrolar da corrida global pela vacina e os insumos para sua fabricação, regida pela clássica lei da oferta e demanda (nesse caso, com escassez absurda de produto), confere contornos mais realistas quanto a prazos para diferentes  grupos da população serem devidamente imunizados. Aventada especialmente a partir de outubro do ano passado, quando a segurança e eficácia das vacinas então em desenvolvimento passaram a ser uma realidade, a estimativa de uma normalização das atividades ainda nesse primeiro semestre de 2021 ficou otimista demais, mesmo dentre as economias mais avançadas, salvo exceções como Israel, onde 40% da população já recebeu ao menos uma dose da vacina e metade disso já completou o rito de imunização (duas doses).

Pelo andar da carruagem, aqui no Brasil, é possível que a coisa esteja mais próxima do normal, em termos de circulação das pessoas com segurança, no último trimestre. Essa hipótese aparece com força no cenário com o qual trabalham diversas grandes empresas, incluindo ao menos dois dos cinco maiores bancos do País, um deles privado.

Noves fora, num cenário realista, o horizonte para os negócios indica que teremos pela frente meses de retomada tão desafiadores quanto o ano passado, mas com muito mais experiência para lidar com a situação e a permissão para sermos otimistas especialmente quanto à reta final de 2021.

*Crédito da foto no topo: DKosig/iStock

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