Vacina contra a má reputação
A pandemia, que fez as farmacêuticas oferecerem soluções para cura da Covid 19 em tempo recorde, tornou-se também oportunidade para o setor reabilitar sua combalida reputação
A pandemia, que fez as farmacêuticas oferecerem soluções para cura da Covid 19 em tempo recorde, tornou-se também oportunidade para o setor reabilitar sua combalida reputação
A rapidez com que a indústria farmacêutica tornou possível a vacinação em massa contra a Covid-19 trouxe alívio para a população mundial e, ao mesmo tempo, um sopro de redenção da reputação para o setor. Conforme vários estudos divulgados desde o final do ano passado, a corrida das empresas em busca da vacina tornou a opinião pública condescendente. Nos Estados Unidos, uma pesquisa da The Harris Poll mostrou que em janeiro de 2020 (início da pandemia), apenas 32% dos entrevistados viam o setor de maneira positiva e ao final de fevereiro de 2021 o percentual tinha praticamente dobrado, chegando a 62%, bem acima da aprovação do governo, setor financeiro e até da mídia.
Antes da pandemia, de acordo com pesquisa Gallup 2019 o setor farmacêutico estava abaixo de todos os outros setores empresariais e até do governo americano, com uma percepção positiva de apenas 27%, o menor percentual registrado em 18 anos.
No Brasil a percepção de confiança e admiração do setor apareceu no Global Pharma Study, realizado pela consultoria dinamarquesa Caliber, sendo o país onde a indústria farmacêutica obteve o maior índice de aprovação, com 82 pontos, 12 pontos acima da média global, numa escala que vai até 100.
Historicamente o setor farmacêutico é acusado por práticas consideradas irregulares para as autoridades e às vezes fatais para pacientes, que têm custado bilhões de dólares em indenizações, multas e acordos judiciais. Mas em meio a uma pandemia quando o mundo precisava desesperadamente de vacinas, e as empresas conseguiram oferecer soluções para cura da Covid 19 em tempo recorde, surgiu a oportunidade para o setor reabilitar sua combalida reputação.
Apesar da aprovação dos brasileiros manifestada no Global Pharma Study, depoimentos recentes na CPI da Pandemia da Covid 19 no Senado Federal envolve fornecedores de vacinas numa teia de suspeitas. O imunizante que deveria servir para proteger as pessoas da doença tem a marca associada a uma crise política nacional alimentada por denúncias de corrupção e crime de prevaricação.
As empresas foram pródigas em desenvolver vacinas contra os males do coronavírus, mas não estão, elas mesmo, vacinadas contra a má reputação. Para curar esta dor crônica do setor, causada por práticas tantas vezes condenadas pela opinião públicas e tribunais de justiça, bastariam às empresas apenas duas medidas: compliance e comunicação. Compliance é a pedra pétrea da boa reputação porque define a conduta com respeito às obrigações legais, à ética e à governança. Já a comunicação tem que ser fundamentada na transparência com todos os stakeholders, principalmente em questões como precificação, estudos clínicos, relacionamentos com todos os elos do sistema de saúde efeitos colaterais e eventos adversos de medicamentos. Sem isto, a indústria farmacêutica terá apenas paliativos para os baixos níveis de reputação.
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