A influência do Brasil de verdade

No Brasil, uma simples fruta, tubérculo ou pão podem mudar de nome conforme a região: mexerica, tangerina ou bergamota; mandioca, aipim ou macaxeira; e pão francês, pão de sal ou cacetinho. Essa variedade linguística é apenas um reflexo da imensa diversidade cultural do País — e ajuda a explicar a força de um movimento, cada vez mais, presente no marketing de influência: o regionalismo.

Os números confirmam essa tendência. Pesquisa realizada por Opinion Box e Influency.me revela que 69% dos brasileiros já compraram ou sentiram vontade de comprar algo indicado por um influenciador de sua região. Além disso, 73% afirmaram consumir conteúdo temático relacionado ao local onde vivem, percentual que sobe para 76% entre integrantes da Geração Z (pessoas nascidas entre 1995 e 2010).

A presença de creators regionais também é expressiva: 69% dos entrevistados dizem seguir esses perfis, número que chega a 79% entre o público mais jovem, a Geração Z. O levantamento ouviu 2.448 brasileiros conectados de todas as regiões, em dezembro do ano passado.

“Se existem tantos dialetos em um país continental como o nosso, por que a publicidade insiste em falar com o mesmo sotaque? Para existir conversão, é preciso existir conexão. E a cultura é o modo mais efetivo de conectar um consumidor a uma marca”, diz Vinicius Machado, fundador e CEO da Sotaq. Especializada em conectar anunciantes a comunidades regionais, a agência desenvolve estratégias sob medida para ativações de alto impacto, capazes de dialogar com a pluralidade brasileira.

Hub de influência conecta brasilidades e marcas

Cearense radicado em São Paulo, Vinicius Machado mantinha um veículo de lifestyle focado no Nordeste, quando começou a receber pedidos de indicação de influenciadores locais. No início da pandemia, a procura aumentou de forma significativa, revelando uma oportunidade de negócio. Foi assim que nasceu a Sotaq, que em agosto completa cinco anos de atuação. A empresa consolidou-se como um hub de influência regional para agências, que oferece curadoria por meio de um time especializado em brasilidades.

Vinicius Machado, fundador e CEO da Sotaq: “O consumidor busca identificação e conexão”O desempenho acompanha a expansão do mercado: em 2025, a Sotaq registra um crescimento de três dígitos mês a mês e projeta encerrar o ano com faturamento 100% acima do alcançado em 2024. Entre as frentes em alta, está a curadoria de nichos. “Atendemos desde comunidades de médicos e gamers até vendedores ambulantes influenciadores no Carnaval, entregadores de delivery que também criam conteúdo ou mulheres que dirigem moto e trator”, conta.

A expansão da influência para além das capitais, com a valorização do interior, revela um público que busca identificação cultural. “Há muitos universos distantes dos grandes centros urbanos para explorar, como o agro e a música sertaneja. Quando falamos de sotaques brasileiros, de Norte a Sul, incluindo São Paulo, Rio e Minas, usamos ‘sotaque’ como metáfora para voz, linguagem e comunidades”, completa o CEO.

De Rock in rRo ao Círio de Nazaré: portfólio diverso

Embora tenha a regionalidade como especialidade, a Sotaq não se limita a creators de um território
específico. A atuação percorre de grandes festivais, como Rock in Rio, The Town e Comic Com Experience (CCXP), a celebrações tradicionais, como Círio de Nazaré. O ponto alto do calendário é o Carnaval, seguido pelo São João. A empresa também transita por todas as escalas de influenciadores — nano, micro, médios, macros e celebridades. O portfólio inclui campanhas para marcas globais e nacionais, como CVC, Itaú, Brahma, Uber, Magalu, McDonald’s, Coca-Cola, Natura, Havaianas e Assaí, além de parcerias com agências como Dentsu, Ogilvy, Africa e W/McCann. “Conseguimos competir com os maiores players do mercado sem perder a nossa essência”, afirma Vinicius Machado.

Com sede em São Paulo, escritório em Fortaleza e uma equipe de 80 pessoas, a operação abrange áreas como planejamento, estratégia, business intelligence (BI), jurídico, financeiro, controle de qualidade de conteúdo, relatoria e mensuração de resultados. A metodologia combina inteligência artificial (IA), dados e percepção humana como eixo central das entregas, equilibrando precisão tecnológica e sensibilidade cultural.

Papel da IA, fuga do mainstream e tendências emergentes

Na Sotaq, a curadoria começa de forma automatizada, com uso de IA para mapear dados quantitativos e indicadores gerais de reputação. Em seguida, entra o olhar humano, responsável por análises qualitativas mais profundas, que incluem background check e a identificação de perfis hipersegmentados. “Sempre digo que a IA não vai matar os CCs — criatividade e curadoria. Esses dois elementos exigem um olhar humano que a tecnologia não substitui”, afirma o CEO da agência. “O coração da Sotaq é justamente a curadoria humana. A maior parte do nosso time é formada por profissionais de curadoria. Esse é o pilar que garante entregas consistentes do início ao fim de cada campanha”, adiciona.

Segundo Machado, a evolução da creator economy mudou o consumo de conteúdo, fazendo o público dividir a atenção entre veículos tradicionais e novas mídias. Nesse processo, muitas marcas desperdiçaram tempo e investimento com megainfluenciadores que, no fim, falavam para a mesma audiência. “O consumidor busca identificação e conexão. Observamos um movimento claro de fuga do mainstream e de valorização das próprias raízes”, avalia.

Entre as tendências emergentes, o executivo destaca o user generated content (UGC) como ferramenta para ganhar escala, além de estratégias voltadas a comunidades digitais, sejam elas ligadas a localidades específicas, como o lifestyle do Nordeste, ou a interesses comuns, como gamers de Santa Catarina. Ele também alerta para um equívoco frequente: “ainda é comum pensar que a creator economy regionalizada se limita a nano e microinfluenciadores, quando, na verdade, também conta com macrocriadores e celebridades.”