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MONKS

Monks é a marca operacional global, data-driven e nativa digital da S4 Capital plc. Em todo o mundo, conta com mais de 7,300 mil profissionais, sendo 1,400 mil no Brasil. Oferece um portfólio completo, de soluções criativas a performance, sempre digital-first e baseadas em dados, criando experiências feitas para serem compartilhadas em pontos de contato eficazes. Entre seus clientes no Brasil figuram Netflix, Natura, Magazine Luiza, Google, Leroy Merlin, Pringles, Hotmart e Icatu.

‘IA é revolução e já muda forma como se faz publicidade’, analisa Sir Martin Sorrell

Publicado em 19/05/2025 (27 dias atrás)

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Sir Martin Sorrell, Fundador e Presidente Executivo da S4 Capital, em entrevista para O Globo.

Fundador e ex-CEO da WPP, maior conglomerado de propaganda no mundo, o empresário britânico — e detentor do título de “Sir”, concedido pela monarquia — está hoje à frente da S4 Capital. Com foco em marketing digital, a companhia foi criada por ele em 2018 e, após uma série de aquisições, é a 18ª maior do setor no mundo, segundo a Ad Age.

Apesar do momento negativo para a S4 na Bolsa de Londres (queda de 40% em um ano), Sorrell se diz otimista com o crescimento da publicidade digital — e, sobretudo, com o impacto da inteligência artificial sobre o filão.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista, concedida por Sorrell à coluna por videoconferência de Londres, onde mora.

Por que a marca operacional da S4 Capital mudou de nome?

Foi uma evolução natural. Media.Monks implicava certa especialização em mídia, em detrimento das outras áreas, como tecnologia. Monks encapsula melhor o que fazemos, de serviços de marketing a serviços tecnológicos.

Falou-se recentemente na “pior recessão no mercado publicitário desde a crise global”, como escreveu um jornal. O senhor concorda?

Não, porque existem dois mercados: a mídia tradicional e o digital, que é nosso foco. O primeiro está sob pressão, mas a mídia digital cresceu mais de 10% no ano passado. Do trilhão de dólares do mercado da publicidade, o digital já é US$ 700 bilhões. E, este ano, deve crescer no mesmo ritmo.

Mas restrições a orçamentos de marketing não pressionam a S4 na Bolsa?

As restrições nos orçamentos das big techs especificamente. Isso nos afeta porque metade de nossas receitas vem de clientes como Google, Meta e Amazon. Lembra quando a Meta viu suas ações caírem e Zuckerberg decretou o “ano da eficiência”? Isso também foi verdade para a maior parte do mercado de tecnologia. Mas, no caso do setor de bens de consumo, de anunciantes como Unilever, as receitas subiram com a inflação, e parte do dinheiro extra foi investido no digital.

Como a IA mudará a publicidade digital?

Vemos algumas tendências. A primeira diz respeito ao copy writing. O tempo necessário para se produzir um anúncio foi reduzido significativamente. Isso é bom, claro, mas ao mesmo tempo é ruim porque cobramos por tempo. Então, será preciso mudar o modelo de remuneração. A segunda é que, com a IA, podemos personalizar anúncios em uma escala que nunca vimos antes. É o que chamo de Netflix sob esteroides. O preço do anúncio pode diminuir, mas a quantidade será tão grande que teremos mais receitas. Isso tudo está acontecendo. O terceiro impacto, sobre o planejamento e a compra de mídia, deve levar uns três anos para se concretizar.

Do que se trata?

Os clientes não vão mais depender de um planejador de mídia de 25 anos, mas de um algoritmo mais eficiente para analisar informações para escolhas certeiras. A parte ruim é que você não precisará mais de 10 mil, 15 mil pessoas na rede de planejamento e compra de mídia. Mas a eficiência será muito maior.

A IA não ameaça modelos vigentes, como os anúncios nas buscas do Google?

O Google trabalha com IA há mais de uma década. Talvez não tenham avançado rápido com o Gemini antes do ChatGPT porque estavam preocupados com “alucinações”, com a ameaça existencial da IA ou por causa de sua posição de controle nas buscas. Mas eles têm enormes vantagens competitivas por causa do seus volume de dados e canais de distribuição.

Especula-se que a IA seja uma bolha. O entusiasmo não é exagerado?

Pode até ser bolha, mas a IA já é uma mudança fundamental na maneira como trabalhamos. É como a Web, o smartphone. É uma nova revolução tecnológica. Já há impactos reais e significativos, como eu disse.

Como eventual separação entre Google e Youtube impactaria a publicidade?

Daria mais alternativas, mas seria errado. Países precisam de setores tecnológicos fortes, por questão de segurança e para estímulo ao crescimento. Não compro o argumento de que é preciso desmembrar essas empresas para que haja mais competição. Na IA, os investimentos são tão grandes que você precisa de campeões tecnológicos para realizá-los. Para criar mais competição, você pode regulá-las, mas deixando-as intactas.

Como o Brasil é visto por anunciantes globais?

O mundo está se tornando mais fragmentado devido às relações entre EUA e China, Rússia, Irã etc. E o período de alto crescimento e baixos juros e inflação terminou. Nesse mundo, você precisa escolher sua área de crescimento. Assim, mercados da América do Sul, assim como regiões da Ásia e alguns países do Oriente Médio, se tornam mais importantes. E o mundo subestima consistentemente a força do talento criativo e tecnológico brasileiro e latino-americano. Isso começa a mudar.

Por quê?

Justamente porque esse mundo fragmentado, com tensão entre Sul e Norte globais, entre emergentes e desenvolvidos, pode promover crescimento em partes diferentes, projetando talentos como os do Brasil. E, se Trump ganhar e impor uma tarifa de 100% sobre produtos chineses, os chineses mudarão seus padrões de comércio ainda mais. Nesse contexto, crescerá o foco sobre a América Latina, que já tem na China seu principal parceiro comercial.

Entrevista originalmente publicada em O Globo.