Meio & Mensagem
15 de maio de 2013 - 2h51
Uma hora da manhã de sábado. Decolando de Cumbica. 14 horas de voo depois, Dubai. 14 horas!? Não. Mais. Faltando uma hora pra chegar, o piloto informa que em virtude de fortíssimas tempestades de areia o aeroporto está fechado e o voo é desviado para o Catar. 15 minutos depois, voltamos a ouvir a voz do comandante: o aeroporto de Doha está com excesso de tráfego aéreo (justamente porque o de Dubai está fechado) e teremos que pousar no Bahrein. Dito e feito. Ficamos em solo “bahreinístico” (solo é modo de dizer, ficamos dentro do avião) por mais uma hora e meia, aeronave reabastecida, here we go to Dubai.
Enfim, 50 minutos depois pousamos. Acertados os ponteiros com o horário local, já eram duas da madruga de domingo. Foram 17 horas de viagem, ao todo. O aeroporto de Dubai lotado. Um trança-trança de gente para tudo que é lado. E gente de tudo que é tipo, etnia, religião, etcetera. Parecia um domingo à tarde, mas estávamos bem no meio da noite. Quer dizer, eles, porque nós, ainda no fuso do Brasil, sete horas a menos, estávamos confusos. Não sabíamos mais em que dia nem onde estávamos.
Tivemos meio domingo e meia segunda para entrar nos eixos e depois foram alguns dias de trabalho. Reuniões, palestras, bate-papos com globais, torre de Babel total apesar de todos falarem a mesma língua: Bad English. Exceção feita aos nativos em inglês, claro.
Numa destas reuniões, no aprazível Le Royal Meridien Beach Resort, na terça à tarde, em um salão de convenções no décimo andar do prédio, com uma vista lindíssima para o mar e outra para o KeyNote projetado, eu senti um jet leg, uma espécie de tontura, como se estivesse num barco. Achei estranho e comentei com a Gabi Soares, head de planejamento da Borghi: é impressão minha ou essa merda está chacoalhando?
Houve um terremoto de 6.3 na escala Richter no sul do Irã. Acontece que o sul do Irã fica a uns cento e poucos quilômetros dali. Do outro lado daquele golfo árabe. O reflexo do terremotão por lá provocou tremores de Terra em Dubai e temores em nós, desacostumados habitantes do País-tropical-abençoado-por-Deus-e-bonito-por-natureza. Terremoto? Tsunami? PowerPoint? Aproveitei a descida do edifício para um cigarro. Ufa.
Curiosamente o tal tremor ocorreu, agora falando sério, em meio a uma apresentação muito inspiradora que tivemos durante esta Global Conference da Lowe Network. A palestra de Marc Mathieu. Não sei qual o cargo do Marc na Unilever. Formalmente falando. Não me lembro agora. Mas ele está lá para chacoalhar cabeças e pessoas. Pensa diferente. Desafia. Ambiciona fazer trabalhos memoráveis, inserir marcas no contexto cultural, colocá-las para conversar, entreter, inspirar pessoas e comportamentos.
Bom, a introdução deste artigo foi tão grande que vou pular o desenvolvimento do texto e ir direto aos finalmentes.
No fundo, quando sentei para escrever, minha ideia era falar sobre Dubai. Foi a primeira vez que estive lá. Dubai é paradoxal. É estranha. É petro-trilhardária. É desértica. É praia. É antiga. É ultracontemporânea. É ocidentalizada. É árabe. É turismo. É negócios. É adorada. É rejeitada. É tudo isso e mais um monte de coisas. Boas e ruins. O que Dubai nunca é, é ignorada. Porque Dubai é uma puta de uma ideia. Ideia corajosa e absurdamente bem executada. A ideia de criar uma Constantinopla do século XXI. O link entre Oriente e Ocidente. A passagem obrigatória para o extremo da Ásia. Um mundo que não para, em Dubai dá uma paradinha. Faz compras, se diverte, fecha negócios, deixa ali uma grana. E segue adiante. Assim, se um dia as reservas de petróleo se esgotarem, os dubaianos (dubalinos? dubalenses?) já tem uma outra fonte inesgotável de riqueza. Mas isso tudo me deixou com uma pulga atrás da orelha: será que, antes de existir assim como é, Dubai teria passado num pré-teste?
Fernando Nobre, vice-presidente de criação da Borghi/Lowe
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