COP27: o papel dos bancos na transição para uma economia de baixo carbono

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COP27: o papel dos bancos na transição para uma economia de baixo carbono

Marcelo Pasquini, head de sustentabilidade do Bradesco, afirma que instituição tem a meta de, até 2050, neutralizar 100% das emissões de carbono de toda a operação


17 de novembro de 2022 - 6h00

Um dos temas debatidos na Conferência das Partes sobre a Mudança do Clima (COP27) é o papel do setor financeiro no cumprimento de metas climáticas. A COP27, que reúne os 196 países que assinaram o Acordo de Paris, ocorre até a sexta-feira, 18, em Sharm El Sheikh, no Egito.

Porta Voz do Bradesco na COP27

Presente na COP27, Marcelo Pasquini, head de sustentabilidade do Bradesco, diz que instituição pretende neutralizar 100% das emissões de carbono até 2050 (Crédito: Divulgação/Global Innovation Hub)

Uma das instituições brasileiras que participam do evento é o Bradesco. Em entrevista ao Meio & Mensagem, Marcelo Pasquini, head de sustentabilidade do banco, falou sobre a importância dos financiamentos em prol da transição do País para uma economia de baixo carbono. Além disso, ele comentou ainda a necessidade de integração entre os setores privado e público na adoção de medidas concretas de enfrentamento aos impactos do aquecimento global.

Meio & Mensagem – É o segundo ano consecutivo que o Bradesco participa da COP. Que avanços você destaca na instituição a partir dessas participações?
Marcelo Pasquini – Participar dessas discussões da COP27 é importante, porque podemos entrar em contato com diferentes indústrias. Os bancos estão presentes em todos os setores da economia. Precisamos saber quais são as principais tendências do que está acontecendo em cada setor e as ramificações em decorrência de decisões relacionadas a clima para cada um deles.

M&M – Uma das questões importantes discutidas na COP27 é a necessidade de sair do campo das negociações para a prática. Como o Bradesco trabalha para isso?
Marcelo – Nos últimos quatro ou cinco anos, essa agenda mudou muito. Anteriormente, era mais teórica, distante da realidade dos negócios no dia a dia. Hoje, as empresas estão incorporando as questões relacionadas ao clima em suas operações. Em muitas delas, como no nosso caso, a área é uma prioridade estratégica. Em suma, não há dúvidas sobre os impactos que estão vindo por conta do aquecimento, o que não sabemos é a intensidade e o horizonte de tempo em que ocorrerão. No Bradesco, há um ano e meio, houve a decisão de se juntar ao Net-Zero Bank Alliance, que é uma aliança global, liderada pela ONU, de instituições financeiras que se comprometeram com a neutralização de carbono até 2050 em todos os seus portfólios. Ao mesmo tempo, um destaque é que passamos a comprar 100% de energia renovável para todas as operações, incluindo as agências. Buscamos também reduzir outras emissões diretas, sendo ar-condicionado a principal delas. Estamos substituindo os aparelhos por outros mais eficientes. Além disso, existem as emissões feitas a partir dos nossos clientes. Nestas, também temos a ambição de chegar, até 2050, em zero. É um processo que começa com a mensuração, que já fizemos por dois anos consecutivos, em 2021 e 2022. A partir disso, já criamos um ponto de partida de onde devemos dedicar o foco para a redução das emissões.

M&M – Diante de debates sobre greenwashing, como o setor financeiro pode contribuir para o cumprimento das metas climáticas?
Marcelo – Como banco, temos um papel cada vez mais importante no financiamento de projetos que tenham aspectos verdes positivos, com a transição para uma economia de mais baixo carbono. Quando se fala, por exemplo, em emissão de bonds e dívidas de transição, já fizemos financiamentos para a transição de duas empresas – uma brasileira e outra multinacional que atua no Brasil. São financiamentos com critérios e indicadores de redução de emissão que precisam ser cumpridos em todo o processo produtivo. Em resumo, é um tipo de recurso que auxilia empresas que buscam financiamento para a transição e, ainda, representa benefícios ambientais de maneira explícita. Por outro lado, temos muitas conversas com as companhias para entender seus planos em termos de desenvolvimento e de ações do ponto de vista de mudanças climáticas. Isso deve se intensificar mais nos próximos anos à medida que essa realidade passe a fazer parte do cotidiano das corporações. O banco tem uma responsabilidade dupla: de engajar mais empresas e de financiar o processo.

M&M – Como a iniciativa privada pode trabalhar junto à esfera pública em prol de resultados concretos na questão ambiental?
Marcelo – A interação entre o sistema público e privado deve se tornar ainda mais frequente em uma transição para uma economia limpa. É algo importante em necessidades de longo prazo – como no desenvolvimento de tecnologia, por exemplo – e, ainda, no âmbito de regulações que permitam que os bancos tenham um papel mais integrado às necessidades das empresas. Diante de mudanças climáticas de fato, haverá a necessidade de adaptação para que determinadas regiões tenham condições de se protegerem. Os bancos entram com o financiamento para empresas locais em quaisquer necessidades nesse contexto.

M&M – No final do ano passado, o Bradesco se envolveu em uma polêmica com o setor do agronegócio, no lançamento da ferramenta de cálculo da pegada de carbono, que sugeria a Segunda Sem Carne. Como conversar com essas duas áreas em busca de medidas relevantes ao meio ambiente e de que forma a participação do Bradesco na COP pode promover avanços em uma convergência de interesses?
Marcelo – O Bradesco é o banco privado de maior portfólio de empréstimos rurais. Trabalhamos  próximos dos clientes para garantir que eles tenham os recursos necessários e práticas que sejam social e ambientalmente positivas. Além das análises de risco socioambiental e climático para todos os empréstimos, atuamos, por exemplo, em determinadas regiões, com engenheiros agrônomos para assistência técnica. Vemos o setor como um dos mais promissores. Sendo assim, em meio às mudanças climáticas, ele poderá abastecer e alimentar uma grande parte da população mundial de forma mais pronunciada nos próximos anos. Temos um nível de produtividade e uma possibilidade de ser, inclusive, carbono negativo, que poucos países do mundo têm. Por isso, precisamos trabalhar cada vez mais juntos para garantir que, até 2030, consigamos avançar com as partes do setor que ainda não avançaram tanto.

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