“Transições de modelos favorecem concentrações”
Marshall Van Alstyne, da Universidade de Boston, acredita que o surgimento de leis vai permitir maior concorrência no ambiente digital
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Luiz Gustavo Pacete
11 de maio de 2017 - 10h04
O petroleiro John Rockefeller representou, por décadas, o símbolo da concentração no mercado petroleiro americano. A United Fruit Company concentrou, durante anos, a comercialização de frutas para a América Latina e o Caribe. Diante de transições de modelos, como a Revolução Industrial, que veio ainda muito antes desses dois exemplos, é comum que haja concentração. O que antes aconteceu com petróleo, banana e outros setores, atualmente ocorre com dados. A afirmação é de Marshall Van Alstyne, professor da Universidade de Boston e especialista em estudar a economia digital.
Ao Meio & Mensagem, Marshall, que também atua como consultor para países da União Europeia, afirma que uma nova fase será iniciada no mundo digital marcada por leis que atuem para garantir concorrência. Ele cita exemplos de empresas como Google, Amazon, Microsoft e Facebook que foram responsáveis por criar um novo ecossistema em um modelo de transição econômica e de modelo de negócios.
No passado, segundo Marshall, as grandes empresas, ao serem ameaçadas por entrantes, utilizavam ferramentas como aumento de volume de produção ou ajustes de preços e inviabilizavam a entrada de um concorrente, já atualmente, a lógica é diferente. “Para uma empresa que antes cobrava por seu conteúdo ter um concorrente que oferece algo de graça foi algo muito disruptivo e com impacto”, diz Marshall.
“O grande avanço do uso de dados e das plataformas abertas favoreceu a criação de um novo ecossistema que hoje pode ser visto de duas formas: das grandes empresas que nasceram como startups e concentram participação em vários mercados como o Google e o Facebook e casos de empresas que causaram grandes mudanças em seus segmentos igual a Uber e AirBnb, mas que também tomaram o caminho da concentração. A diferença, no entanto, é que esses dois últimos exemplos já encontram um cenário muito mais pulverizado”, diz Marshall.
Na visão de Marshall, há um ponto em comum em ambos os casos se comparado às indústrias tradicionais. “YouTube e Facebook basearam seus negócios em acessar conteúdo barato e distribuí-los de forma eficiente, o que afetou diretamente as empresas de mídias tradicionais, como NBC e Washington Post, por exemplo. Já Uber e AirBnb com uma base com zero ou quase nenhum custo, haja vista que o Uber tem a maior frota de automóveis do mundo sem possuir nenhum automóvel, atingiram em cheio os mercados hoteleiros e de transporte de passageiros.”
Muito do crescimento dessas empresas e de novos modelos está relacionado, inicialmente, na falta de legislações que acompanhem a velocidade do surgimento de novas empresas. “O tempo que se leva para desenvolver uma lei em vista do crescimento de negócios disruptivos é muito diferente e isso permite que esses casos que eu citei sejam bem sucedidos. Agora, se olharmos para mercados que são rigorosamente regulados como serviços médicos e indústria com base em grandes ativos como petróleo, gás e minérios, essa disrupção é mais difícil”, observa Marshall.
O professor acredita que o surgimento de empresas baseadas em modelos abertos continuarão sendo uma realidade e que é um movimento que não virá dos concorrentes tradicionais. “Assim como a Netflix virou um concorrente para muitas emissoras de TV nos Estados Unidos e a Nest, empresa de automação residencial, passou a incomodar a Whirlpool, ou o surgimento das fintechs ameaçando os bancos, novos setores vão sentir essas mudanças”, diz Marshall. “As empresas sabem quem são seus concorrentes diretos, eles entendem como eles competem e como os clientes vão vê-los. O que deve preocupar mais é a concorrência que aparece a partir de direções inesperadas”, observa Marshall lembrando que, originalmente, a Netflix foi vista como apenas outro canal de distribuição para conteúdo que se originou com estúdios, mas que passou a usar dados para fornecer conteúdo original.
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