Um mix de angústia e deleite

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Um mix de angústia e deleite

SXSW está além do seu incrível conteúdo. O que conta mesmo é a experiência de estar ali


30 de abril de 2015 - 5h23

Por Flavia Moraes (*)

Crie, inove e inspire, faça o bem, dê voz. Mais do que diversidade, pense em inclusão, pluralidade, engajamento com a audiência. Mais do que um target, identifique atitude, incentive o erro, aprenda com ele e, quanto mais rápido, melhor. Seja orgânico, local, solar, busque momentum, convergência e divergência simultaneamente. Redirecione, reduza, acelere, recicle. O mundo digital invadiu o mundo físico, tech deixou de ser sujeito e virou verbo, tudo agora é tecnologia aplicada. Mobile first é mobile only e, claro, hoje, ou pelo menos ontem, tudo gira em torno de vídeo, vídeo, vídeo e mais vídeo.

A quantidade de insights é astronômica e a agenda, impossível de seguir. Você vai ficar ansioso, vai perder o sono, a hora, vai encarar fila para assistir ao keynote do dia e a palestra do cara genial que ninguém conhece ainda, vai ter fila para o screening do filme da vez e para o concerto do rapper com o boné muito menor do que a cabeça. Fila para o hambúrguer e a cerveja do Hopdoddy, fila para o sorvete do Amy’s e fila para fila dos food trucks, e quando finalmente chegar a hora de comer, já estará na hora de correr para próxima e outra, e mais outra.

Não há escapatória. Mesmo que você seja um craque, é praticamente impossível não experimentar um certo grau de frustração e a certeza de que é impossível acompanhar a maratona e o ritmo de SXSW: “ano que vem vou estudar a programação antes”, “na próxima, venho com uma lista pronta”, “vou escolher uma única sala e seja o que vier”. Muitos já planejam uma revanche, o que, acredito, deve fazer muito bem para os negócios do festival mais festejado da indústria criativa. Meus amigos da Box 1824, por exemplo, trazem clientes e concentram-se na execução de um plano de otimização de tempo cuidadosamente elaborado, profissionais de Austin, sem dúvida, com muitos anos de fila em busca do melhor conteúdo. Por sorte, Hugh Forrest, diretor de SXSW interactive, outro veterano do festival, organizou as tendências mais importantes do ano em tópicos:

1. A economia criativa continua crescendo. Neste ano, o festival dobrou o espaço dedicado ao conteúdo relativo a startups;

2. A participação internacional também cresceu significativamente e reflete o movimento empreendedor internacional;

3. De programas de compartilhamento de carona a carros que dirigem sozinhos ou podem literalmente voar, o setor de transporte está revolucionando-se dramaticamente;

4. Outra evolução ocorre no cenário de delivery, em que, cada vez mais, consumidores querem receber suas encomendas mais rápido;

5. Robôs estão ganhando força e transformando-se em amigáveis criaturas domesticadas. Os participantes do festival puderam interagir com animais robotizados no Robot Petting Zoo;

6. SocialMedia, que sempre foi parte importante do festival, explorou, em 2015, o lado negro do meio, de cyber bullying à ação de organizações terroristas;

7. Com um futuro em que os objetos estarão todos conectados cada vez mais próximo, o festival apresentou mais de 70 painéis sobre a internet das coisas;

8. Catapultados pela busca da longevidade, inovação e disrupção invadiram a indústria da saúde for good;

9. Millennials querem muitas coisas, entre elas mais significado em suas vidas. Criadores de conteúdo e NonProfits puderam discutir ideias de um futuro melhor no “SXGood”;

10. As fronteiras que tradicionalmente separavam os processos criativos da música, do cinema e da indústria da interação estão cada vez mais obsoletas. SXSW2015 foi palco de centenas de painéis sobre convergência.

Mas SXSW está muito além do seu incrível conteúdo. O que conta mesmo é a experiência de estar ali. A cidade de Austin é encantadora, a cultura local mistura tradicional e contemporâneo sem fazer esforço. A música nas ruas, a comida, o acento texano, as primeiras ondas de calor da primavera: tudo é parte de um cenário perfeito, onde os protagonistas somos todos nós, sonhadores, criativos, inovadores e empreendedores do mundo todo, reunidos simultaneamente em uma cidade que vive por dez dias o sonho coletivo de um futuro tecnologicamente humanizado.

O próprio Hugh Forrest sentencia: “no final, o que as pessoas querem é se conectar com as outras em tempo real, face a face. Sentar com alguém para tomar um café e olhar nos olhos. Ainda não existe tecnologia capaz de mudar isso. SXSW é mais sobre pessoas do que sobre tecnologia.”

E quando os morcegos sobrevoam o rio Colorado no cair da tarde, um mix de angústia e deleite nos toma de assalto, como em uma sequência clássica de um filme de vampiros.

(*) Flavia Moraes é diretora de linguagem e inovação do Grupo RBS

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