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NRF

7 insights da NRF 2023

E acabou de terminar mais uma NRF, a maior feira de varejo do mundo.


20 de janeiro de 2023 - 15h50

Crédito: Divulgação NRF

Em pleno inverno em Nova Iorque, dezenas de milhares de representantes de algumas das maiores empresas do planeta, consultorias, institutos de pesquisa, personalidades e veículos de imprensa dividiram os palcos e corredores do imponente auditório Jacob Javits para compartilhar visões, tendências e expectativas para o ano.

E novamente como curador da missão Xpedition, organizada pela Brasil Varejo, me vi em meio a um grupo de empreendedores e executivos incríveis, aos quais sou extremamente grato pela confiança em viajar conosco nesta jornada de conhecimento pela Big Apple. Sorte grande a minha em ter ao lado um verdadeiro dream team de curadoras – Andrea Bisker, Camila Salek, Cris Duarte e Samanta Pinto – além dos especialistas em varejo Paula Costa e Jonny Madruga, que elevaram de forma exponencial esta experiência, com visitas a lojas, acompanhamento da NRF e diversas trocas de conteúdo. Como o olhar de uma libélula, formado por centenas de pontos focais processados no mesmo cérebro, combinamos a visão de cada profissional que estava conosco e, com a inteligência coletiva do grupo, tentamos saborear e digerir este conhecimento.

Fato é que, seja em um festival como a NRF, ou seja no dia a dia da nossa vida cotidiana, as informações não chegam de forma organizada e estruturada. Pelo contrário, elas vêm fragmentadas e multifacetadas: cabe a nós fazer as sinapses e conexões para chegar aos aprendizados. E no avião de volta para o Brasil, de onde escrevo agora, talvez seja um bom momento para tentar ligar alguns desses pontos.

Quais seriam, então, meus insights da NRF 2023?

1. Policrise: você ainda vai ouvir falar dela

Pois é. Agora que você achava que começaria a sair da crise gerada pela Covid, descobre que, como um Gremlin, ela se multiplicou. Sim, a policrise foi tema em diferentes palcos da NRF. Fatores como o aquecimento global, a crescente devastação da natureza, a absurda concentração de renda e a explosão da miséria interconectados no mesmo espaço-tempo nos levarão a crises sequenciais. Prevê-se o surgimento de novos vírus, o aumento de calamidades climáticas, o desaparecimento de espécies da fauna e flora e, como se não bastasse, a maior migração de seres humanos desde a segunda guerra mundial. A mitigação desses efeitos passará não somente por governos, mas por empresas, inclusive a sua. As novas gerações esperam que a sua organização ajude, na prática, a melhorar um pouco este caos (sem pagar a mais por isso). Sim, práticas sustentáveis têm tudo a ver com isso, muito além do mero discurso. E o comércio de artigos de segunda mão é uma boa maneira das marcas começarem a fazer algo concreto nesta direção, além de representar um importante gerador de fluxo para as lojas físicas: “a venda de itens usados é uma oportunidade não aproveitada por varejistas há muitos anos”, sentenciou Lee Peterson. A expressão “coloque a natureza no board da sua empresa” teve destaque na NRF, ao apontar a tendência de grandes companhias colocarem, em seu conselho, um advogado representante dos interesses de um cliente muito especial: o planeta terra. Entretanto, o fundador da Patagonia, marca de roupas outdoor, foi além. Yvon Chouinard chocou o mundo ao recentemente anunciar que a maior acionista da sua empresa passaria a ser a própria natureza, transferindo todo o patrimônio de sua companhia para ONGs comprometidas com a diminuição do impacto ambiental da humanidade.

2 . Metaverso: do estrelato ao anonimato

Como um participante do BBB, o metaverso viveu seus dias de glória na última NRF, mas perdeu essa fama já na edição seguinte. Em 2022, estava em todas palestras e painéis. Havia um verdadeiro frenesi em torno desta nova celebridade: o que é, onde vive, o que come? E não é que, de repente, o metaverso perdeu mídia? Mas, acredite, isso pode ser bom pra que ele volte melhor, renascido. Ainda que sem muito alarde, projetos de metaverso foram apresentados e tem coisa muito interessante sendo criada e testada, com um nível de realismo que pode mudar por completo as experiências digitais. Na mesma esteira, a inteligência artificial já foi mais falada em tempos passados, mas não se engane: ela continua sua trajetória de profunda transformação sobre a forma como vivemos e, claro, nos relacionamos com produtos e serviços.

3. Procura-se gente com brilho no olhar

Bastante óbvio falar que o colaborador é importante. Mas foi surpreendente notar que, em cada 10 palestras e painéis da NRF, talvez sete traziam o colaborador em destaque. Em um mundo em que o contato humano torna-se um diferencial para qualquer negócio, ter gente em casa com habilidades sociais, motivada e engajada é fator crítico de sucesso. Cada vez mais, empresas investem em longos períodos de capacitação e treinamento, criando ambientes para que seus funcionários expressem suas inseguranças, ganhem autonomia e se desenvolvam. Esqueça o técnico sabichão. Opte por gente com brilho no olhar. Essa, aliás, foi a escolha do CEO e fundador da marca de iogurtes Chobani. Hamdi Ulukaya emocionou a plateia com seu fantástico projeto de contratar refugiados: “quando você dá emprego a alguém cuja família estava em uma situação de fragilidade, ela se compromete com sua empresa para sempre”. A experiência da Chobani mostra que o refugiado torna-se um agente da transformação positiva na companhia, ao inspirar todos ao redor. Target, Pepsico, Starbucks, Lowe’s e Best Buy também estão entre as empresas que fazem bonito com seus funcionários.

4. Saúde mental: eu quero uma pra viver

A Covid trouxe essa lição: precisamos falar sobre nossa saúde mental. Pesquisas mostram que mulheres e adolescentes heavy users de redes sociais são ainda mais afetadas pelo problema. Nunca vivemos uma crise de amor próprio tão grande, com tamanha insatisfação sobre quem somos, o que leva a consequências graves: aumento vertiginoso de casos de depressão, consumo de ansiolíticos, cirurgias plásticas e até suicídios. Como possível antídoto, a espetacular Simone Biles, maior ginasta de todos os tempos e multimedalhista olímpica, deu uma verdadeira aula no palco principal da NRF: “você precisa encarar o problema de frente… às vezes, está tudo bem em não estar tudo bem”. Depois de ganhar a consciência, o caminho é sacudir e poeira e dar a volta por cima. Sua collab com a marca Athleta desenvolveu uma linha de roupas que valoriza o conforto das adolescentes. Nas partes internas das blusas, casacos e calças da marca, frases de apoio e incentivo aparecem bordadas, como forma de estimular o amor-próprio e a perseverança nas meninas.

5. Diversidade ou morte

A diversidade certamente não teve o mesmo palco que em outros anos. Mas não foi por deixar de ser importante: é justamente o contrário. De fato, talvez essa discussão já esteja até um pouca caduca. Assim como em um encontro científico a lei da gravidade provavelmente não é mais assunto, já está mais do que claro que a diversidade é chave para se chegar à inovação. Se sua empresa não tem um time diverso, sua capacidade criativa está seriamente comprometida. Sem criatividade não há inovação e seu negócio corre risco de vida. Simples.

6. Vender é bom, mas criar comunidades é muito melhor

Em uma realidade em que está na mão do cliente decidir onde e quando comprar seu produto ou serviço, sua empresa necessita criar momentos de relacionamento. Pare um pouco de pensar no que precisa vender e reflita sobre o que as pessoas querem para a vida delas. Quando gerar conexão com as pessoas que se relacionam com sua marca passa a ser o objetivo, o produto ou serviço que sustentam o seu negócio deixam de ser tão importantes. Comece pelo cliente. Um exemplo disso é o Café Santander, que oferece sua estrutura para o bairro em que está inserido, com salas de reunião, momentos de relaxamento, além de uma cafeteria deliciosa (o de Nova Iorque é bem melhor que o de São Paulo, vale dizer). Ou a rede de carros de aluguel Lynk & Co, que transformou o acesso ao seu veículo em um clube exclusivo, com direito a discoteca, aulas de gastronomia e entradas para espetáculos.

7. Celebre a turbulência

Mar calmo nunca fez bom marinheiro. Nós, brasileiros, sabemos muito bem disso… Adversidade já é parte da nossa vida e talvez seja um dos ingredientes que nos torna tão criativos. Em alguns momentos na NRF, chega a ser curioso assistir aos alertas apavorados das consultorias americanas sobre inflação, desemprego, taxas de juros e outras mazelas econômicas que a gente se esforça para driblar todo santo dia. Por isso mesmo, a visão do PhD e membro de conselho de grandes empresas James Cash, um homem negro, ex-jogador de basquete profissional, que venceu muitas adversidades na vida, fala muito a todos nós: “devemos celebrar a turbulência. Muitas vezes, quando estamos no meio de um problema, podemos não ter a noção, mas estamos sendo preparados para algo muito maior lá na frente. Não podemos esmorecer”. Simples, direto, emocionante.

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