Aprendendo a fazer marketing com os esquilos
A pandemia mudou nossas referências de valor. É hora de trabalhar sobre a percepção dos clientes
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Descobri qual é a melhor agência de publicidade do mundo: é a que atende o esquilo. Vamos ser honestos: esse bichinho é um rato com rabo peludo, mas tem status para entrar no grupo dos Ursinhos Carinhosos (lembra dessa?). Quem quer que tenha construído essa imagem, merece um prêmio. Em compensação, se existisse um Caboré de pior agência do ano, essa estatueta já estaria garantida para quem atende a conta do coentro… pense em uma hortaliça injustiçada! Acho que se o coentro tivesse um canal no Youtube já teria sido banido por tantos dislikes que recebe.
Se você olhar bem ao redor, vai perceber uma infinidade de casos assim. São coisas, marcas e pessoas que têm uma “imagem” construída.
No menu do restaurante, o marqueteiro passou um “raio gourmetizador” e transformou queijo ralado em “lascas de parmigiano”. Dizem que o camarão é uma “barata” que consegue nadar, mas já viram quanto ele custa no mercado? E quem foi que conseguiu nos convencer a pagar o dobro do preço em um simples abajur redondo chamado ring light?
Tudo que está à nossa volta tem a sua percepção, o seu “valor”.
Muita gente acha caríssimo pagar R$ 500 para um neurocirurgião remover um tumor do seu cérebro. Mas topa pagar 20 vezes esse valor em um telefone celular. São as ponderações malucas que fazemos.
Quem foi que disse que um protetor solar com “fator azul” vale mais? Ou que um xampu “sem adição de sal” deixa seu cabelo mais bonito? E como posso comparar o poder hidratante de um creme com abacate versus um com óleo de amêndoas?
Um experimento muito interessante acontece quando temos contato com um universo totalmente novo, onde não fazemos a menor ideia do preço das coisas. Por exemplo, o que custa mais caro: um papagaio, uma calopsita ou um periquito australiano? Há uma diferença de 10 vezes entre o valor deles. E nem sempre isso é por causa do custo ou da escassez. A maioria das vezes é pela demanda e pela imagem que temos das coisas.
O que faz o Marketing? Tem Marketing que faz de conta. Tem Marketing que faz gol. E tem Marketing que faz falta no adversário. Também tem Marketing que tira coelho da cartola. E Marketing que não faz nada, mas fala muito. No fundo, todos eles estão tentando fazer a mesma coisa: mudar a sua percepção.
O valor de algo na cabeça dos clientes não é uma simples divisão entre custo e benefício. Na verdade, é uma equação que compara percepções. Percepção de custo versus percepção de benefício. E isso muda tudo.
Estamos naquela época do ano que chovem memes sobre o custo por quilo de um chocolate em forma de ovo contra um em forma de tablete. Eles tentam checar se estamos fazendo uma decisão consciente. Mas essa comparação não é apenas racional. O que vale mais: 200 gramas de cacau e açúcar em forma de tábua ou o sorriso do seu filho quando vê um ovinho embalado para presente escondido em casa? A gente sabe que quem compra um presente de Páscoa não compra só o chocolate. Muito menos agora, durante uma pandemia.
Aliás, está aí uma daquelas raras ocasiões onde refazemos todas as “contas”. Durante a quarentena, as nossas referências mudaram muito. Quanto vale agora uma mensalidade na academia? E quanto vale um bom sinal de wi-fi em casa? Parece que as antigas equações de valor da nossa cabeça agora são divididas por uma nova taxa de câmbio, um fator de conversão, uma repriorização, uma revalorização. Na verdade, estamos justamente falando de uma mudança das percepções.
E é bem nesse momento que temos a grande responsabilidade de garantir que os nossos produtos e serviços sigam sendo valorizados. Nosso trabalho não é vender gato por lebre. Mas também não estamos aqui para fazer o gato virar coentro. Capriche no marketing do seu produto ou serviço, lembrando que a sua equação de valor precisa ser protegida nesse momento. Quem sabe um dia a gente consiga fazer isso tão bem quanto o esquilo?
*Crédito da foto no topo: Nick Collins/Pexels
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