Como perder a liderança
Chegar no topo não é fácil. Se manter é mais difícil ainda. O líder não deve se isolar e deixar de ouvir os que estão a sua volta
Chegar no topo não é fácil. Se manter é mais difícil ainda. O líder não deve se isolar e deixar de ouvir os que estão a sua volta
17 de novembro de 2016 - 14h27
Existem vários artigos, livros, cursos, workshops e palestras sobre liderança. O que ninguém comenta é o oposto: como perder a liderança. O que fazer para que isso não aconteça – e, o pior, é que acontece com frequência. Pergunte a Nokia, Motorola, Kodak e Palm o quanto dói cair do topo. Pergunte a dois de nossos ex-presidentes da República sobre o sofrimento que é ver a aprovação desabar de 80% para menos de 20% em poucos meses. E pense no esforço que é necessário para voltar à liderança!
Ficar no topo não é fácil. Tem sempre alguém tentando chegar lá. Gosto de buscar exemplos na II Guerra Mundial, um terreno fértil para estudar o comportamento humano. Adolf Hitler tinha mil defeitos, era uma pessoa do mal, satânica, mas não podemos negar que ele tinha as qualidades de um líder: carisma, persuasão, autoestima elevada, energia e habilidade política. Aproveitou a fragilidade alemã após a I Guerra Mundial, quando o país estava arrasado moralmente e financeiramente, e surgiu como salvador da pátria. Assim chegou à liderança, ao levar o Partido Nazista a conquistar o poder em 1933.
É claro que ele não tinha moral nem caráter. Para atingir seus objetivos mentia, manipulava, mandava matar os oponentes, perseguia os adversários. Mas esses defeitos nem sempre derrubam o líder. Stalin, Mao, Pinochet, Chaves e Fidel também agiram assim, mas não perderam a liderança. Então, onde Hitler falhou?
O gigantismo de certas organizações empresariais às vezes contribui para que seus executivos cometam esses erros. Se isolam, perdem o senso de humildade, de razoabilidade. É a síndrome do “comigo ninguém pode”
Uma das principais estratégias que ele usou foi convencer os alemães de que eram superiores e que mereciam conquistar o mundo e transformar os não arianos em escravos. Quem não gosta de ser o super-homem? Em pouco mais de um ano de guerra já tinha conquistado boa parte da Europa: Polônia, Tchecoslováquia, Dinamarca, Noruega, Holanda, Bélgica, França, Grécia, Iugoslávia e Luxemburgo.
Foi então que o líder piscou! Decidiu atacar a União Soviética. Seus generais foram contrários. Disseram que a Alemanha não estava preparada para lutar em duas frentes e muito menos enfrentar o poderoso Exército Vermelho.
Quem está no topo comete o erro de se isolar e viver num mundo à parte. Hitler acreditou nas suas mentiras. Acreditou que os arianos eram superiores, que os comunistas eram inferiores, que ele pessoalmente era Deus, ok, um semideus, e não deu ouvidos aos conselhos de quem estava a sua volta. Afinal, ele era Adolf Hitler!
Atacou a União Soviética no verão de 1941 achando que no outono teria conquistado Moscou. Perdeu a guerra, o poder e a vida, levando a Alemanha à destruição total.
Resta a lição. Chegar no topo não é fácil. Se manter é mais difícil ainda. O líder não deve se isolar e deixar de ouvir os que estão a sua volta. Deixar que a soberba, a arrogância e a prepotência tomem conta do racional são os caminhos para perder a liderança.
O gigantismo de certas organizações empresariais às vezes contribui para que seus executivos cometam esses erros. Se isolam, perdem o senso de humildade, de razoabilidade. É a síndrome do “comigo ninguém pode”. Surge lentamente. O líder deixa de observar minimamente os cuidados com a constante reinvenção de suas práticas, de suas estratégias e de suas relações com o meio que está inserido. O líder não ouve mais ninguém. E começa a errar. Isso leva empresas poderosas à ruína, à falência. E o líder ao ostracismo.
Compartilhe
Veja também