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Opinião

Competindo no escuro

Aquilo que não nos contaram sobre tornar-se uma liderança feminina no mundo corporativo


29 de abril de 2024 - 14h00

Há alguns anos, li o artigo da Catalyst chamado “Unwritten rules: what you don’t know can hurt your career” (Regras não escritas: o que você não sabe pode prejudicar sua carreira). O texto destacava que avançar no mundo empresarial atual requeria mais do que apenas talento e resultados. Muitas vezes, envolvia decifrar as regras não escritas da empresa. A falta de acesso a essas “regras não escritas” podia deixar muitas pessoas, especialmente mulheres, em desvantagem na progressão de suas carreiras.

Baseado nesse artigo e na minha experiência como mentora de mulheres, especialmente das mulheres negras, comecei a sistematizar os desafios enfrentados por elas que podem limitar sua ascensão a cargos de liderança. Esses desafios, muitas vezes, estão enraizados em códigos corporativos não escritos que podem não ter sido ensinados ao longo de suas trajetórias profissionais. Tais códigos incluem aspectos cruciais, como linguagem corporal e comunicação, redes de relacionamento e networking, política corporativa e diplomacia, negociação de salário e benefícios, visibilidade e promoção, além da gestão de conflitos e assertividade.

Sutilezas na linguagem corporal, tom de voz e estilo de comunicação podem influenciar significativamente a forma como as mulheres são percebidas no ambiente de trabalho. Aprender a usar esses códigos ao seu favor pode aprimorar sua capacidade de se comunicar eficazmente e construir relacionamentos no mundo corporativo.

As normas não escritas sobre vestimenta e aparência no trabalho também impactam a percepção e imagem das mulheres. Por exemplo, se essas normas são baseadas em padrões culturais eurocêntricos, as mulheres negras podem se sentir pressionadas a se adaptar a esses padrões, muitas vezes em detrimento de sua autenticidade e identidade cultural.

Já investir na construção de redes de relacionamento e networking é importante para o avanço na carreira. No entanto, as barreiras sistêmicas, como o fato de as mulheres terem menos tempo para participar de atividades sociais, pela dupla ou tripla jornada, e falta de representação em cargos de liderança, podem limitar mais o acesso e oportunidades delas ao networking do que seus colegas homens e brancos.

Compreender as nuances da política corporativa e da diplomacia também é crucial para o avanço na carreira. No entanto, as mulheres negras podem não ter sido expostas a esses aspectos durante sua formação profissional, o que pode colocá-las em desvantagem em ambientes corporativos.

A habilidade de negociar salários e benefícios é essencial para garantir uma remuneração justa e equitativa. Estudo do LinkedIn de 2019 mostrou que apenas 7% das mulheres negociaram o seu primeiro salário; já dados da Pesquisa Fenômeno da Impostora, do Discovery Inc, em 2021, apontaram que 57% dos homens o fizeram quando entraram no mundo do trabalho. Portanto, a menor exposição e os estereótipos de gênero e raça podem dificultar a aprendizagem da habilidade, resultando em disparidades salariais e falta de reconhecimento por seu valor e contribuições.

Por último, a maioria das mulheres também não foi ensinada a promover suas realizações e buscar oportunidades de promoção no ambiente de trabalho, o que pode limitar sua visibilidade e reconhecimento por suas contribuições.

A falta de treino nessas habilidades devido a estereótipos de gênero e expectativas sociais, pode prejudicar a capacidade das mulheres de se afirmar e liderar com confiança. Por isso, é fundamental que as organizações reconheçam e valorizem, intencionalmente, o talento e potencial das mulheres, proporcionando-lhes oportunidades de desenvolvimento e avanço na carreira. Ao fazer isso, as mulheres ganham, mas principalmente as empresas colhem os benefícios impulsionando a inovação, criatividade e sucesso organizacional.

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