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Opinião

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Sentiu o peso da responsabilidade, misturado ao sabor da liberdade


19 de outubro de 2020 - 16h30

CB, novo mascote da Casas Bahia (crédito: divulgação)

Ele era puro e totalmente inocente, livre de qualquer maldade que pudesse pensar ou sofrer, não se lhe direcionavam críticas ou questionamentos, vivia quieto, discreto, entre o conforto de não ser muito notado e a agonia de não se fazer presente. Isso até ontem, quando, ao chegar da escola, entrou diferente em casa, meio triste, meio bravo, e foi direto para o seu quarto, sofrer as angústias adolescentes dos que descobrem aos poucos a vida.

Mexeu no celular mais por força do hábito do que por alguma vontade específica, já que as redes sociais de repente, depois daquele dia, tinham se tornado hostis. Deixou de lado: pensou em jogar videogame, ouvir música, ver TV. Mas só conseguiu sentir saudade do tempo em que era somente um menino barrigudinho, pobre, despreocupado de tudo, vestindo mal a camiseta curta, usando as sandálias e o chapéu que ele nem sabia direito de onde tinham vindo, andando livre pelas ruas de São Caetano.

Será que as pessoas nunca deixariam de chamá-lo pelo seu verdadeiro nome? Fazia de tudo para que o chamassem agora somente de CB, mas não é fácil mudar uma impressão de tantos anos assim de repente. Será que algum dia deixariam de pegar no seu pé, reparando na sua magreza reforçada pelas roupas sempre justas, no seu cabelo liso, um pouco incompatível com seu tom de pele e sua suposta origem, na sua voz infantil e nas suas feições delicadas? Em mais o que reparariam? Na cor da meia, no modelo do tênis, na pulseira, na dobra da barra da calça?

Estava maravilhado e apavorado ao mesmo tempo, ficou pensando na vida que, de repente, se descortinava à sua frente, tão cheia de possibilidades e descobertas quanto de riscos e ameaças. Pensou nos lugares que poderia frequentar, nas pessoas que poderia conhecer, nas coisas que poderia fazer, até nos ideais que um dia talvez pudesse defender. Mas e se não aprovarem os seus gostos, vão rejeitá-lo? E se não forem as pessoas certas, vão condená-lo pelas companhias? E se suas atitudes, por melhores que possam vir a ser, forem mal interpretadas por toda a gente, que tipo de retaliação poderá sofrer?

Ele, que até tão pouco tempo era uma criança intocável, se deparava pela primeira vez com dilemas um tanto assustadores. De repente se viu lançado a uma arena com que tinha quase nenhuma familiaridade, rodeado de pessoas do mesmo tipo que ele, algumas muito populares, queridas e valorizadas, outras um pouco inexpressivas e esquisitas, mas todas sempre constantemente submetidas ao julgamento incessante e inclemente do público.

Sentiu o peso da responsabilidade, misturado ao sabor da liberdade. Naqueles minutos de dificuldade íntima, mal conseguia identificar em sua cabeça qual seria a melhor atitude a tomar – era a primeira vez que precisava tomar uma atitude. Nunca mais sair do quarto, fingir-se de invisível, tentar desaparecer novamente da visão daquelas pessoas todas? Mas já o tinham visto, sua imagem já tinha circulado (não sem algum estardalhaço) e voltar atrás talvez nem fosse mais possível. Vestir-se de outro jeito, tentar falar mais grosso, esconder o cabelo no boné, como parece ser o que todos querem e esperam de um adolescente?

Só que ele sabia que fazer o que os outros querem nunca ajuda ninguém a encontrar a si mesmo. Dar tempo ao tempo, deixar que reconheçam aos poucos suas qualidades e, quem sabe, parem de persegui-lo? Mas o tempo dos jovens é o agora e esperar pode ser ainda pior. Ou partir para cima, tentar parecer orgulhoso e convicto, falar mais alto, deixar mais evidente aquilo que tanto criticam? Mas isso requer uma estrutura psíquica forte, um estofo emocional que ele nem sabe dizer se tem. Como sofrem por tão pouco os adolescentes.

**Crédito da imagem no topo: audioundwerbung/iStock

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