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Opinião

Laboratório sociológico ou fábrica de cancelamento?

As lições de comunicação e de PR do BBB 21


5 de maio de 2021 - 18h41

(crédito: reprodução/gshow)

Maior reality show da TV brasileira, o Big Brother Brasil (BBB da Globo) é um laboratório vivo de comunicação e de comportamento humano, possibilitando muitos aprendizados no universo multimídia e multicanal da comunicação digital contemporânea. Em tempos de pandemia e de isolamento social, o BBB 21 impulsionou a maior audiência interativa da história do programa e serviu como experimentação sociológica, acentuando questões urgentes da sociedade que não são mais toleradas, como o racismo.

Num claro reflexo do momento social atual, a polarização pontuou fortemente esta última edição do reality show. O aprendizado aqui é bem claro: construção de narrativa no contexto de hoje deve levar em consideração a polarização. Estratégias de participantes como a Juliette foram apontadas como similares à forma da extrema direita enfrentar oponentes nas redes sociais. Juliette venceu ontem o reality show com 90,15% dos votos, numa final emotiva e musical.

Uma representante de Brasília (Sarah Andrade), foi eliminada depois de afirmar gostar do presidente Bolsonaro, mas disse que deixou de segui-lo nas redes como estratégia para entrar no BBB. “A casa mais vigiada do país” é um slogan e marketing institucional que permite muitos insights e lições para profissionais de relações públicas, políticos, CEOs e porta-vozes institucionais, tais como:

– Como analisar o comportamento humano e identificar desvios preconceituosos que alimentam ódio nas redes sociais?
– Como evitar repetir na vida real os erros de abordagem, as estratégias equivocadas, os excessos que levam ao banimento nas mídias sociais?
– Quais são os maiores aprendizados para as marcas impulsionarem influencers e escaparem da contaminação e reprovação por condutas exacerbadas?
– Como evitar a “fadiga de influencer” e não ir para o paredão da péssima reputação?
– Como tirar proveito da velocidade com que marcas e pessoas podem se tornar amadas ou odiadas?
– Como não ser cancelado ou banido do quadrado social para proteger negócios e propósito?
– Que lições aprender e adotar em doses certas no marketing de influência?
– Como encontrar a receita impecável de protocolos de comunicação assertiva e acertar na posologia?

No universo de PR (public relations), o fenômeno BBB tem vários ensinamentos. O programa alcançou uma audiência nunca vista, refletida num faturamento de R$ 78 milhões em cotas de patrocínio.

No dia do cancelamento da Karol Conká, eliminada com rejeição inédita de 99,17%, a emissora atingiu 36 pontos de audiência, o maior desde março de 2015, e 63% de participação, que não acontecia desde março de 2012. A pandemia foi aliada do BBB.

Em PR, a melhor estratégia é fazer o debriefing correto sobre erros e acertos do BBB 21, a maior “soap opera” digital interativa exibida em diversos canais e plataformas. A última edição, que terminou nesta terça (04/05), teve ainda um buzz extra nas salas de conversa do Clubhouse. Como se diz em inglês, foi “the talk of the town” em múltiplas mídias, acompanhada de julgamento moral dos eliminados semanais.

Vamos aos aprendizados – DOs e DON’Ts:

DOs:
– O mundo da política deve aprender que “o segredo do sucesso na era pop está na capacidade de atrair e fixar audiência, atenção. Por ser um produto de entretenimento, o BBB precisa atrair e fixar o público para cem dias de audiência contínua” (segundo Felipe Nunes, doutor em ciência política pela University of California Los Angeles, UCLA).

– É mais difícil disputar o BBB que uma eleição. No BBB o voo é às cegas, os políticos têm acesso a pesquisas (FN).

– O BBB é um microcosmo das grandes questões do debate público. Saber escolher posicionamentos que atraiam o público é uma vantagem e um diferencial.

– “Questões civis fundamentais hoje, como raça e gênero, migram para o campo do entretenimento midiático. Geram polêmica, que gera audiência, likes, comentários, reportagens e isso resulta em lucro” (FN)

DON’Ts:
– Inexistência de estratégia de comunicação.

– Incompreensão dos participantes das nuances e mudanças no comportamento humano (e as reações e sentimentos que desencadeiam nas redes sociais).

– Desconhecimento sobre a questão da velocidade com que uma marca/pessoa pode ser aceita ou cancelada, gerando fortes danos reputacionais.

– Descolamento do impacto do “sentimento das redes”, inerente num formato multiplataforma como o BBB, amplificando cancelamentos.

– Formato, performance e dinâmica do BBB:

– O reality show é uma espécie de “liquidificador social” midiático, espelho comportamental e reprodutor memético de estereótipos.

– O programa é envolto em provas, regras e formatado para incentivar disputas entre os confinados. Como reverbera muito (e em tempo real) tudo é levado imediatamente ao julgamento da internet. No banco dos réus, os autores de artimanhas e ardis midiáticos.

– O BBB 21 foi muito mais acompanhado pelas redes sociais, do que propriamente pela TV, canal oficial do programa. Foi o ano de mais acessos da GloboPlay no streaming.

– O perfil dos finalistas mostra que a pauta feminina continua sendo prioridade para o público.

O BBB 21 chega ao fim com todos os ingredientes de conflitos de narrativas e questões que polemizam nas redes. Depois do triste episódio da desistência de Lucas Penteado, isolado pelos colegas, a edição do reality que prometeu “cancelar o cancelamento” foi alvo do cancelamento mais ruidoso da história do programa, o da Karol Conká.

Espelho de uma era marcada pela polarização e pela intolerância, o reality show confirma que o caminho mais prudente é a adoção de protocolos clássicos da comunicação assertiva e da oratória. Soft skills são cada vez mais relevantes. Estratégia correta, empatia e propósito verdadeiro completam a receita.

**Crédito da imagem no topo: mrPliskin/istock

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