Opinião
Longe nunca é demais
O dilema dos discursos que tratam a inovação como elemento-chave para sobreviver e da grande insegurança vigente entre os tomadores de decisão
O dilema dos discursos que tratam a inovação como elemento-chave para sobreviver e da grande insegurança vigente entre os tomadores de decisão
“O medo torna o erro ainda mais provável e a experimentação quase impossível”
Tom Kelley, The Ten Faces of Innovation
Parece uma total contradição. Em entrevistas, lives ou Ted Talks, executivos insistem na inovação como elemento-chave para sobreviver. As corporações querem errar logo, aprender com os desacertos e prototipar soluções. Enquanto isso, surpreendentemente, pesquisas apontam um temor crescente – não apenas nas companhias, mas também em escolas e mesmo na mídia – de não conseguir acompanhar esse ritmo frenético das novidades tecnológicas.
Jornalistas e investidores tentam antecipar onde despontará o próximo cisne negro ou, melhor ainda, o novo unicórnio de US$ 1 bilhão. No noticiário, vemos com a mesma frequência os relatos das pragas virtuais e dos novos milionários com a última sacada na internet. Afinal, é hora de se entusiasmar com a cobertura do Wall Street sobre os titãs do Vale do Silício, de vender tudo e comprar bitcoins ou de temer o futuro cinza e distópico de Black Mirror?
Esse mesmo dilema se estende a nós, profissionais de comunicação. Apesar da ânsia pelo novo, vê-se uma grande insegurança entre os tomadores de decisão, fruto do medo enraizado e de uma cultura corporativa que, durante décadas, não tolerava erros. Ainda ecoa o velho bordão: “Desta vez você foi longe demais!” Para complicar, há uma avalanche diária de novidades geek e bugigangas de todo tipo. Já os updates demandam investimentos, tempo e treinamento.
Em nosso setor, as fórmulas tradicionais de se comunicar caducaram e só sobreviverá quem for capaz de compreender a fundo as necessidades dos clientes e propor soluções únicas. Nesse contexto, a tecnologia, por si só, é neutra. Dependendo do uso, terá impacto positivo, negativo ou nenhum. Todos querem inovar, mas poucos conseguem separar sinal de ruído, como alerta Nate Silver. Nesse mar de novidades, o que incorporar, quando e com que propósito?
Em 2018, segundo especialistas em tecnologia, já ficou para trás quem não entendeu o impacto de tendências como inteligência artificial, internet das coisas, criptomoedas, realidade aumentada e virtual, veículos autônomos, reconhecimento facial, robôs e fake news. Sem falar da nova corrida espacial liderada por Elon Musk. A chave para ser bem-sucedido, porém, não virá da adoção precipitada e irrestrita de tudo. As soluções, insisto, têm de ser customizadas.
Inovadores lançaram as bases da comunicação e ajudaram a impulsionar o seu avanço ao longo do tempo – de Gutenberg a Zuckerberg. Imprescindível, portanto, acompanhar as transformações disruptivas, mas saber avaliar os seus impactos e incorporá-las no timing exato. Como ninguém quer relegar a sua reputação à sorte com algoritmos, é hora de sair do piloto automático: o mundo aprendeu a respeitar quem erra e você já pode ir longe demais.
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