Marcas fofoqueiras

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Opinião

Marcas fofoqueiras

O consumidor deixa rastros de seus gostos (ou não) o tempo todo, resta às empresas saberem como lidar com isso


22 de abril de 2024 - 14h00

Já imaginou uma pizzaria que adivinha a sua fome? E um posto de combustível que sabe quando a sua gasolina está acabando? Que tal uma marca de roupa que conhece exatamente os seus looks preferidos?

Parece papo de marketeiro, mas não é. Estamos chegando lá.

As pessoas perguntam coisas para o Google que não contam nem para as suas famílias. O Instagram fica sabendo antes do meu chefe que estou planejando as minhas férias. O Mercado Livre percebeu antes do seu marido que você está grávida. O iFood tem certeza de que a sua cunhada começou uma dieta há três semanas. E a Mastercard já descobriu que o seu vizinho está traindo a esposa. Isso sem falar o que todos nós revelamos – sem usar palavras – para as nossas farmácias, streamings, celulares…

Você deixa rastros o tempo todo. Produtos que pegou na mão em uma prateleira, posts que ficaram mais tempo na sua tela, aplicativos que você apagou, músicas que ouviu, livros que colocou no carrinho, ligações que aceitou, newsletters das quais se desinscreveu, restaurantes aos quais retornou… o tempo todo você está gritando para o universo as coisas de que você gosta e de que não gosta.

A gente percebe quando nosso melhor amigo está apressado. Um bom profissional de marketing também tem que perceber isso dos seus clientes.

Sempre uso vídeos em minhas aulas. Mas durante os dois minutos que eles estão na tela eu não estou assistindo a projeção, estou olhando para a reação dos alunos. Fico percebendo em que parte eles sorriem e em que momento se emocionam. Alguém abriu a boca de sono? Qual foi o slide que as pessoas mais tiraram foto? Tento observar todo o comportamento da plateia para aprimorar minha performance. Já pensou se as escolas tivessem acesso a essas informações de maneira automatizada para aprimorarem o seu ensino? Isso já está acontecendo.

Um supermercado consegue saber quantas pessoas estão nas filas de cada caixa, o tempo médio de atendimento e o percentual de clientes que está com a feição aborrecida. Um carro consegue saber que a chance de acidentes está mais alta porque o motorista está com uma expressão muito cansada e um olhar disperso enquanto dirige. O espelho da loja de roupas consegue saber se a cliente gostou do vestido que está provando e sugerir complementos perfeitos.

A tecnologia está transformando o trabalho do marketing em algo mais profundo e o que faz essa mágica acontecer não é a capacidade de colocar mais logotipos na frente das pessoas, mas a possibilidade de satisfazer melhor as pessoas com base no que aprendemos sobre elas.

A inteligência artificial vai fazer com que cada vez mais marcas pareçam estar adivinhando o que o cliente quer. E esse processo começa com marcas que percebem esse potencial e querem saber ainda mais sobre o que deixa os seus consumidores felizes.

Dizem que o marketeiro é aquele que está vendendo lenços enquanto algumas pessoas estão chorando. Mas, nesse novo mundo, o marketeiro é aquele que já sabia que essas pessoas iam chorar e já ofereceu ajuda. Só para elas.

Mas lembre-se de usar essas informações com autorização dos clientes e para o bem deles. Se você coletar um monte de dados e não melhorar a vida de ninguém com essa informação, você será, no máximo, uma marca fofoqueira.

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