Os reflexos do mundo corporativo
Uma reflexão sobre o mundo do trabalho e a sustentabilidade emocional das pessoas nas organizações
Uma reflexão sobre o mundo do trabalho e a sustentabilidade emocional das pessoas nas organizações
Dizer que o mundo do trabalho mudou pós-pandemia, não é mais uma novidade. Todos nós temos vivido isso direta ou indiretamente desde março de 2020, quando abandonamos décadas de um modelo de trabalho, que obrigatoriamente, estava conectado à nossa presença física em um local determinado como “local de trabalho”. Ajustar nossas lentes para enxergar esta nova forma de trabalho, que não necessariamente é um local, significa ampliar nossa percepção e modelo mental sobre os vários impactos NO mundo do trabalho e DO mundo do trabalho em nossas vidas.
Estamos nesta transição de um mundo do trabalho baseado no controle e cobrança, ou seja: De onde as pessoas fazem o seu trabalho porque eu as cobro e porque eu controlo onde estão, para um mundo do trabalho baseado na confiança, onde sabem o que precisam fazer e entregam o combinado, independentemente de onde estejam. Falar parece simples, mas na prática mudar décadas de cultura do trabalho baseada no comando e controle para a confiança, não é simples. E os impactos da pandemia foram inimagináveis para cada pessoa. Como diz a canção, vivemos dores e delícias em relação as mesmas coisas, e este equilíbrio exige das organizações escuta, respeito e inclusão. Por exemplo, para muitas pessoas o tempo livre aumentou, deixaram de ficar horas do trânsito, mas para outras, diminuiu.
O mesmo aconteceu com a saúde mental. Quantas pessoas começaram a fazer terapia ou a buscar autoconhecimento? E para outras tantas pessoas, houve um agravamento de quadro de ansiedade ou passaram a ser ansiosas, com sintomas físicos? Neste período, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) o Brasil passou de 2º para o 1º país mais ansioso do mundo. Também segundo a OMS, 71% das pessoas com algum transtorno ligado a saúde mental, não tem acesso ao tratamento adequado. Este, definitivamente, é um tema sobre o mundo do trabalho e precisamos olhar isso de frente e de forma estruturada. O que antes era um assunto “do RH ou da área de Saúde”, passa a ser um tema do negócio, pois a grande parte destas pessoas se sentem incapazes de trabalhar, mas vão trabalhar mesmo assim, podendo impactar e agravar seu estado de saúde de forma severa.
Modelos mais flexíveis de trabalho são fundamentais para se iniciar uma jornada na busca de respeitar o individuo e os negócios. E quando falamos de modelos de trabalho flexíveis, não estamos falando necessariamente do modelo híbrido (também dele), mas de metodologias ágeis, de um processo de priorização robusta, onde as pessoas sabem o que precisam fazer e entregar, de programas de inclusão, onde as pessoas se sintam engajadas e ouvidas, de trabalho síncrono e assíncrono mais equilibrados, não predominando somente o trabalho síncrono e de programas que visem ajudar as pessoas a se cuidarem, sem terem o temor da sua avaliação ser prejudicada, por meio de programas que desenvolvam suas lideranças a proporcionarem ambientes psicologicamente mais seguros. O modelo híbrido de trabalho é, sem dúvidas, uma vantagem competitiva importante.
Sabemos que, socialmente, o tema Saúde Mental ainda é tabu. Basta prestarmos atenção nas diferentes reações que temos (ou que já vimos pessoas terem), quando alguém comenta que não está bem: “bora dar um “up” neste visual que você melhora” ou “você tem um emprego maravilhoso, não deveria estar se sentindo assim”. Estas reações são naturais, porque não conseguimos lidar com algo que nos fragiliza. Por isso as organizações têm um papel fundamental em dar espaço para que estes diálogos aconteçam e, não há mais volta: este é um tema do trabalho e das organizações, porque as pessoas são integrais.
Na Unilever, temos uma estratégia clara desde 2015, focada na saúde física, mental, emocional e na conexão com o propósito. Ou seja, acreditamos que as pessoas que fazem o que gostam e tem um equilíbrio entre os vários aspectos da vida, prosperam.
Trago algumas perguntas que podem ajudar as organizações a refletirem sobre um ambiente de trabalho que propicia às pessoas maior espaço para serem quem elas são e, consequentemente, impacta na saúde mental e nos resultados dos negócios:
• Como os temas ligados a diversidade são tratados?
• Como a liderança é preparada?
• Existem espaços para escuta das pessoas? Pesquisa de Clima? Como são tratados os resultados?
• Quais são os benefícios menos utilizados pelas pessoas? São conhecidos os motivos da não utilização?
• É ofertado atendimento psicológico gratuito para as pessoas?
Esta é uma jornada rumo ao futuro do trabalho e que, caso não tenha começado ainda, precisa começar hoje, de forma urgente e com a devida importância, construída de forma colaborativa com a liderança, as pessoas funcionárias, com apoio de profissionais especializados. Mas é preciso começar!
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