Um elogio que vale mais do que um Leão em Cannes

19 de junho de 2023 - 15h00

O trabalho cansa, desgasta, judia, mas traz compensações (Crédito: Divulgação)

Profissionais de comunicação e marketing são muito parecidos com artistas. Temos uma boa dose de senso estético e criatividade. E, no fundo, também fazemos as pazes com os holofotes. A quantidade de premiações que geram aplausos para os melhores trabalhos da área me fez acreditar que a nossa classe gosta muito de ser aplaudida. Depois me livrei desse preconceito. Porque entendi que, no fundo, todos gostam de ser elogiados. Um publicitário fica bastante orgulhoso quando a sua campanha ganha um reconhecimento no Festival de Cannes. Mas um vendedor também se sente o máximo quando fica no topo do concurso de vendas da firma e ganha uma viagem para a família. Assim como uma cabeleireira sente um reforço positivo muito forte quando a sua técnica de coloração vira referência. Um advogado pisa nas nuvens quando é chamado para dar uma opinião jurídica no telejornal líder de audiência. E uma empreendedora se emociona quando fecha uma grande negociação.

O trabalho cansa, desgasta, judia. Mas traz compensações.

Quando a nossa profissão nos entrega homenagens, dinheiro ou títulos, parte do nosso cérebro tenta nos convencer de que tudo valeu a pena por isso. Quem já ganhou uma medalha muito disputada sabe do que estou falando. É gostoso ser reconhecido. São minutos de fogos de artifício interno que geram uma memória feliz.

Mas há um outro grupo de pessoas que conhece um sentimento ainda melhor — aquele que aparece quando recebemos um bilhetinho da filha escrito “para o melhor papai do mundo” ou quando uma amiga manda uma mensagem dizendo que “jamais esquecerei o que você fez por mim hoje”. Ninguém precisou nos aplaudir em público, nenhum troféu foi pendurado na nossa parede e a nossa conta bancária não mudou. Mas os fogos de artifício foram ainda mais marcantes. O mesmo vale para o nosso trabalho.

“Que produto legal!”, “que lançamento incrível!”, “que recorde impressionante de vendas!”, “que embalagem bonita!”, “que propaganda criativa!”, “que aplicativo interessante!”. É muito gostoso receber todos esses elogios. Mas descobri que nada disso, repito, nada disso, chega aos pés de quem ouve do cliente: “O seu trabalho mudou a minha vida”.

A sensação de ter melhorado o dia de alguém, de ter salvado um negócio familiar da falência, de ter gerado conscientização para um tema importante, de ter ajudado um consumidor a conseguir alívio para a sua
dor… é outra categoria de satisfação. Pergunte a um músico que vê as pessoas ficarem com os olhos molhados quando escutam a sua melodia. Pergunte a um humorista que vê uma pessoa na cadeira de rodas tendo o dia mais sorridente do ano ali na fileira da frente do seu show. Pergunte a uma professora que recebeu a notícia de que aquele aluno que tinha dificuldades acaba de ser aprovado na faculdade que tanto sonhava. Pergunte a uma costureira que conseguiu fazer um vestido de noiva especial para a sua cliente que queria homenagear a sua avó. Pergunte a uma chef de cozinha que faz seus clientes relembrarem as suas origens com o seu tempero. Esse é o mais perto que conseguimos chegar de uma sensação de “fazer o que eu deveria ter feito”.

Quando você percebe que o seu trabalho melhora um pouquinho a vida de alguém, ele deixa de ser apenas trabalho.

Isso não é a romantização do seu emprego, é um fato. Todo mundo que trabalha com você e recebe o fruto do esforço das suas mãos, mente e coração, não leva apenas uma tarefa feita, um anúncio, uma embalagem, uma campanha… leva um pouco de você.

Ideias, campanhas, propagandas, promoções, eventos, roteiros, embalagens…. tudo isso pode ser apenas uma série de serviços que trocamos entre nós. Ou pode ser o meio através do qual fazemos a diferença na vida de muita gente.

Estou torcendo para que você ganhe um Leão incrível esse ano. Mas estou torcendo ainda mais para que muitas pessoas sejam tocadas positivamente através da sua profissão.