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Opinião

Um turbilhão emocionado de algoritmos humanos

No ProXXIma e na vida, temos visto que mergulhamos fundo talvez em demasia na lambança digital e que se não contrapormos algoritmos humanos ao algoritmo das máquinas, vamos perder


21 de maio de 2019 - 15h38

 

(Crédito: iStock)

“Existirmos, a que será que se destina?”, Cajuína, Caetano Veloso. A batida do coração como uma métrica da vida, mesmo com a vida conectada. A franca, profunda e vital necessidade de pararmos um tempo relevante para olharmos e sentirmos nós mesmos. A vontade de chorar no palco. Olhar para quem nunca olhamos. Uma reflexão sobre o medo. E a tecnologia em volta de tudo isso, afogando muitas vezes tudo isso, como se não houvesse saída possível.

Mas a boa notícia é que há, sim, saída possível. O primeiro parágrafo é um resumo dos sentimentos e emoções, mais que humanas, que senti durante os dois dias do ProXXIma. Estranho isso.

O ProXXIma não é sobre emoções e sentimentos. O ProXXIma é sobre digital. Negócios e soluções virtuais. Algoritmos e Inteligência Artificial. Isso é o ProXXIma e o que pretende ser.

Mas talvez seja exatamente porque andamos afogados em números, que sinto ver brotando meio que por toda parte uma sensação de basta, que vem do fundo do estômago, encoraja-se até a garganta e, ainda que aos poucos, mas certamente cada vez mais, ganha o espaço de um grito, antes mudo de tanta tecnologia.

No ProXXIma e na vida, temos visto que mergulhamos fundo talvez em demasia na lambança digital e que se não contrapormos algoritmos humanos ao algoritmo das máquinas, vamos perder. Perder algo ainda incerto, mas perder. E não podemos perder.

Pedro Cruz nos falou do medo. De como se manifesta esse profundo sentimento humano, que nos apavora, mas — isso não disse ele, digo eu — nos dá sentido.

Brian Solis, ele mesmo, o guru dos gurus digitais, nos alertou para o fato de que as redes sociais são um risco enorme para nossa criatividade e que a cada postagem é como se estivéssemos nos afastando de nossa essência vital. E que nesse ralo, podemos estar pagando o preço da perda de nossa original capacidade de imaginar. E sonhar.

Tim Lucas nos ensinou a olhar para os que nem sempre olhamos e neles descobrir enormes verdades transformadoras.

Walter Longo se emocionou às lágrimas ao contar a história de um menino com doença terminal, que na vida real vivia em conflito e isolamento, mas que no mundo digital era um super-herói. E que ao saberem de sua morte, hordas de fãs, pessoas reais do mundo real, vieram lhe prestar homenagem.

E Eco Moliterno, num momento de enlevo, nos mostrou que é o coração que devemos olhar e sentir cada vez mais daqui para a frente, tendo-o como métrica rítmica de nossa existência, notadamente essa existência embedada de Inteligência Artificial por todo lado.

Cabe, diante de todos esses alertas, notar que Inteligência Artificial é uma expressão que criamos nós mesmos, humanos, e que ela contém e revela o seu próprio fake, já que é nada mais que computacional e matemática. Artificial, note, é não real. Criada por engendramento. Armação, percebe?

Fizemos isso de forma tão brilhante com nossa própria inteligência real, que nos encantamos com nossa própria criação e, feito michelângelos atônitos, socamos o martelo de nossa infinita capacidade de pensar na testa do robozinho mais próximo e gritamos: fala, máquina!

E eles saíram falando um monte por aí. Funcionou. A estátua de Moisés seguiu calada. Mas nossas máquinas falaram, sim e, agora, andam ensurdecendo nossa própria voz.

Não podemos nos calar diante de nossa própria criação, por mais maravilhosa que seja (e é, by the way). Muito ao contrário, num mundo em que a tecnologia está em todas as partes e em que há no horizonte um nada distante e bastante possível assédio da nossa diversidade pela diversidade falseada de plataformas e sistemas, temos que, como nos ensinou Solis, voltar a olhar para nós mesmos e sermos mais humanos do que, possivelmente, nunca fomos.

Ao final do primeiro dia do evento, saí pelos corredores do WTC ao lado do Eco e nossa rapidíssima conversa foi exatamente sobre isso. Nosso coração é nossa grande e única saída (a sacada é dele). Nossos sentimentos são nossa arma. Nossa imaginação é nosso cinzel. Nossas sensações — aquelas básicas, tipinho, amor, crença, compaixão e, veja, até o medo — serão elas as poderosas forças de resistência para não perdermos, como tem medo Solis, nossa criatividade, nem nosso engenho de sonhar. O maior de todos.

Assim, desenhemos com empenho esse algoritmo belo. O mais belo de todos. Na verdade, um turbilhão. Um emocionado turbilhão de algoritmos humanos.

*Crédito da foto no topo: Scott Webb/Pexels

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