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Opinião

Você nunca vai se perdoar por não ter sido você

Vivemos um momento de inflexão na sociedade em que tudo parece se transformar de forma radical e o risco é ficarmos paralisados, quando o que o mercado espera é justamente o contrário


5 de dezembro de 2016 - 13h00

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Ensinamento de Edu Lyra, criador da ONG Gerando Falcões, deveria pautar nossas vidas (Crédito: Reprodução)

Certo dia, quando meu filho mais novo ainda era adolescente, ele me procurou e disse que estava muito mal. O motivo era perturbador: um dos seus melhores amigos, Carlão, ainda muito jovem, tinha câncer. O aniversário de Carlão aconteceria no final de semana seguinte e os pais haviam preparado um churrasco com a família e amigos para tentar motivá-lo para a vida. A situação era incomum e dura.

No domingo do churrasco, Carlão surge usando um boné, tentando esconder constrangido a queda dos primeiros fios de cabelo. Ao chegar ao local do evento, Carlão se depara com toda a turma de amigos e se surpreende: todos estavam carecas, entre eles o meu filho. Em uma decisão inesperada, todos decidiram cortar o cabelo no dia anterior. O amigo doente tira o boné, se junta à turma e certamente teve um dos dias mais importantes de sua vida. Poucos dias antes do churrasco acontecer, naquela conversa difícil com meu filho, ele me deu sinais de que a turma estava pensando em homenagear o amigo e alguém havia falado em todos ficarem carecas. Existia um clima de incerteza no ar, ninguém tomava a decisão. Na minha conversa com meu filho, lembro de ter dito: “Na dúvida, faça o que o seu coração manda. É melhor se arrepender por ter feito algo do que por não ter feito”. Às vezes, as oportunidades são únicas na vida. Carlão nos deixou em menos de um ano após aquele churrasco.

No ano de 1999, a minha esposa estava infeliz profissionalmente. Ela precisava buscar novos caminhos, vivia repleta de incertezas e inseguranças. No ano seguinte, iniciou o curso de arquitetura numa universidade. A média etária da turma era 20 anos de idade. Cinco anos depois, aos 42, ela recebia o diploma como uma das melhores alunas do curso. Hoje, comanda um escritório de arquitetura, é uma profissional competente, feliz, se sentindo plenamente realizada em sua profissão.

Dias atrás, ainda dentro de um avião que estava prestes a levantar voo, eu recebo uma mensagem que dizia mais ou menos assim: “Mauro, acho que nunca te disse isso, mas eu adoro você!”. Era uma mensagem inesperada de uma querida amiga. Respondi perguntando qual era o motivo da surpreendente mensagem. E veio a resposta quase instantânea: “Depois da tragédia com a Chapecoense, eu resolvi dizer para quem adoro, que eu adoro. Porque a vida pode ser muito efêmera”. Eu respondi com um sorriso, que ela não viu.

No início da semana passada, ao fazer uma palestra num evento, gastei um bom tempo falando sobre a transformação das profissões na área de marketing, das brutais mudanças que vamos enfrentar no mercado de trabalho nos próximos anos. Muitas pessoas na plateia me olhavam atentas e com expressão curiosa. Na hora do coffee break, uma pessoa chegou perto de mim e falou: “Você me gerou desconforto. Eu sei que tenho que estudar novas coisas para evoluir na minha profissão, mas não sei como, não sei o que fazer. Eu tenho receio de dar o passo errado e perder o meu emprego”. Eu ouvi atentamente, sorri de lado, e respondi: “Se você continuar a fazer o que faz hoje, você não será mais relevante para a sua empresa. Na verdade, o seu desemprego começa pela sua atitude de não tomar iniciativa de sair do lugar”. Ela sorriu um sorriso sem graça, talvez surpresa com a rudeza da minha resposta.

Ontem, ao abrir a minha caixa de entrada, me deparei com um artigo chamado “O que você faria se não tivesse medo?”. Logo no primeiro parágrafo do texto, vem a indagação a respeito dos sonhos que eu poderia ter realizado se não fossem os meus temores. O texto termina com uma afirmação desestabilizadora sobre o futuro: “Você nunca se perdoará por não ter sido você”. Essa frase ainda continua em minha mente. O fato é que muitas vezes desistimos de fazer coisas que sonhamos em função dos outros, da família, de preconceitos e de razões que, no fundo da nossa alma, nós não concordamos integralmente. Ou seja, aceitamos passivamente que os sonhos continuarão sendo sonhos durante toda vida.

Não, não, não! Esse não é um post de autoajuda, acho que nem sou bom nisso. Mas é sobre alguém, no caso eu, que, de repente, vem sentindo que “a ficha caiu”, que é hora de despertar para determinadas coisas. Vivemos um momento de inflexão na sociedade em que tudo parece se transformar de forma radical. São tantas oportunidades e tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, em múltiplas dimensões, que fenômenos estranhos podem acontecer, como ficarmos paralisados diante de tantas inseguranças e incertezas.

Os preconceitos, as fantasias e os temores que inundam as nossas mentes criam barreiras e inibições. Perdemos oportunidades na vida em função do nosso comportamento medroso e covarde. O medo de levarmos a nossa vida para outra direção, de protagonizarmos a mudança, ainda é algo comum, mas hoje somos seres humanos diferentes de um passado recente. Nesse sentido, os nossos filhos parecem mais sábios do que os pais, portanto, aprendamos com eles.

A frase de Edu Lyra, o incrível criador da ONG Gerando Falcões, é emblemática e deveria se tornar o guia de nossas decisões de vida: “O importante não é de onde você vem, mas para onde você vai”.

No mundo em que vivemos hoje, o nome do jogo é atitude.

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