4 de julho de 2022 - 0h00
Em tempos de volta ao formato presencial ou híbrido, muito se discute sobre como devem ser os rituais de trabalho, integração entre times e novos modelos de operação em agências. Alguns dos argumentos para a volta estão relacionados à produtividade e à eficiência que havia antes do modelo 100% remoto, implementado obrigatoriamente pela pandemia.
Ao mesmo tempo, o que tenho ouvido em muitas conversas com executivos de empresas e de agências é que falta motivação pessoal e incentivo para que o time volte a operar nesse formato. Além disso, existe o questionamento sobre a real necessidade de estar presencialmente em um lugar, o que se provou não ser essencial para o desenvolvimento e a retenção de cultura e bons relacionamentos interpessoais no trabalho.
Uma das obrigatoriedades que o modelo presencial/híbrido exige é que a residência de todos os funcionários que trabalham juntos seja na mesma cidade ou, no mínimo, em cidades muito próximas ao local sede do escritório. Isso faz com que grande parte das pessoas vivam experiências e tenham referências similares no dia-a-dia.
Para quem trabalha com serviços que não impactam na construção de narrativas de marcas, isso pode não ser relevante. Porém, para profissionais que trabalham construindo histórias para atrair e reter consumidores para diversos tipos de serviços e produtos e aumentar o engajamento com as marcas, a restrição geográfica pode ser limitante, além de reforçar narrativas padrões já tão consolidadas no mercado publicitário.
Na ℓiⱴε, os cerca de 100 profissionais que trabalham na empresa estão espalhados por 10 estados brasileiros. Isso amplia consideravelmente a visão do time que está planejando, criando e executando campanhas para marcas nacionais, mas sem abrir mão da importância do apelo, inclusão e reconhecimento regional, considerando o país de proporções continentais em que vivemos.
Um outro ponto que vale refletirmos é sobre a exigência de as pessoas estarem juntas em momentos nos quais não há a real necessidade da troca física para que o trabalho aconteça, o quanto isso pode impactar negativamente o envolvimento das pessoas com a empresa e a possível desmotivação que isso pode gerar.
Na criação de uma campanha – e até mesmo no dia a dia de execução da mesma -, o trabalho remoto com boas ferramentas, processos e metodologias bem organizadas e disseminadas atendem perfeitamente o que precisa ser feito. Isso acontece na ℓiⱴε há 3 anos e meio, quando começamos a operar em um formato remoto. Desde então, temos diversas entregas de campanha e trabalhos com enorme sucesso nesse formato.
Nos últimos meses, criamos, produzimos e executamos campanhas para Cornershop, Nike, Natura e YouTube com profissionais trabalhando em diversas cidades, criando e desenvolvendo todo processo de trabalho de maneira remota. Com exceção das diárias de gravação, todos os demais processos aconteceram 100% online, envolvendo cliente, agência, produtora de vídeo, áudio, fotógrafo, entre outros.
E os profissionais envolvidos, olhando pela lente das suas vidas pessoais, puderam – e podem – continuar morando na cidade que quiserem. Ou até mesmo não terem um lugar fixo de residência, como acontece com alguns de nossos colaboradores.
Aline Rossin, CEO da ℓiⱴε
Isso pode parecer não ter um impacto direto na qualidade do trabalho entregue, mas vemos por aqui que influencia, e muito, na medida que a busca por uma vida mais equilibrada – com espaços ao longo do dia para o cuidado com a família, filhos, corpo e mente – são absolutamente fundamentais para um dia de trabalho mais sereno e produtivo.
Rodamos mensalmente uma pesquisa interna chamada “Como você está?”, que mede os níveis de motivação, sentimento de prazer ou insatisfação e nível de estresse em relação ao trabalho. A pesquisa aborda perguntas como: “Como você está se sentindo agora?”, “Você tem conseguido fazer pausas ao longo do dia?”, “Que nota você atribui ao equilíbrio entre a sua dedicação ao trabalho e a outros papéis e atividades da sua vida, segundo as suas expectativas?”, entre outras. E os resultados têm sido muito animadores.
Cerca de 65% dos respondentes se dizem calmos ou alegres, 75% dizem conseguir fazer pausas frequentemente e 57% consideram ter equilíbrio, ou muito equilíbrio, entre a dedicação ao trabalho e outros papéis na vida.
Para complementar, dois casos interessantes que reforçam o trabalho remoto como um benefício na visão do colaborador. Segundo Brian Chesky, CEO do Airbnb, a página de carreiras da empresa recebeu 800 mil visitas nos dias seguintes ao anúncio de que a empresa continuaria com o trabalho 100% remoto para sempre. Ainda nessa linha, um diretor de machine learning da Apple, nos Estados Unidos, com mais de 10 anos de casa pediu demissão após a empresa voltar a obrigar os colaboradores a irem ao escritório três vezes na semana.
Aqui na agência, nos últimos meses, já tivemos três casos de pessoas que entraram no time após se demitirem de seus antigos lugares, por não quererem voltar ao trabalho presencial e/ou híbrido.
Sem dúvida, há muito para se construir e desconstruir, mas os resultados das pesquisas internas de satisfação dos colaboradores, a qualidade dos trabalhos que têm sido feitos para os clientes e o crescimento da agência em receita e faturamento nos últimos 12 meses mostram que é um modelo que veio para transformar e evoluir muito do que precisa ser evoluído nesse mercado.
Acreditamos que o norte que apontamos nossa bússola está nos levando a novos e interessantes mares, e se quiserem fazer parte disso com a gente, será um prazer!
Texto escrito por: Aline Rossin, CEO da Live.