Pyr Marcondes
17 de agosto de 2020 - 7h33
Estamos falando de um contingente de 3,5 bilhões de potenciais novos usuários para a maior rede social do Planeta. Uma plataforma de conexão, interatividade e negócios de trilhão de dólares. Que, no momento, vive nos países desenvolvidos e em parte dos mercados em que já opera, uma fase ou de estabilização ou de queda. Nos EUA, seu maior mercado, está em queda.
No Brasil, segue crescendo, mas não mais a taxas aceleradas, como há poucos anos atrás.
Os mais jovens, como os integrantes da Geração Z, nascidos a partir de 1995 e até 2015, parecem não ter tanto apreço pelo Facebook. a conferir, mas o fato é que parecem estar mais interessados no Instagram (que é do Facebook) e Tik Tok. Além disso, há também o fato de que uma parte dos usuários habituais do Facebook parece começar a mostrar sinais de queda de entusiasmo na interação com ele. As razões vão desde necessidade de algo diferente, renovação pura e simples de vontades e hábitos, até desconsolo pelo crescente mar de conteúdos tóxicos, fake news e radicalizações de posições político-partidárias-sociais e de diversidade de comportamento e sexo que infestam a plataforma.
Assim, enfim, Mark Zukerberg segue seu plano de levar internet a zonas geográficas mais distantes dos grandes centros econômicos onde já se instalou, notadamente na Ásia, África e América Latina.
Isso começou faz tempo, já falei sobre esse projeto anos atrás aqui mesmo no ProXXIma, num esforço denominado inicialmente internet.org, que começou em 2015, e que depois passou a se chamar Free Basics. Este ano mudou o nome para Discover. Os últimos números dão conta que o projeto está hoje em operação em cerca de 55 países.
Quando tudo começou, Zukerberg foi taxado de colonialista digital, porque ao conectar essas pessoas a internet, ofereceria o Facebook como a página de entrada oficial necessária de acesso a web. Uma troca.
A crítica pode ser pertinente, mas no mundo dos negócios é uma regra que não foi inventada pelo Mark. Assistimos televisão de graça porque anunciantes pagam a conta. Aceitamos, seja nos países mais avançados do mundo, seja nos mais pobres e longínquos, há muitas décadas, a publicidade como moeda de troca para ver nossos programas favoritos sem pagar nada por isso. O projeto do Facebook usa o mesmo raciocínio e mecanismo. Podemos ser contra, ok, mas é uma regra vigente faz tempo.
A versão Discover parece ser menos rigorosa com relação a esse critério, mas enfim, esse é o jogo e essas são suas regras.
O Google, que está nesse movimento também, pretende levar internet a essa gente toda investindo bilhões de dólares em algumas ideias e infra-estruturas, sendo a principal delas uma que parece meio maluca, que é a de conectar bilhões de novos usuários através de balões.
O Facebook tentou drones.
Mais recentemente, está apostando em espalhar infra-estrutura de conexão através de hubs de 60 GHz mundo afora, grudados em postes ou pontos elevados fisicamente do solo. É um CAPEX de tirar o fôlego.
Outro caminho é trilhar uma versão mais avançada e atual dos antigos cyber-cafés e lanhouses, provendo pontos de wi-fi nas regiões em que deseja ocupar.
É um desafio, literalmente, planetário.
O Facebook tem hoje mundialmente em suas propriedades cerca de 2 bilhões de pessoas. Se conseguir conectar outro tanto nos próximos anos, compensa a perda de audiência nos países mais avançados e nas populações mais jovens, além de ocupar novos mercados e, em tese, pode até dobrar de tamanho.
É uma tese. Que até o momento parece firmemente fixada na mente de Zukerberg e de sua companhia-plataforma global, cujo tamanho é já bem maior do que centenas de países do mundo.
*Foto: Centro de wi-fi do Facebook numa loja popular no Kenya.