SXSW: Sua mensagem sobrevive à amnésia do dia seguinte?
Como as marcas vão se recriar em um mundo digital onde as relações humanas se fazem imperativas mesmo com tantas novas tecnologias?
Como as marcas vão se recriar em um mundo digital onde as relações humanas se fazem imperativas mesmo com tantas novas tecnologias?
18 de março de 2024 - 10h18
O SXSW é um evento que sempre nos conecta a novas visões de mundo, baseadas nas principais tendências que aqui são afloradas e debatidas. Não à toa essa é minha terceira vez no festival. Quando pensamos em eventos como esse, é natural esperar que conversas sobre tecnologia e inovação sejam as protagonistas, especialmente com a inteligência artificial (IA) tão em alta. Mas as relações humanas também são um tema emergente por aqui.
As conversas sobre o resgate da essência do que significa ser humano, também surpreenderam e se destacaram aqui em Austin este ano. Como seres humanos, buscamos atenção. Precisamos ser ouvidos, escutados e não apenas sentir que alguém está olhando para nós em uma conversa, mas que essa pessoa está realmente captando o que queremos dizer, que está presente naquele momento.
Isso sobrevive a uma era onde a tecnologia permeia todos os aspectos da vida humana, prometendo eliminar fricções e tornar tudo mais eficiente. A psicoterapeuta belga Esther Perel falou sobre isso durante a sua participação na gravação do podcast “Unlocking Us” (‘Desbloqueando-nos’)” da Dr. Brené Brown , aqui no SXSW. Esther abordou como as relações humanas são fundamentadas na fricção, e que precisamos olhar para a atenção genuína e para a escuta ativa. Alguns dos insights valiosos da palestra compartilho aqui com vocês, pois valem a reflexão. Segundo Esther Perel, “Listen shapes what the person will tell” (‘Ouvir molda o que a pessoa vai contar’) e “The listener create the speaker” (‘O ouvinte cria o locutor’). E Brené Brown diz que “attention is a undervalued form of love” (‘Atenção é uma forma de amor subvalorizada’). Vocês concordam? Eu concordo totalmente.
Em um mundo onde a inteligência artificial busca eliminar qualquer forma de atrito, surge a questão crucial: como podemos cultivar laços verdadeiros em um ambiente moldado pela eficiência tecnológica? É em meio a essa corrida desenfreada pela automação, produtividade e pela praticidade que nasce um paradoxo: apesar da velocidade e eficiência, nossa essência humana anseia por algo mais profundo.. Somos seres que buscamos vínculos autênticos, mesmo em meio ao turbilhão de estímulos digitais.
Em um cenário onde a habilidade de formular as perguntas adequadas e direcionar prompts para a inteligência artificial são essenciais, a curiosidade emerge como o motor propulsor da autenticidade nas interações entre marcas e indivíduos, dentro do mundo real. Especialmente em um mundo repleto de estímulos. Estamos imersos em um oceano de mais de 5.000 estímulos diários de diversas marcas, mas apenas duas mensagens resistem à amnésia do dia seguinte, como apontou Raja Rajamannar, CMO da Mastercard, em sua palestra no evento. Mas, o que nos faz parar e realmente prestar atenção?
Em sua palestra sobre desbloquear a linguagem da conexão, Charles Duhigg, jornalista e autor do best seller “O poder do hábito”, ressaltou a importância de realizar perguntas com profundidade, para assim se conectar com as pessoas e entender o que elas querem com aquela conversa. No entanto, fazer as perguntas certas não é o suficiente. É preciso também provar que estamos de fato ouvindo e desejamos nos conectar. Essa é a chave da supercomunicação, como ele mesmo definiu.
Isso não se aplica apenas às interações interpessoais, mas também ao universo das marcas. Neste contexto, explorar a relação humana em um mundo sem fricção é um desafio contínuo para as empresas. Ao abraçar esse paradoxo e priorizar a autenticidade e a atenção genuína, as marcas podem se destacar em um cenário saturado de estímulos e construir relações significativas que transcendem o digital e ressoam profundamente com o coração humano.
O caminho das pedras foi dado: o equilíbrio. A inteligência artificial busca eliminar fricções, mas não devemos esquecer que são essas mesmas fricções que nos tornam humanos e acendem essa valorosa conexão humana. Esses são os pilares que sustentam não apenas as relações interpessoais, mas também o sucesso das marcas em um mercado saturado de estímulos.
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