SXSW viaja fundo no tema psicodélico
Curadores do evento este ano espalharam mais de uma dezena de palestras e painéis com temas correlatos à psicodelia por toda a programação 2024
Curadores do evento este ano espalharam mais de uma dezena de palestras e painéis com temas correlatos à psicodelia por toda a programação 2024
10 de março de 2024 - 20h48
Os curadores do evento este ano espalharam mais de uma dezena de palestras e painéis com temas correlatos à psicodelia por toda a programação 2024, basicamente unindo as pesquisas agora científicas de cura através da terapêutica com drogas psicoativas, como o LSD, psilocibina e DMT, entre outras, com outras áreas do conhecimento humano, como a tecnologia, a criatividade e as artes, ou com a espiritualidade, o misticismo e a religião.
Os organizadores do SXSW fizeram isso não só porque há anos vem deixando clara sua posição favorável a discussão do assunto, assim como, bons curadores que são, sabem que não poderiam deixar de fora tema quente que mobiliza hoje camadas cada vez maiores da sociedade, envolvendo aí desde pesquisadores, cientistas e acadêmicos, como também laboratórios e até mesmo investidores (o setor deverá se transformar em um dos grandes catalisadores de aportes financeiros nos próximos anos). Além de todos nós, cidadãos, evidentemente.
Tudo isso porque as pesquisas em laboratório e experimentos práticos cotidianos na vida real já demonstraram que os psicodélicos têm o potencial de tratar ansiedade e depressão (ketamina é a droga em maior uso hoje nesses casos), a PTSD ou Post-traumatic stress disorder (que tem tido no MDMA/methylenedioxymethamphetamine, popularmente conhecido por seu nome de mercado, Ecstasy, um forte aliado no seu tratamento), além da adição e do vício. Sendo que trauma e dependência caminham extremamente juntas, mostram os mesmos estudos.
O FDA dos Estados Unidos deve aprovar uma legislação federal sobre tudo isso ainda este ano (há já inúmeras liberações funcionando em vários estados do País). Algumas nações do mundo como Costa Rica, Jamaica e Austrália já têm legislações de liberação ativas.
Os temas de todos esses debates no evento gravitam em torno de modelos e métodos de tratamento, passam pela urgência da necessidade de informação e educação, orientando a sociedade sobre tudo isso, além, é claro, da implementação da regulamentação em si.
Aqui fora, discutem-se adicionalmente as chamadas drogas da floresta, como o Ayahuasca, a Iboga e a Psilocibina (cogumelo), todas tendo demonstrado igualmente eficiência tanto na ativação de mecanismos de cura, como de ampliação de experiências místicas xamânicas (em que somos conectados mais diretamente ao nosso âmbito espiritual).
Em seu livro The Myth of Normal, o autor Daniel Maté (médico psicoterapeuta e autor húgaro canadense), uma das grandes personalidades globais no âmbito de todas essas pesquisas, concorda com Caetano Veloso na constatação de que, de perto, ninguém é normal (como deixa claro o título de um de seus livros, best seller do NYT). A obra analisa a relação entre trauma e inúmeros distúrbios de saúde.
Para ele, o critério de normalidade foi pro saco no âmbito psicológico, mental e espiritual faz algum tempo. E os chamados males modernos como ansiedade, depressão e dependência deveriam estar entre os mais relevantes a serem tratados, uma vez que são, em verdade, causa muitas vezes escondida de uma série enorme de outras doenças e disfunções da saúde.
Mas seu principal alerta é o de que não são exatamente só as pessoas que estão doentes, é toda a sociedade, impregnada pelo que classifica como “toxic culture”.
Para o SXSW nada disso é exatamente novo, mas este ano, o volume de palestras sobre todos esses temas aumentou evidentemente. Idem o interesse dos participantes do evento.
Loucura, gente!
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