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Talento

Para fora do guarda-roupa

“O tempo joga muito a favor nesse caso da construção de uma carreira”, afirma Ana Luiza McLaren, do Enjoei


28 de maio de 2021 - 20h00

Ana Luiza McLaren foi uma das selecionadas na primeira edição do projeto 30 Under 30, de Meio & Mensagem, em 2008, quando tinha apenas 26 anos. Na época, a profissional se destacava pelo conhecimento sobre internet, e-commerce e digital, e ocupava o cargo de gerente de e-business do iG. No ano seguinte, a publicitária fundou junto com o marido Tiê Lima o blog Enjoei, brechó online onde os clientes compram e vendem itens usados. Além do investimento de sócios como o Grupo Globo, que aplicou R$ 22 milhões no negócio em dezembro de 2018, a loja online abriu capital na bolsa em novembro de 2020. Atualmente, possui mais de 683 mil vendedores e 790 mil compradores ativos, 5,7 milhões de downloads do aplicativo e registrou 156 milhões de visitas, 3,8 milhões de itens publicados e volume bruto de vendas de R$ 172 milhões (alta de 104%) no primeiro trimestre deste ano.

Ana Luiza McLaren, fundadora do Enjoei (crédito: Germano Lüders)

Meio & Mensagem — Como surgiu a ideia de criação da Enjoei?
Ana Luiza McLaren — Estava lá no iG, um pouquinho depois dessa matéria do 30 Under 30. Fiquei por muitos anos no varejo, trabalhei na Americanas.com, no Shoptime, então, sabia fazer varejo online e o que observava é que ele era muito parecido em todos os lugares. Víamos máquina de lavar, geladeira, impressora, tudo para vender, mas as coisas bonitas e que proporcionassem uma navegação muito gostosa na internet não existiam naquela época. Olhava esse segmento não explorado e ficava uma vontade de fazer alguma coisa mais legal até para nós mesmos, de um ponto de vista de usuário. Nós tentamos primeiro fazer uma loja que se chamaria Balú, onde compraríamos estoque e depois venderíamos, mas não fizemos porque não queríamos exatamente isso. Poxa, estamos trabalhando, nos esforçando, vamos pegar o salário e colocar em estoque? Então, em um dia qualquer, abrimos o armário e pensamos: “vamos vender”. Aí começamos a vender roupas de um jeito que já era aberto para que todo mundo vendesse também. É um mínimo produto viável e, no fim das contas, virou um marketplace.

M&M — Quais foram os principais desafios para iniciar e tocar o empreendimento?
Ana Luiza — Tudo é muito desafiador, mas, no início, não tinha esse tom de desafio porque íamos fazer algo que adorávamos. Embora tudo seja muito desafiador, nós não vemos dessa forma, como se fosse um problema. Mas os desafios são inúmeros, por exemplo, a partir do momento em que o blog foi para o ar e a demanda foi muito maior do que poderíamos imaginar, tivemos que contratar pessoas de uma forma descentralizada para conseguir endereçar a demanda desses clientes, compradores e vendedores. Na jornada da construção de uma empresa, nós temos muito mais do que um desafio por dia, mas se formos olhar com esse viés do desafio, não saímos do lugar.

M&M — Quais são os planos para o futuro do Enjoei?
Ana Luiza — Muitos! O Enjoei começou vendendo coisa usadas, mas o nosso entendimento é que o futuro do consumo não passa mais por uma decisão de se é novo ou se é usado. O cliente não vai mais pensar sobre isso, tanto faz se é novo ou usado. Queremos ter uma plataforma em que a pessoa não pense mais, que ela não tenha uma barreira e nem eventualmente uma crítica a respeito de “eu não vou comprar essa blusa porque ela é usada”. Ali você encontrará de tudo e a ideia é que consigamos levar para o usuário tudo o que é mais legal, o que é melhor para ele, o que ele possa comprar, com um ticket médio que possa pagar e que fique igualmente satisfeito, tanto faz de onde vem ou para que tipo de cliente. É uma moda mais legal e um consumo mais moderno. O usuário se convence, realmente se transforma a partir do momento que experimenta e adora. Você se transformará a partir do momento em que comprar e não ver diferença de outras peças. A nossa proposta de transformação passa por essa experiência de satisfação.

M&M — Como se deu a aproximação com o Grupo Globo?
Ana Luiza — A Globo tem um braço que se chama Globo Ventures, que investe em companhias que eles entendem que têm muito potencial e podem ser potencializadas se tiverem exposição na mídia. Eles fazem investimento e, em contrapartida, geram dinheiro e mídia. No caso do Enjoei, eles vieram nos procurar. Nós sempre quisemos ter um dinheiro grande para investir na televisão. Aí nos tornamos sócios e somos até hoje. Tenho muito orgulho de ter sócios do tamanho do Grupo Globo, o que, obviamente, ajuda bastante.

M&M — O que a parceria agregou ao negócio?
Ana Luiza — Diria que o mesmo que todos os nossos investidores. Não tem só a Globo de investidor, tem outros tantos. Além de trazerem capital para dentro da companhia, o que é muito bom para desenvolvermos o que precisamos, cada um tem uma especificidade. Temos um investidor americano da época em que a companhia era fechada e dava uma perspectiva muito grande do resto do mundo, investidores mais regionais nos ajudando a navegar em um ambiente de startup no Brasil. Cada investidor traz um ângulo para o negócio. E o da Globo foi muito interessante porque trouxe para nós essa possibilidade de explorar a mídia off-line de uma maneira que não tínhamos feito antes.

M&M — O que mudou na profissional que saiu na lista do 30 Under 30, em 2008, com 26 anos, para a de agora? Quais foram os maiores aprendizados?
Ana Luiza — Acho que o tempo é uma coisa muito boa, ajuda muito o amadurecimento de forma geral. Até li a matéria de 2008 e percebi que continuo concordando comigo, com o que falei naquela época. O amadurecimento, de forma geral, como indivíduo, ser humano. E aí, obvia mente, isso se repetirá na maneira como você lidará com a empresa, como você irá gerir seu time. O tempo joga muito a favor nesse caso da construção de uma carreira.

M&M — Que dica você diria para os próximos profissionais 30 Under 30?
Ana Luiza — Acho que é muito especial essa fase da vida porque temos uma vontade enorme de mudar o mundo e, talvez, continuar querendo mudar o mundo. Isso é uma coisa que efetivamente transforma e tem muitas pessoas que às vezes têm me nos energia e falam “nossa, você es tá querendo mudar o mundo?”, mas sou assim, acho que isso é legal. Posso dizer que vale a pena ter essa força de querer, de fazer diferente por que dá certo.

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