A tripla invisibilidade de mulheres trans e lésbicas

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Opinião

A tripla invisibilidade de mulheres trans e lésbicas

Pessoas trans se deparam com uma jornada de exclusões que começa na infância. Se pensarmos em mulheres trans, há uma camada adicional de complexidade a essa conversa


18 de janeiro de 2024 - 15h15

(Crédito: Mary Long/Shutterstock)

Janeiro é tido por muitas pessoas como o mês da visibilidade trans e travesti. É assim porque, há exatos 20 anos, foi lançada a campanha “Travesti e Respeito”, em Brasília. Esse ato aconteceu no Congresso Nacional e foi um grande marco no reconhecimento dos direitos da população trans, em especial das pessoas transfemininas. O acontecimento foi tão importante que, desde então, o dia 29 do primeiro mês do ano é lembrado como uma data para celebrar conquistas e olhar para os desafios da nossa comunidade. Desafios esses que não são poucos.

Pessoas trans se deparam com uma jornada de exclusões que começa na infância e perdura durante toda a vida adulta. Estudos, como o National Transgender Discrimination Survey, têm apontado que crianças e adolescentes transgênero tendem a deixar os seus lares mais cedo, por conta da não aceitação de suas famílias. Sem apoio em seus próprios lares, esses jovens também se deparam com o bullying LGBTfóbico no ambiente educacional. Sem o apoio familiar e com barreiras no acesso à educação, acabam tendo dificuldades adicionais para ingressar no mercado de trabalho formal e no acesso a outros direitos básicos.

Se pensarmos em mulheres trans, temos que considerar uma camada adicional de complexidade a essa conversa. Por definição, misoginia é um tipo de opressão direcionada ao público feminino. No caso de mulheres trans ou travestis, isso se reflete na objetificação e outros tipos de estigmatização. Em caráter de referência, relatórios recentes indicam que o Brasil é um dos lugares onde mais se consome conteúdo adulto com mulheres trans. Ou seja, só se lembram de nós quando o assunto é erotização.

Mas não paramos por aí. Como um terceiro aspecto que podemos abordar, há a confusão entre identidade de gênero e orientação sexual. O primeiro conceito diz respeito a como alguém se vê (como uma mulher, por exemplo). O segundo está relacionado à direção que caminha o afeto da pessoa (ela pode se atrair por outra mulher). Por mais que a sociedade espere que essas duas dimensões sejam interdependentes, elas não são.

No meu caso, a falta de uma representatividade trans e lésbica foi um grande desafio para que eu pudesse me entender. Lembro-me de ouvir, aos 13 anos, a banda ​​t.A.T.u., em seu sucesso All About Us, e ficar muito confusa. Eu não sabia se sentia atração por elas ou se me sentia como uma delas. Como eu poderia saber quem era se eu não tinha notícias de ninguém parecido comigo?

Hoje o cenário é ligeiramente diferente. Uma personalidade de bastante destaque, que também se identifica como mulher trans e lésbica, é a deputada Duda Salabert. Em entrevista recente a um portal online, a parlamentar de Minas Gerais disse o seguinte: “Nunca fui um homem. Buscava uma identidade no campo da masculinidade e não me encaixava em nenhuma delas. Como associava gênero à sexualidade, eu sempre me questionei se eu era gay, mas nunca senti atração por homens”.

Nas redes sociais, a discussão sobre esse tema ainda caminha de maneira tímida. Uma das poucas influenciadoras que fala sobre o assunto é a YouTuber e instagramer Natália Rosa. Mesmo abordando o tema da transgeneridade lésbica de maneira leve, Natália costuma receber comentários negativos e que invalidam a sua identidade. Muitas dessas reações surgem da própria comunidade LGBTI+.

Tanto Duda como Natália nos mostram como o preconceito pode se configurar em diferentes camadas. A transfobia, misoginia e lesbofobia infelizmente ainda são uma realidade que precisamos superar.

Independentemente da visão de mundo de cada um, o princípio básico que deve nortear nossas relações é o respeito. E para respeitar, precisamos conhecer. Por esse motivo, é tão importante que possamos levantar essa discussão e dar visibilidade para esse assunto. Nesse sentido, gostaria de finalizar o texto listando alguns perfis de mulheres trans que amam outras mulheres.

Duda Salabert (professora e política)

Natália Rosa (criadora de conteúdo)

Márcia Rocha (empresária, advogada e conselheira)

Luiza Marchiori (criadora de conteúdo)

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