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Como a pandemia afeta a economia do cuidado

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Como a pandemia afeta a economia do cuidado

Profissionais de comunicação, economia e de agências debateram modelos de trabalho e adequação a realidades diversas


13 de abril de 2022 - 19h33

Com a retomada do trabalho presencial ou híbrido, novidades diversas já pautam o mercado de trabalho, como a criação de escritório no metaverso, por exemplo, mas há questões que ainda devem ser tratadas para a evolução do mercado de uma forma global e tridimensional, abraçando os diferentes gêneros, raças e demais minorias políticas.

O período de reclusão por conta da pandemia da Covid-19 gerou reflexões na massa de trabalhadores, incluindo grande renúncia de alguns para seguir outras profissões, o que Andrea Bisker classifica como economia da paixão. A CEO e fundadora da Spark:off, que esteve no painel “Economia do cuidado: visibilizar o invisível” com Tulio Custodio, sócio e curador de conteúdo da Inesplorato.

 

Tulio Custodio, sócio e curador de conteúdo da Inesplorato, e Andrea Bisker, CEO e fundadora da Spark (Crédito: Gustavo Scarena/Imagem Paulista)

Para ela, há algumas tendências despontando na volta do trabalho como híbrido ou presencial, como um estilo de liderança mais focado em empatia, compaixão e normatização da vulnerabilidade; o incentivo das empresas ao life-long learning; a tecnologia como possibilitadora de modelos de trabalho flexíveis, síncronos e assíncronos; aumento da discussão da pauta de diversidade e inclusão; e um maior foco na retenção de talentos, incluindo esforços na saúde psicológica do colaborador, criando um ambiente onde eles possam exercer suas paixões.

“Mais do que segurança psicológica, precisamos de um contrato psicológico. Você dá seu conhecimento e energia, e a empresa devolve com mais conhecimento e energia propulsora. Podemos evoluir num ciclo vicioso”, sugeriu.
Um entrave é a frequente “uberização” do mercado de trabalho, um modelo em que o profissional se autogerencia, tem um aumento da carga horária não recompensando a quantidade de horas adequadas para o sono e lazer e acaba precarizando suas condições de vida.

“Grande parte dessa precarização atinge as mulheres, pessoas negras, periféricas, que estão na ponta de estoque da sociedade e que não são vistos como desejáveis, mas são a frente de trabalho. Estamos no começo porque é um movimento que tende a envolver todos nós. Discutir sobre CLT não é discutir sobre formalização do trabalho e sim sobre as condições mínimas para cuidar, nos cuidar e reproduzir as condições básicas para nós sobrevivermos”, argumentou Tulio Custodio.

A ideia da flexibilização ocorre há algum tempo, por pelo menos 50 anos, indicou Túlio. O século XX representou uma indústria mais restrita e a propagação da ideia do modelo de oito horas de trabalho, oito horas de sono e oito horas de lazer começou teve impulso nos anos 1970. Porém, a flexibilização em voga atualmente não é o ideal. Profissionais envolvidos não só no trabalho convencional, mas no trabalho do cuidado — seja da casa ou de parentes –, emocional e de afeto obteve uma carga mais intensa. Nesse sentido, ainda é necessário questionar esteriótipos de gênero e raça.

“O tempo começou a ser embaralhado. Não é à toa que gênero, propósito, diversidade e inclusão são os temas no centro dessa transformação. Ainda vamos passar bastante tempo falando sobre isso”, colocou. Para Andrea, a inclusão, para fazer sentido, deve ser feita com contas de matemática, cedendo espaços e dividindo tarefas.

Economia do cuidado
A economia do cuidado foi o assunto que pautou outro painel do Summit, que teve como entrevistadas Luiza Nassif Pires, pesquisadora associada do MADE-USP e Research Scholar do Levy Economics Institute of Bard College, e Maíra Liguori, sócia diretora da Think Eva e Think Olga.

 

Luiza Nassif Pires, pesquisadora associada do MADE-USP e Research Scholar do Levy Economics Institute of Bard College, e Maíra Liguori, sócia diretora da Think Eva e Think Olga (Crédito: Gustavo Scarena/Imagem Paulista)

Segundo as painelistas, a economia do cuidado ganhou força na pandemia, porque não houve separação entre os esforços dedicados ao trabalho convencional, físico, mental e emocional, com o agravante de que a rede de apoio ficou mais distante. “O cuidado se tornou central em nossas vidas a partir do momento em que ele se torna preponderante na pandemia e não dissipado e distribuído na rotina da vida”, contou Maíra.

Porém, essa economia existe muito antes disso. O cuidado é uma atividade que pode ser remunerada (em empregos como de babá, empregados domésticos e ligados à saúde) ou não remunerado, no trabalho extra de pais, por exemplo.

O exercício do cuidado é um dos maiores agravantes da desigualdade de gênero no País e esbarra na desigualdade de raça, já que a maioria dos empregados domésticos são negros, disse a executiva do Think Olga. Segundo ela, as mulheres dedicam 61 horas semanais para o cuidado.

“Em dados de vários países em que homens desempregados cumprem menos funções dentro do lar do que os empregados. Há toda uma questão de redistribuição que passa pela mudança de gênero também”, contribui Andrea. Conforme dados da Oxfam, a economia do cuidado seria a quarta maior economia do mundo, caso fosse um país, e representa 11% do PIB do Brasil.

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